|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
19ª SPFW
SIMPLICIDADE DAS FORMAS CONTAGIA A MODA
ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA
A preocupação com o varejo
evidenciou-se no fim-de-semana
da São Paulo Fashion Week. O dia
começou no Pacaembu, quando o
estilista Reinaldo Lourenço levou
os fashionistas até a Faap para
mostrar seu verão 2006.
E se o endereço prometia, a utilização do espaço acabou não se
justificando. A sala de desfiles
montada no interior do prédio
era escura, com paredes pretas,
deixando o público com vontade
de um ambiente mais leve.
Reinaldo Lourenço quis seguir
uma inspiração new wave (já
meio atrasada), que foi se perdendo nas roupas. Ela apareceu no laranja dos cílios postiços da maquiagem das meninas, que entraram na luz negra, cenário branco.
A idéia parecia justamente a de
contar uma história de rock, mas
em branco. E foi o melhor do desfile, os looks estreitinhos, jaquetas
construídas e calças mais curtas,
com atracadores e fitas. Legal.
Aqui, as proporções estavam
bem depuradas, demonstrando o
controle do estilista e seu olhar
afiado. Reinaldo Lourenço foi então em direção a um romantismo
mais suave, trabalhando a textura
do algodão na capa fofa em branco e lilás de Jéssica Pauletto, seguido de rosa e azul tipo nuvem.
Contraste com as peças 80 japonistas, em preto, meio chatos,
com penduricalhos demais. Clássicos de Reinaldo Lourenço: as camisas brancas, sempre hit, como
na linda e simples Eliana Weirich.
Não rolou muito a série de looks
com as golas, mas os vestidos em
cascatas de babadinhos, suaves e
delicados. O mais bonito era o de
Carol Trentine. Não foi a melhor
coleção de Reinaldo Lourenço,
entretanto, e bem que poderia ter
sido, já que a moda do momento
trata de muitos dos elementos caros ao estilista.
A Cori, com direção de Alexandre Herchcovitch, continuou sua
viagem. Neste inverno, a rica
compradora da marca viaja pelo
folk do Leste Europeu. No verão,
ela vai para o Marrocos, de onde
pega emprestada a calça bufante
tradicional do deserto, em versão
urbana de chiffon.
A coleção é quente, colorida, e
reflete mais o estilo Cori do que o
Herchcovitch, e esta proporção já
apareceu diferente. De todo jeito,
percebe-se o corte preciso do estilista, como nas joviais saarianas
em bermudinhas (Camila Finn) e
no vestidinho de babados do lado,
cinto largo marcando a cintura.
No início da noite, Thaís Losso
brincou com a cultura italiana,
pretexto para um masculino voltado na camisa de time trabalhada. Como a idéia não chega a ser
exatamente nova, ficou melhor
quando remixada com peças de
alfaiataria.
O desfile deixou saudade de
uma Zapping mais forte e mais à
vontade. A marca parecia meio
engessada no formato que ela
mesma instalou. E quer saber? Até
mesmo meio constrangida. Uma
só mochila de pizza não faz verão.
Talvez falte um elo maior do que o
tema à coleção. Mais uma vez:
quando compramos uma roupa,
não é porque a gente queira uma
"roupa italiana", mas porque nos
apaixonamos pela peça. E faltou
aqui a paixão da "Dolce Vita", na
bela imagem projetada no telão
do cenário.
E quem trouxe frescor foi a Iódice. Num cenário de madeira,
com bucólicos balanços de corda,
a grife desfilou um verão que
atende exatamente às vontades
das mulheres de hoje: romantismo adulto, sofisticação (nos lindos dourados foscos), discrição,
leveza, materiais naturais.
A coleção abre com uma boa seqüência de dourados, em vestidos
simples, mas com personalidade.
Passeia por looks calmos e práticos, como na linda saariana de
Jéssica Pauletto, passando pelos
azuis escuros dos vestidos fluidos
(só não precisava do claro, com as
franjas), terminando com a deliciosa imagem de Jeísa ao balanço.
Texto Anterior: Luther Vandross morre aos 54 anos Próximo Texto: Surfistas mutantes surpreendem Índice
|