São Paulo, quarta-feira, 02 de julho de 2008

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FLIP menos estrelada

Mais prestigiosa festa literária do país chega à 6ª edição sem grandes astros das letras e com orçamento de mais de R$ 5 milhões

Luciana Serra/Divulgação
A Tenda dos Autores, o espaço mais importante da Flip, evento literário que será aberto hoje com palestra de Roberto Schwarz

EDUARDO SIMÕES
MARCOS STRECKER
DA REPORTAGEM LOCAL

Um ano depois de reunir o maior elenco de prêmios numa mesma edição -quatro escritores acumulando dois Nobel, quatro Booker Prize e um Pulitzer-, a Festa Literária Internacional de Parati chega menos estrelada à 6ª edição, com Tom Stoppard e Neil Gaiman entre os detentores de prêmios mais prestigiosos: quatro Tony (teatro) para o primeiro e 13 Eisner (quadrinhos) para o segundo. A festa começa hoje com palestra do crítico Roberto Schwarz sobre Machado de Assis.
Também neste ano, a Flip tem o seu maior orçamento: R$ 5.088.146,59 (o valor é próximo aos custos de 2006 e 2007, levando-se em conta a inflação). Do montante, R$ 200 mil, cerca de 4%, vão para a diretoria de programação, que vem sofrendo com a descontinuidade. As duas primeiras edições foram organizadas pelo jornalista Flávio Pinheiro, as duas seguintes pela editora Ruth Lanna, e a última, pelo jornalista Cassiano Elek Machado, substituído em dezembro de 2007 por Flávio Moura.
Segundo o arquiteto Mauro Munhoz, diretor da Casa Azul, a associação que organiza a Flip, a saída de Machado se deu com o convite do jornalista para ser diretor editorial da Cosac Naify, o que criaria um conflito de interesses. Machado, no entanto, saiu da direção de programação da Flip em outubro de 2007 e assumiu o novo cargo somente em janeiro deste ano. O jornalista teve sete meses para organizar a Flip 2007, não contou com uma equipe de programação para auxiliá-lo e fez suas tarefas enquanto trabalhava na revista "Piauí".
Já Moura teve menos de seis meses para criar a atual grade. Ele concorda que, num cenário ideal, deveria ter começado seu trabalho já em agosto, mês seguinte à festa, visto que autores renomados decidem suas agendas com uma antecedência muito grande.
"Por uma série de razões, não foi possível. Não acho, no entanto, que tenha prejudicado. Foi possível colocar de pé uma programação de qualidade", diz Moura, que não concorda que a Flip 2008 seja menos estrelada. "É normal que as pessoas perguntem por estrelas em função dos convidados que já vieram. É um risco de fetichismo em que a Flip não pode cair."
Evento literário de maior prestígio no país, a Flip já teve autores do porte do sul-africano J.M. Coetzee, de Ian McEwan, do historiador Eric Hobsbawm, da americana Toni Morrison e do turco Orhan Pamuk.
"Tem diferença entre a projeção no Brasil e a importância do autor. Em termos de qualidade, os convidados deste ano não devem nada aos que já participaram", afirma o jornalista.
Ainda segundo Moura, a chancela de um prêmio Nobel não é tão importante. "Há vários prêmios Nobel que não têm projeção no país. Não vejo como falha da Flip, e sim como virtude, porque a projeção se dá aqui junto a editoras e público."

Liz Calder
Uma das criadoras da Flip, a editora britânica Liz Calder elogia a programação feita por Flávio Moura ("Ele fez um trabalho maravilhoso"). Ela, que mora na Inglaterra, já não tem residência em Paraty, mas continua ajudando nos contatos e convites aos autores. "A idéia sempre foi de que a Flip fosse totalmente tocada por brasileiros. Há muitas centenas de autores importantes que ainda querem vir à Flip. Consideramos que o evento deve ser uma celebração do mundo literário, seja qual for a forma."
Em relação aos anos anteriores, uma novidade é a montagem de uma terceira tenda, vizinha à igreja da Matriz, e com custo aproximado de R$ 106 mil. Ela irá abrigar a Livraria da Vila, local para autógrafos e a loja da Flip. Segundo os organizadores, o espaço foi criado para desafogar a saída das mesas na Tenda dos Autores.

Mais renúncia fiscal
A festa deste ano será feita com mais patrocínio indireto, ou seja, com mais dinheiro de renúncia fiscal. Em 2006, a arrecadação com a Lei Rouanet foi de R$ 1.514.650,70, contra R$ 2.260.000 em 2008, um aumento de quase 50% em dois anos. A Flip, pela primeira vez, também recebeu R$ 300 mil do Ministério do Turismo. O sucesso da festa foi um dos fatores que ajudaram a Casa Azul a também receber pouco mais de R$ 400 mil do mesmo ministério, para tocar um novo projeto cujo objetivo é valorizar produtos culturais e belezas naturais.
Segundo Munhoz, o aumento da arrecadação com lei de incentivo compensa as perdas nas parcerias, sejam elas nacionais (desde 2006, a Flip não tem mais cortesias de companhias aéreas) ou locais (as pousadas de Paraty teriam diminuído os descontos, de olho no crescente público que vai para a cidade fluminense, num período de ocupação que já rivaliza com o Ano Novo e o Carnaval).


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