São Paulo, sábado, 02 de julho de 2005 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Pesquisador conecta Kantor com história da Europa
DA REPORTAGEM LOCAL
VANGUARDAS - "Quando estava ligado a movimentos da vanguardas, como o surrealismo, o dadaísmo, o construtivismo, Kantor formulou suas lembranças usando esses princípios. Mais tarde, caiu na real e percebeu que havia uma outra prática de criar ilusão a ser banida de seu teatro. Nas últimas produções, Kantor não queria mais ser vanguarda. Eliminou a linguagem e formulou as imagens de vanguarda de protesto." GUERRA - "Kantor está sendo conectado com a história interna da própria Europa. É por isso que, no seu teatro, serão colocadas com freqüência questões relativas à guerra. Mas o que é importante na prática de Kantor é que ele não se torna uma reconstrução de memórias, simplesmente porque freqüentemente não podemos lidar com essas memórias. Construímos nossa consciência, criamos diferentes métodos, porque, de outra forma, fica difícil viver. Kantor mostra caminhos de perturbação desse processo." ESPAÇO INTERNO - "Em Kantor, você vê sempre a questão da repetição, o eco da memória com ironia. Está continuamente mudando o movimento, a imagem nunca é completa, porque, se fosse, seria moldurada, permitindo que você a esqueça. Se a imagem é dinâmica, há uma contínua renovação dessa angústia. Nesse sentido, é um teatro das obsessões." VIÉS POLÍTICO - "Para mim, o teatro de Kantor não é um teatro de emoções, de comentários íntimos, não é somente o teatro da morte. É um teatro extremamente poderoso e político. Suas produções são comentários de situações que ele viveu nos eventos do mundo. Estava consciente de sua função de cronista do século 20." ESQUECER - "Para se lembrar de Kantor, é preciso esquecê-lo. Esquecer é o melhor jeito de lembrar. Somos estimulados a esquecer para não lembrar, numa linguagem que só acessa algumas coisas. Pode ser uma linguagem política, como a que Bush aplica ao Iraque, com sua definição de democracia. Esquecer é abrir a possibilidade de pensar de forma diferente sobre a representação através da ideologia dominante. Minha referência para esquecer Kantor homenageia essa tradição que abre o espaço do pensar. Esquecer significa investigar de forma dinâmica, e sempre." CORPO - "Kantor não lida com o corpo como os artistas performáticos americanos faziam nos anos 60 e 70, explorando limites para falar da dor. Para ele, o corpo é uma embalagem por excelência, que protege a coisa mais íntima que é a vida. Essa embalagem, esse corpo, é um modo poético de Kantor expressar seu respeito incrível pelo ser humano. Não é necessariamente explorar o que o corpo pode ou não fazer, mas a proteção desse interior mais poderoso e íntimo. No teatro de Kantor, o ator é quem carrega o corpo, que fica em oposição a você, espectador, forçando-o o quão similar você é ou totalmente diferente da pessoa do outro lado. Aquele ator, naquele corpo, está prestes a provocar um choque que forçará você a pensar." PALAVRA - "A palavra falada nas produções de Kantor é uma manifestação daquilo que se distingue da linguagem corrente. Os atores usam improvisações, fragmentos, repetições, pedaços de memória. Em algumas passagens de "A Classe Morta", por exemplo, os velhos personagens da sala de aula são como que tomados pelos personagens de um drama de Witkiewicz [autor polonês Stanislaw Ignacy Witkiewicz, 1885-1939], "Tumor Cerebral", e não falam seqüências completas da peça. Entendemos os velhos tentando lembrar aqueles dias na escola, na concepção de Kantor, ao mesmo tempo em que estão falando o texto de Witkiewicz. Essa tensão abre o espaço e se torna dinâmica, mutante, em vez de construir uma imagem única. Os textos de Tadeusz Kantor são escritos de forma poética porque a linguagem da poesia é evocativa, e não afirmativa." Texto Anterior: Teatro: Moscou vê panorama da produção brasileira Próximo Texto: Televisão: MTV acusa Rede TV! de plagiar Gordo Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |