São Paulo, domingo, 02 de setembro de 2007

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Crítica/"Aurora"

Murnau levou segredos da arte alemã para Hollywood

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

É improvável que exista outro filme tão influente quanto "Aurora" na formação do cinema americano. F.W. Murnau chegara da Alemanha em 1926 contratado por William Fox na condição de "gênio do cinema", trazendo equipe e gozando de liberdade.
Optou por contar a história -escrita por Carl Meyer e concebida para ser rodada na Alemanha- do camponês que, seduzido por uma vamp, dispõe-se a matar a própria mulher.
É possível que exista aí um problema de adaptação: essa história, transposta para os EUA, faz com que o filme transmita a estranha sensação de se passar em qualquer lugar ou em lugar nenhum. Mas isso está longe de impedir que se apreciem as virtudes de Murnau e que se entenda porque praticamente nenhum bom cineasta passou em branco pelas novidades trazidas por ele -embora o filme não tenha sido nem de longe um sucesso.
A primeira delas, a mais notável, são os "travellings" alucinantes de Murnau. O mais célebre deles é o do homem (George O'Brien) indo ao encontro da mulher da cidade (Margaret Livingston), onde a câmera a horas tantas perde o personagem, continua a se movimentar, chega até onde se encontra a mulher, que logo depois recebe o homem que ia ao seu encontro.
Mas a ninguém passou despercebido o sentido profundo da luz, com as tonalidades suaves de preto e branco se alternando na imagem. E muito menos dos fantásticos cenários de Charles Rosher.
Essas proezas -entre tantas outras- seriam pouco, não fosse a magnífica atmosfera, onde as ambigüidades humanas se manifestam com delicadeza, mas de maneira plena.
Sim, Murnau levou os segredos da arte alemã para Hollywood. Até o relutante Hawks está lá: é do estranho andar de George O'Brien (com 20 quilos de chumbo nos pés) que surgirá Scarface, poucos anos depois.


AURORA
Direção:
F.W. Murnau
Lançamento: Versátil (R$ 35)
Avaliação: ótimo


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