São Paulo, segunda-feira, 02 de maio de 2011

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ANÁLISE

Em grafites e música, egípcios deram recado revolucionário

SAMY ADGHIRNI
DE SÃO PAULO

A arte se instalou na praça Tahrir nos primeiros dias da revolta popular contra o ditador Hosni Mubarak. Cores, formas e sons ecoavam, ora com irreverência, ora com altivez, a mensagem revolucionária surgida principalmente nos meios urbanos de classe média. Todas as vias que desembocam na praça Tahrir, epicentro do levante, ostentavam grafites com mensagens antirregime. Boa parte eram rabiscos simplórios, reflexo de um país com pouca tradição de cultura underground. Mais sofisticadas eram as caricaturas dos figurões do regime pintadas em cartazes de papelão, onipresentes na praça. Décadas de repressão deram aos egípcios um aguçado sentido de ironia. Quando a poeira baixava, entre um enfrentamento e outro com os pró-Mubarak, Tahrir se tornava um imenso palco de música a céu aberto. Numa das madrugadas que antecederam a queda do ditador, a Folha viu, praticamente lado ao lado, muçulmanos idosos entoando mantras tradicionais, jovens em rodinha de violão e cabeludos cantando reggae. Como se a inversão de papéis reforçasse a mensagem, a arte na praça era quase toda feita por anônimos, enquanto famosos se fundiam discretamente na multidão. O regime de Mubarak era autoritário e violento, mas nunca apontou para o mundo artístico como inimigo a ser abatido. Diferente do vizinho líbio Muammar Gaddafi, que aniquilou toda expressão independente. Muita gente na Líbia se ressente de não ter nenhum artista nacional para se orgulhar.

O jornalista SAMY ADGHIRNI esteve duas semanas no Cairo cobrindo a revolta contra o ditador Hosni Mubarak


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