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Filme é união de melodrama com regras estéticas
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Antes de começar o dinamarquês "Corações Livres", de 2002, aparece na tela o
velho certificado do Dogma 95,
o movimento que preconiza a
volta da "pureza estética" no cinema, criado na própria Dinamarca por Thomas Vinterberg
-do incensado "Festa de Família" (98)- e Lars von Trier
-de "Os Idiotas" (98).
O grande desafio da diretora
Susanne Bier foi o de criar um
cruzamento entre Dogma e
melodrama. São duas correntes contraditórias em seus
princípios: o primeiro com sua
câmera na mão e ambientação
100% naturalista (sem cenários, som externo e maquiagem); o segundo com suas histórias inverossímeis e a música constante a reforçar o drama.
Bier não se sai mal na criação
de seu "meloDogma". A câmera na mão e o ambiente naturalmente escuro dos interiores
das casas imprimem uma autenticidade surpreendente à
história pouco realista.
O enredo melodramático, em
que o médico se apaixona pela
vítima "emocional" do acidente causado por sua mulher, é
digno das melhores novelas
das oito (no sentido positivo da
comparação), onde a culpa age
como um catalisador das relações entre os personagens.
O maior mérito de "Corações
Livres" é privilegiar um humor
tipicamente nórdico -ácido,
cortante, mais negro que o dos
ingleses. Ele irrompe em cenas
dramáticas pesadas não para
aliviar a tensão do espectador,
mas para reafirmar o equilíbrio
emocional dos personagens
em situações massacrantes.
Talvez esteja na hora de os cineastas dinamarqueses se desligarem de um movimento que
tem relativa importância estética para eles mesmos e apostarem naquilo que a cultura nórdica tem de bom e de único.
(TS)
Corações Livres
Elsker Dig for Evigt
Direção: Susanne Bier
Produção: Dinamarca, 2002
Com: Sonja Richter, Nikolai Lie Kaas,
Mads Mikkelsen
Quando: a partir de hoje no HSBC
Belas Artes
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