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"Não quero ter razão, quero é ser feliz"
Em "Em Alguma Parte Alguma", coletânea inédita, Gullar defende o poder da poesia contra o sofrimento
O último volume de poemas do autor foi publicado há 11 anos; nova obra reflete sobre ordem e desordem
DO ENVIADO A SÃO FRANCISCO XAVIER
"Não sou poeta 24 horas
por dia. É algo que surge espontaneamente."
Assim Gullar explica os 11
anos de hiato entre "Em Alguma Parte Alguma" e "Muitas Vozes", livro anterior do
escritor.
Na segunda parte da entrevista, Ferreira Gullar fala sobre a nova obra, a criação
poética, drogas e sexo.
(MARCO RODRIGO ALMEIDA)
Folha - Como definiria o novo
livro?
Ferreira Gullar - Nele predomina uma certa relação entre
ordem e desordem. Eu escrevi no limite da ordem, ou seja, no limite da desordem. A
maneira de fazer os poemas
foi diferente, mais desordenada.
Comecei a escrever sem saber o que iria acontecer, sem
planejar nada, sem pré-conceber. A poesia foi para mim
uma grande aventura.
E qual a sensação quando o
senhor encontra o verso?
Ah, dá muita felicidade. Os
poetas têm mania de dizer
que escrever poesia é um sofrimento. Pode ser pra eles,
para mim é uma alegria.
"O Poema Sujo", que escrevi no exílio, nasceu de um
"transe", um "barato" que
durou por cinco meses. Me
sentia impelido a escrever.
O senhor fala em "transe",
"barato", sensações geralmente associadas às drogas.
Já experimentou alguma?
Uma vez, quando tinha 15
anos, um amigo me chamou
para fumar uma diamba, que
é como chamam a maconha
em São Luís. Dei uma tragada e senti um gosto de mato
velho. Achei uma porcaria,
nunca mais experimentei.
É bobagem dizer que as
drogas ajudam na criação.
Ela é outro tipo de "transe",
que requer lucidez. Sem isso
é impossível criar.
A lucidez costuma ser também um remédio contra o sofrimento em muitos de seus
poemas, como "A Alegria".
Quando escrevi esse poema estava no máximo do sofrimento, exilado em Buenos
Aires. Mas quando você está
numa situação sem saída,
resta sempre a poesia. Detesto lamúrias, quero é ser feliz.
Uma vez, discuti feio com
a Cláudia [Ahimsa, companheira de Gullar há 15 anos].
Fiquei sozinho em casa,
cheio de razão e triste pra cacete. Então, pra que querer
ter sempre razão? Não quero
ter razão, quero é ser feliz.
E como fica a relação
sexual durante a fase de
maturidade?
(risos) Eu acho que você se
torna mais refinado, menos
vulgar. Acho sexo uma coisa
maravilhosa, mas não fico
pensando muito nisso. Penso
mais sobre arte, política. Sexo eu não penso, eu faço.
Folha.com
Leia a íntegra da
entrevista na
folha.com.br/il743897
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