São Paulo, Sexta-feira, 02 de Julho de 1999
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"Romance" se move entre tédio e desejo de amor

da Reportagem Local

É preciso gostar muito de filme de arte para apreciar o francês "Romance", de Catherine Breillat. Seus personagens falam tanto, mas tanto, que é difícil imaginar que encontrarão tempo para fazer sexo explícito. E esse é o ponto em que sua divulgação se apóia.
"Romance" é um filme porno-soft. A jovem Marie (Caroline Ducey) não encontra satisfação sexual com seu parceiro Paul (Sagamore Stevenin) e, por isso, procura parceiros extraconjugais na rua, em bares e até na escola em que dá aula. Um de seus parceiros é o bem-dotado (26 cm, dizem) astro pornô Rocco Siffredi. Na verdade, o que Marie procura é algo mais acessível, apenas um romance, algo que humaniza o sexo.
A protagonista Marie fala, fala, fala... Chega a ser sufocante em sua tentativa de teorizar absolutamente tudo. Em alguns momentos, chega a ser perspicaz, como ao dizer: "Você só me ama quando há uma mesa entre nós". Quando não está falando, chora.
Mas Marie sabe se organizar e, entre palavras e lágrimas, depois de perder as esperanças em relação ao marido Paul, arruma tempo para uma felação, uma transa explícita, uma sessão de sadomasoquismo ou mesmo para ser vítima (mas nem tanto) de um estupro, tudo com muita naturalidade.
O filme começa a esquentar mesmo com a entrada em cena de Robert, diretor da escola em que Marie dá aulas. Ele é um adepto de sessões de sadomasoquismo.
Robert a leva para casa e, depois de muita conversa (é claro), vai aos finalmentes. Em uma das sessões, tira tantos apetrechos sadomasoquistas de seu baú que parece o Mister M da Ponto G.
Ele a amarra e a amordaça. Ela então pára de falar, mas aí é ele quem começa. O diretor da escola, embora igualmente teorético, torna-se um personagem divertido ao perpetrar frases cínicas como: "As mulheres devem ler para nós para que saibamos que elas leram".
Os dois também protagonizam as cenas mais belas e líricas do filme, como aquela em que as voltas da corda branca se acumulam sobre seus negros pêlos pubianos, ou quando, no auge de uma sessão sadomasoquista, Marie aparece retorcida como um quadro cubista.
O diretor sadomasoquista trabalha com naturalidade. Parece que está fazendo um bolo. Em um dado momento, ao encontrar dificuldades em amarrá-la "comme il faut", pede socorro. "Me ajude", diz ele, com voz já aborrecida. Ele dá alguma humanidade a um filme erótico, mas um tanto tedioso.
Assim, entre o fastio e a fome de amor, "Romance" segue adiante. Não é ruim, mas é melhor esperar que saia em vídeo, quando será possível usar o "fast forward". (CF)


Avaliação:   


Filme: Romance Direção: Catherine Breillat Elenco: Caroline Ducey, Sagamore Stevenin, Rocco Siffredi e outros Produção: França (1998; 95 min.) Onde: Espaço Unibanco, r. Augusta, 1.475, tel. 011/288-6780

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