São Paulo, sexta-feira, 02 de julho de 2010 |
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cinema CRÍTICA COMÉDIA Adaptação tira o charme de livro infantil
Longa inspirado em "O Pequeno Nicolau", série de quadrinhos de Sempé e Goscinny, é chocho e sem graça
ANDRÉ BARCINSKI CRÍTICO DA FOLHA "O Pequeno Nicolau" é uma série de histórias em quadrinhos infantis lançada na França em 1959. Desenhada por Jean-Jacques Sempé e escrita por René Goscinny (1926-1977), cocriador de Asterix e Obelix, faz grande sucesso até hoje. Para seus muitos fãs, é uma pena que o filme inspirado nos livros, que estreia hoje no Brasil, seja tão chocho e sem graça. Mais de meio século depois de lançadas, as histórias de Goscinny e Sempé ainda mantêm seu charme juvenil. Narradas em primeira pessoa, contam as aventuras de Nicolau na escola, sua relação com os pais e os amigos. Nicolau é um menino sonhador, que vai descobrindo o mundo segundo uma lógica própria. Tudo é ingênuo e charmoso. Já o filme é outra história. Dirigido por Laurent Tirard ("As Aventuras de Molière"), tenta resgatar o humor inocente dos livros, mas lhe falta leveza. O roteiro apenas costura piadas e situações absolutamente previsíveis. GRAVIDEZ No filme, Nicolau é uma criança feliz: adora os pais e se dá muito bem com os colegas de classe, o ricaço Godofredo, o glutão Alceu, o limitado Clotário e o geniozinho Agnaldo. Mas sua vida idílica é ameaçada quando ele ouve uma conversa dos pais e supõe que a mãe está grávida. Preocupado com a chegada de um irmãozinho que, acredita, vai mudar sua vida para pior, ele planeja raptar o irmão que está para nascer. A história é só um pretexto para um desfile de situações cômicas manjadíssimas: Nicolau e os amigos tentam fazer uma limpeza na casa dos pais, mas acabam quase destruindo o lugar. A turma se esconde num carro que acaba descendo uma ladeira, desgovernado. E por aí vai. Em livro, essas piadas funcionam. Sempé tem um traço simples, quase minimalista, que deixa muito espaço para a imaginação. Os textos e diálogos de Goscinny complementam os desenhos com um humor fino e muita ironia. A transposição para a tela, no entanto, tira grande parte do charme das histórias. Não é a primeira vez que uma obra de Goscinny é adaptada para o cinema sem sucesso. Quem viu Gerard Depardieu no papel de Obelix sabe disso. Como diria um ex-ministro, algumas coisas são "imexíveis". Para os fãs, "O Pequeno Nicolau" pode ser um prazeroso exercício de nostalgia. Muitos vão gostar de ver seus personagens queridos em carne e osso. A reconstituição de época é muito bonita, e é sempre um prazer ver a França dos anos 1950. Mas para quem não está familiarizado com os quadrinhos, o filme é apenas uma comédia mediana sem nada de novo. Na dúvida, fique com os livros. O PEQUENO NICOLAU DIREÇÃO Laurent Tirard PRODUÇÃO França, 2009 COM Valérie Lemercier e Maxime Godart ONDE nos cines Belas Artes, TAM Frei Caneca e circuito CLASSIFICAÇÃO livre AVALIAÇÃO regular Texto Anterior: FOLHA.com Próximo Texto: Filha do autor conta segredo do êxito do pai Índice |
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