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CINEMA/ESTRÉIAS
"LUGARES COMUNS"
Aristarain constrói longo lamento palavroso sobre destino argentino
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Andam nos acostumando
mal, os argentinos. De uma
enfiada vieram "Pântano", "Valentin", "Do Outro Lado da Lei"
-tão fortes que, perto deles, tende-se a esnobar "Lugares Comuns", que é bem inferior.
No entanto, "Lugares Comuns"
está longe de ser desprezível. Idéia
central, bem argentina, é que vida
e morte não são coisas separadas
ou diferentes. Uma já contém a
outra. Morremos o tempo todo. A
idéia é também a de Fer.
Idéia adequada para um filme
que trata da velhice, afinal. Pois
Fer logo de início é forçado a se
aposentar. Com menos dinheiro,
precisará vender seu apartamento
de Buenos Aires e morar no interior. A dificuldade de financiamento para seus planos o obrigará, suprema concessão (ou ato de
amor?), a pedir dinheiro ao filho
arrivista que mora na Espanha.
A seu lado, Fer terá sua mulher,
Lili. Com o amigo advogado parecem seus únicos portos seguros.
Ora, estamos numa Argentina
depressiva e neoliberal, em que
idéias como liberdade, igualdade
e fraternidade soam ocas: não é à
toa que o professor sem cátedra
vai parar no interior, dialogando
com o seu caseiro.
"Lugares Comuns" é isso: um
tango, um longo lamento sobre o
destino argentino. Algo que expressa um tipo de sentimento diferente, para não dizer oposto, ao
dessa nova geração de cineastas
que, antes de lamentar, exaltar
etc. optam por observar o mundo.
Aristarain, cineasta mais veterano (nasceu em 1943), não chega
despojado, como os mais novos.
Traz a armadura do humanismo,
dos grandes ideais anarquistas,
esse desejo de liberdade que pode
se converter, conforme a situação,
em niilismo, descrença, amargura
profunda. Tango de novo.
Ao mesmo tempo, não se pode
negar que este é um filme palavroso como o próprio personagem
central -cheio de frases definitivas a propósito de tudo (diga-se
em sua defesa que as frases são
muito menos numerosas e em geral mais interessantes do que as de
"Cazuza", por exemplo). Isso define o seu limite: a vontade de dizer certas coisas parece em Aristarain maior do que a de mostrar. A
palavra escrita é ainda a pedra de
toque, para o bem e para o mal.
Lugares Comuns
Lugares Comunes
Direção: Adolfo Aristarain
Produção: Argentina/ Espanha, 2003
Com: Federico Luppi, Arturo Puig
Quando: a partir de hoje no Cinearte e
no Cineclube DirecTV
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