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Crítica/"Aurora"
Murnau levou segredos da arte alemã para Hollywood
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
É improvável que exista
outro filme tão influente quanto "Aurora" na
formação do cinema americano. F.W. Murnau chegara da
Alemanha em 1926 contratado
por William Fox na condição de
"gênio do cinema", trazendo
equipe e gozando de liberdade.
Optou por contar a história
-escrita por Carl Meyer e concebida para ser rodada na Alemanha- do camponês que, seduzido por uma vamp, dispõe-se a matar a própria mulher.
É possível que exista aí um
problema de adaptação: essa
história, transposta para os
EUA, faz com que o filme transmita a estranha sensação de se
passar em qualquer lugar ou
em lugar nenhum. Mas isso está longe de impedir que se apreciem as virtudes de Murnau e
que se entenda porque praticamente nenhum bom cineasta
passou em branco pelas novidades trazidas por ele -embora o filme não tenha sido nem
de longe um sucesso.
A primeira delas, a mais notável, são os "travellings" alucinantes de Murnau. O mais célebre deles é o do homem (George O'Brien) indo ao encontro da
mulher da cidade (Margaret Livingston), onde a câmera a horas tantas perde o personagem,
continua a se movimentar, chega até onde se encontra a mulher, que logo depois recebe o
homem que ia ao seu encontro.
Mas a ninguém passou despercebido o sentido profundo
da luz, com as tonalidades suaves de preto e branco se alternando na imagem. E muito menos dos fantásticos cenários de
Charles Rosher.
Essas proezas -entre tantas
outras- seriam pouco, não fosse a magnífica atmosfera, onde
as ambigüidades humanas se
manifestam com delicadeza,
mas de maneira plena.
Sim, Murnau levou os segredos da arte alemã para Hollywood. Até o relutante Hawks
está lá: é do estranho andar de
George O'Brien (com 20 quilos
de chumbo nos pés) que surgirá
Scarface, poucos anos depois.
AURORA
Direção: F.W. Murnau
Lançamento: Versátil (R$ 35)
Avaliação: ótimo
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