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ARTES PLÁSTICAS
CCBB carioca inaugura exposição, no próximo dia 12, com 40 dos participantes da versão original, de 84
Mostra ilumina caminhos da Geração 80
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
O senso comum de que a arte
contemporânea é impenetrável
para o público sofreu um revés
em 1984, quando a exposição
"Como Vai Você, Geração 80?"
atraiu milhares de pessoas ao Parque Lage, no Rio. Embora sem
manifestos por trás, era explícita a
busca por uma comunicação com
o público. Humor, figuração e elementos pop marcavam as obras.
De lá para cá, muitos dos artistas aprofundaram o lado conceitual de seus trabalhos. Puseram
mais doses de "pensar" numa receita que priorizava o "fazer", para usar uma distinção comum na
época. Observar o que eles eram e
o que se tornaram é um dos objetivos de "Onde Está Você, Geração 80?", exposição que será aberta em 12 de julho no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio.
"Não quis fazer uma retrospectiva, mas mostrar que caminhos
eles seguiram", diz Marcus Lontra, curador em 1984 e novamente
agora. Ele considera como grande
feito da Geração 80 a opção pelo
fazer, pela concepção das obras
no momento em que eram feitas.
"Antes, nos anos 70, tudo era pensar. Prevalecia um discurso umbiguista, da arte discutindo a arte,
criando feudos de isolamento e
pedantismo. Para ser inteligente,
não é preciso ser ininteligível. A
Geração 80 oxigenou a arte."
Dos 123 artistas que expuseram
há 20 anos, 40 estão na mostra do
CCBB. Outros oito que não estiveram, mas que são ligados àquele
momento, foram convidados por
Lontra. São os casos de Victor Arruda e dos paulistas do grupo Casa 7, como Nuno Ramos, Fábio
Miguez e Carlito Carvalhosa.
"Queríamos realmente romper
com a sisudez da época, mas isso
não significa que não tivéssemos
potência intelectual", avalia Nuno
Ramos, 44, relativizando a dicotomia fazer-pensar. "Eu entendo essa distinção, mas não dá para dizer que Tunga, Waltercio [Caldas] e José Rezende não são do fazer. Arte conceitual é coisa de artista ruim. Quando é bom, deixa
de ser conceitual."
Embora depois tenha seguido
outros rumos, Nuno Ramos é um
dos muitos que naquele momento apostaram na pintura. Desacreditada nos anos 70 por causa
da hegemonia da dita arte conceitual ("A pintura era um tabu, uma
coisa quase proibida", lembra Leda Catunda), ela voltava com força no mundo e no Brasil.
Daniel Senise e Beatriz Milhazes, dois expoentes da mostra de
84, continuam fiéis à pintura, mas
não necessariamente aos princípios que marcaram o surgimento
da geração. Senise, aliás, com suas
carcaças e evocações do barroco,
nunca comungou do humor que
marcou a época.
"Havia uma crítica de costumes
quase cartunística. Nossa atividade está muito mais elaborada. Eu
estou até tentando recuperar um
pouco daquele embate, aquele
trabalho no ateliê sem saber o que
vai acontecer", conta Senise, 49.
"Eu me conecto mais com os
anos 90 do que com os 80, porque
foi nos 90 que eu achei um fio
condutor para me expressar melhor", diz Milhazes, 44. "A arte
dos 80 era muito ligada ao pop. E
eu tinha interesse nas artes decorativas, populares e na geometria.
Sempre fui mais racional, tanto
que só fazia umas cinco telas por
ano. Depois, muitos deixaram a
pintura. Eu permaneci e fiquei
meio isolada no meio nacional."
Outros continuaram na pintura, mais ou menos fiéis ao pop. O
paulista Ciro Cozzolino é dos fiéis.
Na mostra há duas apropriações
de signos conhecidos: "Tarsila
Remartelada" (85) e "Zé Carioca
Descendo o Rio Amazonas" (02).
"Sempre trabalhei com a citação
de personagens e o humor. A iconoclastia é uma marca dos anos
80. Queríamos dar uma resposta à
chatice dos anos 70, àquela prática de pôr um tijolo na parede e depois escrever um livro para explicar que é arte", diz Cozzolino, 45.
A exposição de agora recuperará alguns pintores de 84 que andam um pouco esquecidos. É o
caso de Delson Uchôa, que impressionou ao retrabalhar ícones
pop como o maço de cigarros
Hollywood (a tela "Ao Sucesso",
que está na mostra) e hoje faz trabalhos menos figurativos.
ONDE ESTÁ VOCÊ, GERAÇÃO 80?.
Quando: De 12/7 a 28/9 (ter./dom., das
10h às 21h). Onde: CCBB/RJ (r. Primeiro
de Março, 66). Quanto: entrada franca.
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