São Paulo, quinta-feira, 02 de junho de 2005

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ARTES PLÁSTICAS

Artista português radicado no Brasil exibe obras em SP e no Rio e faz três mostras na Europa neste ano

Barrio leva arte infindável para galeria

TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL

Artur Barrio, 60, passou 2004 navegando. Com uma jangada cearense, ele participou da 26ª edição da Bienal de SP; e, com um veleiro, viajou do Rio Grande do Sul até Fernando de Noronha como capitão da embarcação.
No percurso, enfrentou tempestades, mergulhou entre os peixes e idealizou parte do trabalho que exibe na galeria Millan Antonio, em São Paulo, a partir de hoje.
Apesar de, em princípio, defender a idéia de que o trabalho (ou "situação" ou "momento", mas nunca instalação) foi criado sem pressuposto, ele lembra: "Para mim, já houve o fim dessa história de criar sem antecedentes".
É impossível para ele (e para toda a geração posterior à dele) ignorar a marca de suas intervenções na arte brasileira. Exemplo: na coletiva "Do Corpo à Terra", em Belo Horizonte, em 1970, ele jogou trouxas com carne, ossos e sangue em um rio.
Não apenas como crítica política, a obra de Barrio cravou na história a verve irônica contra o mercado e o circuito de arte. Chegamos, então, a uma contradição: como o artista crítico ao sistema se submete a ele numa galeria?
"A galeria ainda é um espaço possível para o público. Não tenho nada contra. É algo que mantém as coisas vivas. Só não quero a arte pela arte, a guerra pela guerra, a política pela política..." A obra exposta não está à venda.
E nem poderia. Na montagem, um aviso pregado na entrada da galeria pedia para que ninguém limpasse a sala de exposições. (Na Bienal, a areia que circundava a jangada foi varrida, contrariando Barrio). Dentro do espaço, há goma indiana, substância ocre de aspecto flocoso, e café espalhados pelo chão. Nas paredes, o artista abriu buracos, amarrou barbantes, colou isopor, desenhou e gravou frases como: "Para quando peixes no mar não mais houver".
Como será a sala depois de finalizada? "O nome já diz é [um trabalho] "Infindável'", responde. A palavra está na parede onde acaba a intervenção.
Barrio não trabalha em ateliês, mas em cadernos nos quais condensa de forma poética-caótica suas criações. Para a mostra, ele esboçou um caderno de cerca de 30 cm por 20 cm com desenhos, frases e fotos. O caderno pode ser comprado por R$ 80 mil.
Na terça, Barrio abre no Rio outra mostra, "Diretrizes", na qual apresenta fotos, panos e objetos, todos inéditos, na galeria Arte 21.
Neste ano, o artista realiza ainda três exposições na Europa. Na Bélgica, ele aceitou o desafio de dialogar com uma instalação do papa da arte conceitual Joseph Beuys (1921-1986), proposto pelo Stedelijk Museum voor Actuele Kunst. Na França, ele coloca outra "situação" no Palais de Tokyo, prestigiado museu de arte contemporânea de Paris, e monta uma minirretrospectiva na FracPaca, museu de Marselha.


Artur Barrio
Quando:
seg. a sex., das 10h às 19h, e sáb., das 11h às 17h; até 1º/7
Onde: Millan Antonio (r. Fradique Coutinho, 1.360, Vila Madalena, tel. 0/ xx/11/3031-6007)
Quanto: entrada franca; obras: R$ 20 mil (transportáveis) a R$ 80 mil (caderno-livro)


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