São Paulo, domingo, 02 de maio de 2004

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Após fase difícil, Globo consegue sucesso simultâneo de suas três novelas

A revanche do novelão

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A direção da TV Globo está andando nas nuvens. Após um longo período de desencontros no Ibope, finalmente as novelas das seis, das sete e das oito fizeram sucesso simultaneamente.
O êxito de audiência e repercussão de "Celebridade", "Da Cor do Pecado" e "Chocolate com Pimenta" pôs fim -ao menos por ora- a discussões sobre um possível esgotamento dos folhetins.
O tema, fortalecido pelo "boom" dos "reality shows", chegou a ser debatido em reuniões de autores da emissora. Não seria um gênero muito velho para uma TV tão novidadeira? Será melhor mudar completamente, quem sabe misturar realidade com ficção?
Não, concluiu a Globo. E ainda: quanto mais folhetinesca for a história -com mocinhos, vilões, intrigas e romances-, melhor.
A das oito foi a única que não viveu uma crise de identidade. Fora alguns fracassos pontuais, como "Esperança" (2002), o horário manteve-se forte, mesmo variando do "novelão" de Glória Perez ("O Clone") e Gilberto Braga ("Celebridade") -no qual os personagens fazem as coisas mais inverossímeis do mundo- ao "realismo" de Manoel Carlos ("Mulheres Apaixonadas").
Mas a faixa das seis e sete deu um nó nas convicções da Globo. Um dos fatores da crise, o estouro do mundo cão -com policiais como "Cidade Alerta"- virou a cabeça do telespectador, e a Globo não achava o tom da reação.


Folhetim clássico derruba mundo cão das outras TVs para especialistas, a emissora não tem concorrência

Às sete, tentou-se até o uso da violência fictícia contra a real, em "Desejos de Mulher" (2002). Tiro n'água. Em 2003 "Kubanacan" levantou o Ibope, mas as brigas e os peitos nus não repercutiram bem.
Só "Da Cor do Pecado", com a primeira protagonista negra da história da Globo, fez as pazes com os direitos humanos e explodiu no Ibope. Até agora (80 capítulos), registra 41 pontos de média (veja quadro ao lado).
"Da Cor" tem edição moderna, humor e núcleo teen. Mas o eixo é o folhetim, com amores e desencontros. "Chocolate", das seis, também emplacou com comédia, na contramão da violência policial do horário (leia à pág. E3).
Além de seus acertos, a Globo conta com os erros das adversárias. "Metamorphoses" (Record), que patina no Ibope, é exemplo da dificuldade das concorrentes.
"Hoje os adversários são mais fracos porque a Globo dominou o mercado a partir dos anos 70", diz a antropóloga Maria Celeste Mira, autora de "A Deusa Ferida", sobre a queda de audiência da Globo.
Com ela concorda Moacyr Góes, ex-diretor de novelas globais que, atualmente, dirige filmes de grandes bilheterias, como os de Xuxa e padre Marcelo Rossi.
"A Globo não tem concorrência sólida, precisa lidar apenas com alguns sucessos pontuais, como o Ratinho e os policiais", afirma.
Para Marlene Mattos, ex-Globo e atual diretora artística da Band, a "vaidade" atrapalha as outras TVs na produção de novelas. "As pessoas muitas vezes não admitem a inexperiência. Aí acontece o que a gente vê por aí."
O consultor de mídia Antonio Rosa Neto, ombudsman comercial do SBT há uma semana, diz que a concorrência da Globo precisa aprender a usar a pesquisa para a programação. "Elas a utilizam mais na área comercial."
O publicitário Eduardo Fischer diz que o erro de algumas TVs é não manter a programação na crise. "A Globo manteve as novelas até a má fase passar, um bom sinal para o mercado e o espectador."


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