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Novos animam letras peruanas
Autores revivem tempo de violência política e dos embates entre o Exército e o Sendero Luminoso
Principal expoente da nova geração, o escritor Santiago Roncagliolo tem o premiado romance "Abril Vermelho" lançado agora no Brasil
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um pôster turístico da cidade inca de Machu Picchu, no
meio dos Andes, um folclórico
líder autoritário de origem japonesa e as indefectíveis bolsas
e ponchos que fazem o guarda-roupa de hippies e neo-hippies.
São poucos os elementos que
compõem o imaginário comum
sobre o Peru. Os aficionados
por futebol ainda lembrarão do
trágico acidente de avião que
matou todo o time do Alianza,
principal equipe do país, em
1987. Mas as referências não
vão muito além disso.
Um dos países mais pobres e
isolados da América Latina, o
Peru vive hoje uma surpreendente efervescência literária.
O bom momento cultural
corresponde à gradual recuperação da estabilidade democrática, que teve início com o fim
do governo de Alberto Fujimori, e a derrota do grupo guerrilheiro Sendero Luminoso após
a prisão de seu líder, Abimael
Guzmán, em 1992.
Um grupo de jovens escritores vem amealhando prêmios e
críticas favoráveis mundo afora, sendo traduzido não só para
o inglês e o francês como para o
russo, o búlgaro e o turco.
O principal expoente dessa
geração é Santiago Roncagliolo,
32, cujo romance "Abril Vermelho", vencedor do prêmio
Alfaguara de 2006, acaba de
sair no Brasil. Trata-se de um
thriller político, que utiliza o
modo de narrar dos contos policiais tradicionais para contar
a história de um misterioso crime na cidade de Ayacucho, antiga sede do Sendero.
"Um país sempre escreve sobre aquilo que não tem bem resolvido. No Peru, ainda tentamos entender o que se passou
nesse tempo de violência política", disse à Folha.
O protagonista de "Abril Vermelho" é um promotor que
quer esclarecer um crime cujas
evidências apontam para o ressurgimento da guerrilha no local. Ele enfrenta resistência
das autoridades locais, que não
querem lidar com o impacto
político negativo que teria a
volta do grupo à ação.
"Esse personagem é inspirado na minha experiência como
ativista de direitos humanos na
região. Eu ia inocentemente,
com a lei nas mãos, esperando
que o horror tivesse a amabilidade de ajustar-se ao código civil. Fazia papel de ridículo."
O Peru da década Fujimori
(1990-2000) também é o tema
dos outros autores que agora se
destacam. Alonso Cueto, 53,
que veio para a Flip (Festa Literária de Paraty) no ano passado, venceu o prêmio Herralde com "A Hora Azul" (Objetiva). O romance conta a história
de um advogado que descobre
que o pai, um oficial da Marinha, foi um torturador durante
o embate entre Sendero e Forças Armadas.
O mais jovem é Daniel Alarcón, 29. Nascido em Lima, mas
morando nos EUA e escrevendo em inglês, o autor reúne histórias baseadas no tempo em
que viveu na periferia da capital peruana em "War by Candlelight". O livro foi finalista do
prestigioso PEN/Hemingway e
fez com que a revista britânica
"Granta" o anunciasse como
um dos melhores romancistas
americanos jovens.
A nova geração é reverente
com relação à tradição literária
do país, que tem como ícones o
poeta modernista César Vallejo, o ensaísta marxista José
Carlos Mariátegui e o romancista Mario Vargas Llosa; mas
valoriza sobretudo temas contemporâneos vistos de uma
perspectiva bastante pessoal.
"O que há de mais importante na literatura em espanhol
hoje é a realidade. É a razão do
sucesso das revistas de jornalismo de autor, como a "Gatopardo" colombiana ou a nossa
"Etiqueta Negra" [leia ao lado]".
Agora, Roncagliolo está escrevendo um livro-reportagem
sobre Guzmán, que utilizará
documentação inédita sobre as
ações do Sendero no país.
ABRIL VERMELHO
Autor: Santiago Roncagliolo
Lançamento: Alfaguara/Objetiva
Preço: R$ 39,90 (289 págs.)
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