São Paulo, quinta-feira, 02 de abril de 2009

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Lições de Wesley

Mostra em SP revive clima do ateliê em que Wesley Duke Lee, um dos mestres do pop no país, deu aulas a Carlos Fajardo, Frederico Nasser, José Resende e Luiz Baravelli

Filipe Redondo/Folha Imagem
Tela ‘A Zona: Ed y Mundus’ (1967), de Wesley Duke Lee, artista central da mostra aberta hoje pelo Maria Antonia, em SP

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Na manhã seguinte ao primeiro "happening" na história da arte brasileira, Carlos Fajardo acordou cedo para prestar vestibular. Fez a prova pensando nas penas de galinha, bolhas de sabão e nas obras eróticas que Wesley Duke Lee mostrou no João Sebastião Bar. Meses depois, Fajardo passaria a frequentar, como aluno, o ateliê do mestre do pop no país. José Resende, Frederico Nasser e Luiz Paulo Baravelli também participavam dos encontros, que foram de 1963 a 1968. "No primeiro dia, ele explicou a obra do Marcel Duchamp", lembra Fajardo, 67. As lições de Duke Lee aos quatro artistas são mote da mostra que o Centro Universitário Maria Antonia abre hoje, tentativa de reviver o clima do ateliê em que cinco dos nomes mais relevantes da cena brasileira trabalharam lado a lado. "O Wesley era um difusor de informação fina sobre arte contemporânea aqui em São Paulo", afirma João Bandeira, 48, um dos curadores da mostra. "Era antenadíssimo, foi o cara que colocou as coisas na roda." Hoje aos 77, Duke Lee briga com o mal de Alzheimer e costuma esquecer boa parte dessa história. Mas há 40 anos, depois de viver na Europa, onde viajou de Vespa até a Suécia para encontrar o cineasta Ingmar Bergman, e se formar em Nova York, onde conheceu Duchamp, ajudou a atualizar a arte contemporânea no Brasil. Fundou, com Geraldo de Barros, Nelson Leiner, Fajardo e José Resende, o anárquico grupo Rex, um ponto de partida para a retomada da figuração e a vertente brasileira da pop art.

Desenho expandido
"O que orientava tudo era uma proposta de desenho", diz Bandeira. "Eles queriam uma noção expandida de desenho." De fato, as linhas de Duke Lee ganham corpo e transbordam para outros materiais, reaparecem também nas paisagens de Baravelli, na estrutura lúdica que Nasser conferiu a seus quadros e nas releituras e esboços de Fajardo e Resende. "O ponto de partida de tudo que ele fez era o desenho", diz Fajardo, que reinterpretou uma tela erótica de Duke Lee. No lugar do nu frontal claro e direto do original, Fajardo transforma o corpo em paisagem mecânica, como as engrenagens que Duchamp fez em "O Grande Vidro" e chamou de noiva e seus pretendentes. Resende se liga menos às ideias e mais ao corpo. Noutro eco do nu "Preparation Drawing for Drawing (10)", de Duke Lee, ele monta em "Eu, Ela, Ela, Ela e Ela" um políptico de mulheres nuas, estampando a própria mão sobre o quadro. "É um erotismo mais tátil", diz Rafael Vogt Maia Rosa, 34, outro curador da mostra. "Ele é menos ligado à figuração, usa o corpo como ferramenta." Da mesma forma que Duke Lee usou o corpo como estratégia. Um dos quadros da polêmica série erótica "Ligas", recusada pela Bienal de São Paulo, em 1961, mas presente no famoso "happening" do bar na Major Sertório, está na mostra, escondido numa sala de trás, sob a luz de uma lanterna -do jeito que estava quando tudo começou.


Colaborou MARIO GIOIA , da Reportagem Local DUKE LEE, BARAVELLI, FAJARDO, NASSER, RESENDE
Quando: abertura hoje, às 20h; de ter. a sex., das 12h às 21h; sáb. e dom., das 10h às 18h; até 31/5 Onde: Maria Antonia (r. Maria Antonia, 294, tel. 0/xx/11/3255-7182); livre
Quanto: entrada franca


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