|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Romance" se move entre tédio e desejo de amor
da Reportagem Local
É preciso gostar muito de filme
de arte para apreciar o francês
"Romance", de Catherine Breillat.
Seus personagens falam tanto, mas
tanto, que é difícil imaginar que
encontrarão tempo para fazer sexo
explícito. E esse é o ponto em que
sua divulgação se apóia.
"Romance" é um filme porno-soft. A jovem Marie (Caroline Ducey) não encontra satisfação sexual com seu parceiro Paul (Sagamore Stevenin) e, por isso, procura
parceiros extraconjugais na rua,
em bares e até na escola em que dá
aula. Um de seus parceiros é o
bem-dotado (26 cm, dizem) astro
pornô Rocco Siffredi. Na verdade,
o que Marie procura é algo mais
acessível, apenas um romance, algo que humaniza o sexo.
A protagonista Marie fala, fala,
fala... Chega a ser sufocante em sua
tentativa de teorizar absolutamente tudo. Em alguns momentos,
chega a ser perspicaz, como ao dizer: "Você só me ama quando há
uma mesa entre nós". Quando não
está falando, chora.
Mas Marie sabe se organizar e,
entre palavras e lágrimas, depois
de perder as esperanças em relação
ao marido Paul, arruma tempo para uma felação, uma transa explícita, uma sessão de sadomasoquismo ou mesmo para ser vítima
(mas nem tanto) de um estupro,
tudo com muita naturalidade.
O filme começa a esquentar mesmo com a entrada em cena de Robert, diretor da escola em que Marie dá aulas. Ele é um adepto de
sessões de sadomasoquismo.
Robert a leva para casa e, depois
de muita conversa (é claro), vai aos
finalmentes. Em uma das sessões,
tira tantos apetrechos sadomasoquistas de seu baú que parece o
Mister M da Ponto G.
Ele a amarra e a amordaça. Ela
então pára de falar, mas aí é ele
quem começa. O diretor da escola,
embora igualmente teorético, torna-se um personagem divertido ao
perpetrar frases cínicas como: "As
mulheres devem ler para nós para
que saibamos que elas leram".
Os dois também protagonizam
as cenas mais belas e líricas do filme, como aquela em que as voltas
da corda branca se acumulam sobre seus negros pêlos pubianos, ou
quando, no auge de uma sessão sadomasoquista, Marie aparece retorcida como um quadro cubista.
O diretor sadomasoquista trabalha com naturalidade. Parece que
está fazendo um bolo. Em um dado momento, ao encontrar dificuldades em amarrá-la "comme il
faut", pede socorro. "Me ajude",
diz ele, com voz já aborrecida. Ele
dá alguma humanidade a um filme
erótico, mas um tanto tedioso.
Assim, entre o fastio e a fome de
amor, "Romance" segue adiante.
Não é ruim, mas é melhor esperar
que saia em vídeo, quando será
possível usar o "fast forward".
(CF)
Avaliação:
Filme: Romance
Direção: Catherine Breillat
Elenco: Caroline Ducey, Sagamore
Stevenin, Rocco Siffredi e outros
Produção: França (1998; 95 min.)
Onde: Espaço Unibanco, r. Augusta, 1.475,
tel. 011/288-6780
Texto Anterior: Resistência francesa defende sua 7 ª arte em SP e RJ Próximo Texto: Joyce Pascowitch Índice
|