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SP desativa seu Quarteto de Cordas
Pivô foi concerto programado no fim do ano passado, sem autorização de Jamil Maluf, diretor artístico do Municipal
O secretário municipal da Cultura, Carlos Augusto Calil, diz que apuração
traz indícios de uso indevido do nome do quarteto
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
Foi repentinamente desativado pela prefeitura o Quarteto
de Cordas da Cidade de São
Paulo, um dos corpos estáveis
do Teatro Municipal. Os contratos dos violinistas Betina
Stegmann e Nelson Rios e do
violoncelista Roberto Suetholz
não foram renovados.
O violista Marcelo Jaffé, único do grupo que é servidor estatutário, é objeto de procedimento administrativo na Secretaria de Negócios Jurídicos,
segundo despacho publicado
no último dia 24 pelo "Diário
Oficial da Cidade de São Paulo".
O pivô do litígio foi um concerto programado para o Clube
Pinheiros em 10 de novembro
do ano passado, sem a autorização do maestro Jamil Maluf, diretor artístico do Municipal. A
apresentação não chegou a
ocorrer. Mas foi aberta sindicância porque, mesmo afirmando não o terem autorizado,
os músicos foram designados
no material de divulgação como integrantes do quarteto.
O grupo apenas pode se apresentar com sua designação em
concertos autorizados ou da
programação oficial.
O secretário municipal da
Cultura, Carlos Augusto Calil,
disse à Folha que a apuração
preliminar, feita por sua secretaria, apontou indícios de uso
indevido do nome do quarteto.
Calil insiste não estar em jogo a avaliação do desempenho
artístico dos dois violinistas, do
violista e do violoncelista. E
disse não caber a ele a decisão
de punição, o que é atribuição
de uma outra secretaria, justamente a de Negócios Jurídicos.
Criado em 1935 por Mário de
Andrade, então chefe do Departamento de Cultura do município, o Quarteto foi bem
mais que a soma do talento individual dos integrantes. Tratava-se de conjunto que "funcionava" muito bem, por meio
de afinidades artísticas e pessoais. A atual formação levou
os prêmios Carlos Gomes e APCA (Associação Paulista dos
Críticos de Arte). O repertório
tinha cerca de 150 peças mostradas nos últimos cinco anos.
Procurado na última sexta, o
violista Marcelo Jaffé disse
que, como servidor público,
não pode se manifestar sobre
atos da administração. Calil
afirmou que os músicos podem
até ser recontratados, caso o
processo administrativo demonstre que tudo não passou
de um mal-entendido.
Não sendo o caso, será aberto
concurso para o preenchimento das quatro vagas, possivelmente já com o Teatro Municipal transformado em fundação
-projeto a ser desencadeado
no segundo semestre deste
ano, e pelo qual todas as vagas
dos atuais corpos estáveis serão objeto de concurso.
Um músico da Orquestra
Sinfônica Municipal disse à
Folha -sem querer ser identificado- que o Quarteto da Cidade se tornara uma espécie de
"patinho feio" dos corpos estáveis, com a perda de espaço na
programação do Municipal.
O imbróglio poderia ser evitado, disse outro instrumentista, caso houvesse uma estrutura administrativa que tirasse do
quarteto a necessidade de se
tornar despachante dos compromissos extra-agenda.
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