São Paulo, quarta-feira, 02 de junho de 2010

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"Não quero ter razão, quero é ser feliz"

Em "Em Alguma Parte Alguma", coletânea inédita, Gullar defende o poder da poesia contra o sofrimento

O último volume de poemas do autor foi publicado há 11 anos; nova obra reflete sobre ordem e desordem


DO ENVIADO A SÃO FRANCISCO XAVIER

"Não sou poeta 24 horas por dia. É algo que surge espontaneamente." Assim Gullar explica os 11 anos de hiato entre "Em Alguma Parte Alguma" e "Muitas Vozes", livro anterior do escritor.
Na segunda parte da entrevista, Ferreira Gullar fala sobre a nova obra, a criação poética, drogas e sexo. (MARCO RODRIGO ALMEIDA)

Folha - Como definiria o novo livro?
Ferreira Gullar
- Nele predomina uma certa relação entre ordem e desordem. Eu escrevi no limite da ordem, ou seja, no limite da desordem. A maneira de fazer os poemas foi diferente, mais desordenada. Comecei a escrever sem saber o que iria acontecer, sem planejar nada, sem pré-conceber. A poesia foi para mim uma grande aventura.

E qual a sensação quando o senhor encontra o verso?
Ah, dá muita felicidade. Os poetas têm mania de dizer que escrever poesia é um sofrimento. Pode ser pra eles, para mim é uma alegria. "O Poema Sujo", que escrevi no exílio, nasceu de um "transe", um "barato" que durou por cinco meses. Me sentia impelido a escrever.

O senhor fala em "transe", "barato", sensações geralmente associadas às drogas. Já experimentou alguma?
Uma vez, quando tinha 15 anos, um amigo me chamou para fumar uma diamba, que é como chamam a maconha em São Luís. Dei uma tragada e senti um gosto de mato velho. Achei uma porcaria, nunca mais experimentei. É bobagem dizer que as drogas ajudam na criação. Ela é outro tipo de "transe", que requer lucidez. Sem isso é impossível criar.

A lucidez costuma ser também um remédio contra o sofrimento em muitos de seus poemas, como "A Alegria".
Quando escrevi esse poema estava no máximo do sofrimento, exilado em Buenos Aires. Mas quando você está numa situação sem saída, resta sempre a poesia. Detesto lamúrias, quero é ser feliz. Uma vez, discuti feio com a Cláudia [Ahimsa, companheira de Gullar há 15 anos]. Fiquei sozinho em casa, cheio de razão e triste pra cacete. Então, pra que querer ter sempre razão? Não quero ter razão, quero é ser feliz.

E como fica a relação sexual durante a fase de maturidade?
(risos) Eu acho que você se torna mais refinado, menos vulgar. Acho sexo uma coisa maravilhosa, mas não fico pensando muito nisso. Penso mais sobre arte, política. Sexo eu não penso, eu faço.

Folha.com
Leia a íntegra da entrevista na

folha.com.br/il743897


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