São Paulo, segunda-feira, 02 de abril de 2007

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SP desativa seu Quarteto de Cordas

Pivô foi concerto programado no fim do ano passado, sem autorização de Jamil Maluf, diretor artístico do Municipal

O secretário municipal da Cultura, Carlos Augusto Calil, diz que apuração traz indícios de uso indevido do nome do quarteto

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Foi repentinamente desativado pela prefeitura o Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo, um dos corpos estáveis do Teatro Municipal. Os contratos dos violinistas Betina Stegmann e Nelson Rios e do violoncelista Roberto Suetholz não foram renovados.
O violista Marcelo Jaffé, único do grupo que é servidor estatutário, é objeto de procedimento administrativo na Secretaria de Negócios Jurídicos, segundo despacho publicado no último dia 24 pelo "Diário Oficial da Cidade de São Paulo".
O pivô do litígio foi um concerto programado para o Clube Pinheiros em 10 de novembro do ano passado, sem a autorização do maestro Jamil Maluf, diretor artístico do Municipal. A apresentação não chegou a ocorrer. Mas foi aberta sindicância porque, mesmo afirmando não o terem autorizado, os músicos foram designados no material de divulgação como integrantes do quarteto.
O grupo apenas pode se apresentar com sua designação em concertos autorizados ou da programação oficial.
O secretário municipal da Cultura, Carlos Augusto Calil, disse à Folha que a apuração preliminar, feita por sua secretaria, apontou indícios de uso indevido do nome do quarteto.
Calil insiste não estar em jogo a avaliação do desempenho artístico dos dois violinistas, do violista e do violoncelista. E disse não caber a ele a decisão de punição, o que é atribuição de uma outra secretaria, justamente a de Negócios Jurídicos.
Criado em 1935 por Mário de Andrade, então chefe do Departamento de Cultura do município, o Quarteto foi bem mais que a soma do talento individual dos integrantes. Tratava-se de conjunto que "funcionava" muito bem, por meio de afinidades artísticas e pessoais. A atual formação levou os prêmios Carlos Gomes e APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte). O repertório tinha cerca de 150 peças mostradas nos últimos cinco anos.
Procurado na última sexta, o violista Marcelo Jaffé disse que, como servidor público, não pode se manifestar sobre atos da administração. Calil afirmou que os músicos podem até ser recontratados, caso o processo administrativo demonstre que tudo não passou de um mal-entendido.
Não sendo o caso, será aberto concurso para o preenchimento das quatro vagas, possivelmente já com o Teatro Municipal transformado em fundação -projeto a ser desencadeado no segundo semestre deste ano, e pelo qual todas as vagas dos atuais corpos estáveis serão objeto de concurso.
Um músico da Orquestra Sinfônica Municipal disse à Folha -sem querer ser identificado- que o Quarteto da Cidade se tornara uma espécie de "patinho feio" dos corpos estáveis, com a perda de espaço na programação do Municipal.
O imbróglio poderia ser evitado, disse outro instrumentista, caso houvesse uma estrutura administrativa que tirasse do quarteto a necessidade de se tornar despachante dos compromissos extra-agenda.

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