São Paulo, quarta-feira, 02 de julho de 2008

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Crítica/artes plásticas/"Objetos Transitórios para Uso Humano"

Reinvenção da performance dá força à obra de Abramovic

Em exposição, artista recria o desejo de superação da banalidade do cotidiano

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Marina Abramovic é uma das mais importantes artistas da cena contemporânea e a grande referência atual na área da performance. Uma das razões para tanto é que ela se manteve fiel a esse gênero, reinventando-o constantemente, ao contrário de outros também importantes artistas que usaram a performance como campo de experimentação nos anos 60 e 70 do século 20, mas migraram para outras propostas. Entre eles, estão os norte-americanos Vito Acconci, Bruce Nauman e Chris Burden.
Enquanto isso, Abramovic -e aí está sua importância- transformou a idéia de performance ao longo dos últimos 40 anos. Em suas primeiras ações, o que interessava era o antiteatro, a não-representação, a performance como uma ação real.
Já em uma de suas últimas ações, em 2005, no Guggenheim, para pensar no estatuto da performance, ela reencenou trabalhos históricos de cinco artistas, entre os quais ela mesma, além de Nauman, Acconci, Joseph Beuys, Gina Page e Valie Exporte. A teatralização tornou-se, assim, também parte da performance. "Objetos Transitórios para Uso Humano" -mostra em cartaz na galeria Brito Cimino e que segue até agosto no espaço, em São Paulo- revela outra faceta desse percurso: a busca em inserir o público no contexto da performance. Se performance é uma ação real, que ocorre em tempo e espaço únicos, a artista então cria situações para que o público possa, ele também, ter a sua experiência enquanto "performer".
Para tanto, Abramovic propõe diversas formas de interação com rochas minerais, como ametistas, turmalinas e cristais de Minas Gerais e da Amazônia, coletados entre 1989 e 1992. O caráter experimental é enfatizado pelo uso de jalecos brancos, que o público deve vestir, conforme o caso. Para cada rocha, há um tipo de "receita" diferente, com tempos que variam de dez minutos a três horas, como na imersão em 25 quilos de flores de camomilas secas, cobre e quartzo, em "Módulo de Levitação". Nesse caso, o visitante deve estar nu.

Arte e vida
Desde o início de sua carreira, vincular arte e vida tem sido uma das principais proposições de Abramovic. Com os "objetos transitórios", a artista deixa que o público também tenha essa experiência. Assim, ela chega a proposições muito parecidas com os "Objetos Sensoriais", de Lygia Clark (1920-1988), ou mesmo os "Parangolés", de Hélio Oiticica (1937-1980), que também tinham os mesmos objetivos.
Na abertura da mostra, jovens estudantes com os jalecos brancos mostravam como seus objetos poderiam ser usados. Essa situação mostrava que Abramovic se preocupa não só com a experiência do público, mas também com a visibilidade de seu trabalho. Refinados e elegantes, tanto em seus materiais como em sua disposição, os "objetos transitórios" recriam, no século 21, o desejo de superação da banalidade do cotidiano, por meio de modelos de ação dentro do mundo real.


OBJETOS TRANSITÓRIOS PARA USO HUMANO - MARINA ABRAMOVIC
Quando:
de ter. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 11h às 17h; até 2/8
Onde: galeria Brito Cimino (r. Gomes de Carvalho, 842, tel. 0/xx/11/ 3842-0634; livre)
Quanto: entrada franca
Avaliação: ótimo


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