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Quem tem medo de fila comprida?
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
O paulistano já até se acostumou: é fila no banco, fila no cinema, fila na descida para a praia.
Então quem é que iria reclamar de
uma espera de "duas horinhas"
para ver as obras de Picasso?
"Eu fico aqui até quatro horas,
se precisar", garantiu a ajudante
de cozinha Denilza Mendonça,
27, que aproveitava o último feriado de Tiradentes para visitar a exposição na Oca. Já passava das 14h
e Mendonça, seu irmão e a namorada, que haviam vindo de Itaquera, por volta das 12h, ainda estavam a pelo menos 50 pessoas da
entrada. "Adoro Picasso", afirmava eufórica, como se estivesse
prestes a conhecer um artista pop.
A professora de Cosmópolis Sônia de Siqueira, 42, também não
se impressionou com a fila, que
desde as 11h começava a contornar a marquise do Ibirapuera.
"Vim pela curiosidade em conhecer. Já que venho de longe, vale esperar, né?", disse ela, que estava
com um grupo de amigas, entre
elas a secretária-executiva Dalva
Maciel, 37. "Acho que desta vez
vou conseguir. Tentei vir outras
vezes, mas desisti por causa do tamanho da fila", contou Maciel.
Grupos do interior e até de outros Estados não são difíceis de
encontrar. A fisioterapeuta Lilian
Reis, 40, veio com toda a família
de Campinas, incluindo as meninas Natalia, 14, e Maysa, 10. "No
ano passado a gente fez um trabalho da fase cubista [de Picasso] na
escola", contou Maysa, que, enquanto esperava o tempo passar,
já tinha ido à lanchonete, comprado uma bola de borracha e alguns
gibis para ler na fila.
Apesar da média alta de visitações por dia -cerca de 7.000 pessoas-, a ambulante Maria das
Graças, 55, que há 20 trabalha no
parque Ibirapuera, não se mostrava tão empolgada com o movimento. "Ninguém compra nada.
Só perguntam: tia, quanto é o refrigerante? E vão embora. A exposição da China é que foi boa."
Já que está por ali mesmo, não
vale dar uma espiadinha na mostra de Picasso? "Ah, meu filho,
não vou gastar meus trocadinhos
só para ver um quadro. Um amigo me fez entrar na da China, mas
fiquei um pouco lá dentro e já saí
rapidinho", lembrou.
Inaugurada em janeiro passado,
"Picasso na Oca" já foi vista por
mais de 550 mil pessoas.
Diante da procura, a organização resolveu ampliar a exposição
até o próximo dia 13 de junho. De
acordo com a assessoria de imprensa da mostra, filas de até duas
horas e meia são normais em dias
de feriado e finais de semana.
A intenção, segundo eles, é limitar o número de visitantes dentro
do espaço expositivo para que a
espera se dê antes, e não durante a
visitação.
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