São Paulo, sexta-feira, 02 de julho de 2004

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Ciclo traz a moda das telas

Divulgação
Cena de "Os Homens Preferem as Louras' (Howard Hawks)



Com 33 longas, Filme Fashion "despe" o rock e traz produção de Neil Young sobre o grunge

LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA

Se depender do músico canadense Neil Young, o rock nunca morrerá. Mas, se morrer, será enterrado vestido de camisa xadrez, jeans surrado e coturno puído. Young e a conexão rock-moda são destaque na segunda edição do Filme Fashion, festival de longas que lança seu olhar sobre o encontro da moda e do cinema. Na versão 2004, bota para desfilar nas telas do CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) e do MIS (Museu da Imagem e do Som) os musicais ou produções protagonizadas por ídolos da música que, de alguma forma, atingiram a importância de ícones da moda.
O Filme Fashion 2004, que começa na próxima terça-feira para o público, trará ao Brasil o inédito "Greendale", filme de 2003 que tem Neil Young na direção. A produção é uma ópera-rock grunge, filmada em Super 8 com a mesma câmera de US$ 500 que o diretor Jim Jarmusch comprou para filmar "Year of the Horse".
"Greendale", que também rendeu um disco homônimo, será exibido na próxima segunda-feira, abertura da mostra para convidados, e na terça. Conta a seqüência de eventos que transforma a pacata e rural família Green, do vovô à filhinha, depois que o primo Jed mata um policial.
Goste ou não de ser chamado de "padrinho do grunge" (movimento musical de Seattle capitaneado pelo Nirvana e pela gravadora Sub Pop), o fato é que Neil Young e seu estilo tornaram-se uma influência para a indústria da moda quando o grunge estourou, nos anos 90.
O grunge nunca foi satisfatoriamente retratado por Hollywood. A tentativa mais conhecida, a comédia romântica "Singles", foi renegada pelos verdadeiros integrantes do movimento. ""Greendale" acaba sendo o filme que mais bem traduziu o estilo para as telas", diz no catálogo do Filme Fashion a idealizadora e curadora do festival, a jornalista de moda Alexandra Farah.
O filme de Young, um dos 33 longas presentes na mostra, está no agrupamento Rock Style, que inclui, entre outros, "O Lixo e a Fúria" (2000, dirigido por Julien Temple e sobre os Sex Pistols), "Devoção pelo Demônio" (documentário de 1968, feito por Jean-Luc Godard com os Rolling Stones) e "Histórias Reais" (de David Byrne para o seu Talking Heads).
Outros temas da mostra são "A Moda dos Musicais" e "O Mundo da Moda". Na primeira seleção será exibido, entre sete filmes, "O Namoradinho" (1971, de Ken Russell), o primeiro filme da conhecida atriz inglesa Twiggy Lawson, que na época era supermodelo. Em "O Mundo da Moda", entre 13 filmes, passará de "Os Homens Preferem as Louras" (Howard Hawks, com Marilyn Monroe) até "Priscilla, a Rainha do Deserto" (Stephan Elliot).
A primeira edição do festival aconteceu em 2003 e teve como foco o tema "Grandes Estilistas no Cinema". Agora, a mostra criou uma Mostra Competitiva, para produções nacionais lançadas entre maio de 2003 e abril deste ano, que distribuirá prêmios nas categorias figurino de filme publicitário nacional; figurino de videoclipe nacional; videodocumentário; videodesfile; e vídeo universitário.
Outro inédito é o média-metragem "Clowns in the Hood", dirigido pelo badalado fotógrafo americano de moda David LaChapelle. O filme, de 25 minutos, não está inserido na programação oficial, mas será exibido entre as sessões de alguns longas.
"Clowns" "fala" de hip hop; é um filme sobre o olhar fotográfico de LaChapelle a respeito de um fenômeno underground que está acontecendo nas ruas de Compton, região da periferia de Los Angeles. Consiste na ação de grupos de adolescentes de 6 a 18 anos que saem às ruas com suas caras pintadas com uma maquiagem de palhaço e praticam uma dança derivada do hip hop, demonstrando uma incrível satisfação.
Antítese do que normalmente prega as letras de hip hop, os clowns são antidrogas e antiviolência. Segundo LaChapelle, é uma reação positivista e espontânea de uma comunidade cansada dos preconceitos sofridos em Los Angeles. A dança e a música utilizada são o que os jovens de Compton têm à mão: o hip hop.
O fotógrafo viu os clowns durante as filmagens do vídeo de "Dirrty", de Christina Aguilera, depois que LaChapelle quis saber mais sobre aqueles dançarinos locais que a produção trouxe para ajudar na coreografia do clipe.


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