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ARTES PLÁSTICAS
Artista português radicado no Brasil exibe obras em SP e no Rio e faz três mostras na Europa neste ano
Barrio leva arte infindável para galeria
TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL
Artur Barrio, 60, passou 2004
navegando. Com uma jangada
cearense, ele participou da 26ª
edição da Bienal de SP; e, com um
veleiro, viajou do Rio Grande do
Sul até Fernando de Noronha como capitão da embarcação.
No percurso, enfrentou tempestades, mergulhou entre os peixes
e idealizou parte do trabalho que
exibe na galeria Millan Antonio,
em São Paulo, a partir de hoje.
Apesar de, em princípio, defender a idéia de que o trabalho (ou
"situação" ou "momento", mas
nunca instalação) foi criado sem
pressuposto, ele lembra: "Para
mim, já houve o fim dessa história
de criar sem antecedentes".
É impossível para ele (e para toda a geração posterior à dele) ignorar a marca de suas intervenções na arte brasileira. Exemplo:
na coletiva "Do Corpo à Terra",
em Belo Horizonte, em 1970, ele
jogou trouxas com carne, ossos e
sangue em um rio.
Não apenas como crítica política, a obra de Barrio cravou na história a verve irônica contra o mercado e o circuito de arte. Chegamos, então, a uma contradição:
como o artista crítico ao sistema
se submete a ele numa galeria?
"A galeria ainda é um espaço
possível para o público. Não tenho nada contra. É algo que mantém as coisas vivas. Só não quero a
arte pela arte, a guerra pela guerra, a política pela política..." A
obra exposta não está à venda.
E nem poderia. Na montagem,
um aviso pregado na entrada da
galeria pedia para que ninguém
limpasse a sala de exposições. (Na
Bienal, a areia que circundava a
jangada foi varrida, contrariando
Barrio). Dentro do espaço, há goma indiana, substância ocre de aspecto flocoso, e café espalhados
pelo chão. Nas paredes, o artista
abriu buracos, amarrou barbantes, colou isopor, desenhou e gravou frases como: "Para quando
peixes no mar não mais houver".
Como será a sala depois de finalizada? "O nome já diz é [um trabalho] "Infindável'", responde. A
palavra está na parede onde acaba
a intervenção.
Barrio não trabalha em ateliês,
mas em cadernos nos quais condensa de forma poética-caótica
suas criações. Para a mostra, ele
esboçou um caderno de cerca de
30 cm por 20 cm com desenhos,
frases e fotos. O caderno pode ser
comprado por R$ 80 mil.
Na terça, Barrio abre no Rio outra mostra, "Diretrizes", na qual
apresenta fotos, panos e objetos,
todos inéditos, na galeria Arte 21.
Neste ano, o artista realiza ainda
três exposições na Europa. Na
Bélgica, ele aceitou o desafio de
dialogar com uma instalação do
papa da arte conceitual Joseph
Beuys (1921-1986), proposto pelo
Stedelijk Museum voor Actuele
Kunst. Na França, ele coloca outra
"situação" no Palais de Tokyo,
prestigiado museu de arte contemporânea de Paris, e monta
uma minirretrospectiva na FracPaca, museu de Marselha.
Artur Barrio
Quando: seg. a sex., das 10h às 19h, e
sáb., das 11h às 17h; até 1º/7
Onde: Millan Antonio (r. Fradique
Coutinho, 1.360, Vila Madalena, tel. 0/
xx/11/3031-6007)
Quanto: entrada franca; obras: R$ 20 mil
(transportáveis) a R$ 80 mil (caderno-livro)
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