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ANÁLISE
Maluf é mestre midiático perante câmeras
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
Ao participar no último
domingo do "Canal Livre",
na Bandeirantes, Paulo Maluf
mais uma vez demonstrou que é
um animal midiático. Dono de
um eleitorado em geral minoritário, mas fiel, Maluf possui o dom
de se inflamar perante as câmeras.
A capacidade maior ou menor
de performance televisiva depende de talento individual. Há evidências de que câmeras estimulam algumas pessoas a confessar
segredos íntimos.
Em outros casos, como parece
ser o do tradicional líder do PP
paulista, câmeras ensejam verdadeiras atuações dramáticas, mesmo que a situação seja a de "talk
show".
O ex-prefeito e ex-governador
Paulo Maluf é mestre na performance televisiva. Sua participação em um programa piloto do
genial "Fora do Ar" -quadro do
final dos anos 90, de Marcelo Tas
para o "Fantástico", que infeliz e
ironicamente não chegou a ser
aprovado para ir ao ar- é sugestiva.
Naquela ocasião, muito à vontade no estúdio, Maluf não se furtou, por exemplo, a revelar que lê
seus discursos no teleprompter.
Topou a brincadeira e se deixou
flagrar em posição de leitura. Foi
ele também que contratou Duda
Mendonça para fazer a campanha
que elegeu Celso Pitta.
Maluf busca agora manipular o
recurso que lhe é familiar para se
defender de acusações de corrupção e envio ilegal de dinheiro para
o exterior.
A tarefa não é fácil. O político
insistentemente confirma a sua
candidatura, procurando evitar a
situação acuada.
O embate no "Canal Livre" foi
quente. O programa foi ao vivo,
como que para garantir a ausência de manipulação, e teve a participação do primeiro time da
Band. A segurança de Fernando
Mitre e Carlos Nascimento não
abalou a confiança do acusado.
Surdo aos sinais dos tempos, ele
se apresenta como imigrante libanês, empresário bem-sucedido,
pai de família exemplar, governante pleno de realizações e projetos de futuro, além de réu inúmeras vezes absolvido.
Na estratégia de Maluf, defesa
judicial e campanha eleitoral se
tornaram parte de um mesmo pacote. Resta saber quais serão as
proporções de um eventual naufrágio.
Esther Hamburger é antropóloga e
professora da ECA-USP
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