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CINEMA/ESTRÉIAS
"A Batalha de Argel" reestréia em SP e mostra união de pensamento ambicioso da esquerda e do cinema
Pontecorvo constrói libelo anticolonialista
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Nos poucos filmes que fez, o
italiano Gillo Pontecorvo
procurou associar cinema político e espetáculo com resultados
animadores o bastante para que
em seu "Queimada" (1969) tivesse
como protagonista ninguém menos que Marlon Brando.
"A Batalha de Argel" não trabalha com nomes célebres, mas isso
não pesa contra o resultado final.
Ao contrário, com este filme Pontecorvo ganhou o Leão de Ouro
de Veneza.
É verdade que "A Batalha de Argel" nunca passou pela garganta
dos franceses, o que talvez se deva
menos a opções estéticas do realizador do que ao fato de a Guerra
da Argélia ser um assunto mais
que delicado em Paris e adjacências.
Pontecorvo, verdade seja dita,
não está preocupado em denegrir
os gauleses. Seu negócio é demonstrar que o colonialismo é
uma instituição historicamente
destinada à derrota. Hoje, qualquer um se acha no direito de desfazer do determinismo histórico
dos marxistas, mas o fato é que a
coisa deu certinho no caso do colonialismo.
As revoltas nacionais, na Ásia e
na África, venceram os colonialistas no pós-Segunda Guerra
-França, Inglaterra, Portugal tiveram, cada qual a seu tempo, de
enfiar o rabo entre as pernas e deixar suas colônias.
Por quê? Eis o que Pontecorvo
busca explicar, especialmente na
banda de som, enquanto sua banda de imagem traz o espetáculo da
guerra anticolonial gloriosa. Como a França perde a Argélia, não
por incompetência militar -o filme procura demonstrar o exato
inverso-, mas por força de uma
incontornável determinação histórica.
De certa forma, o raciocínio do
filme era: se funciona com o colonialismo, funciona com o resto
também. Sabemos que a segunda
parte do postulado -aquela que
estava nas entrelinhas, referente à
conquista do poder pelo proletariado- nunca foi por diante. Mas
o filme permaneceu, apesar disso,
íntegro, como expressão da luta
por Argel tal como vista pelos argelinos (pois o filme é uma produção argelina), mediada por um
diretor italiano e esquerdista.
Íntegro, ou seja: nesse momento em que os EUA sofrem o diabo
no Iraque, "A Batalha de Argel"
oferece uma analogia no mínimo
sedutora, em sua força didática:
ocupar o país dos outros não dá
pé. É, de resto, documento de
uma época em que a transformação do mundo era uma ambição
de esquerda e o cinema era a
grande arte do século 20.
Ambos -cinema e esquerda-
sonhavam alto, eventualmente
juntos. Restou "A Batalha de Argel" como exemplo desse espetáculo político feito de imagens
grandiosas e raciocínios sofisticados, ainda que talvez enganosos.
De todo modo, algo muito mais
animador do que a política do espetáculo feita de imagens banais,
raciocínios rasteiros e aspirações
não raro torpes -a que cotidianamente estamos expostos.
A Batalha de Argel
La Battaglia di Argeli
Direção: Gillo Pontecorvo
Produção: Itália/Argélia, 1966
Com: Brahim Haggiag, Jean Martin
Quando: a partir de hoje no Espaço Unibanco 2
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