JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA

O faminto globe-trotter Anthony Bourdain passou neste ano pelo Brasil para gravar um episódio de seu programa "Sem Reservas", que vai ao ar dia 7 de setembro (22h, Discovery Travel & Living). Ele já tinha vindo a São Paulo uma vez, a caminho do Rio, e odiou a cidade. Por que voltou? "Por causa de vocês, caras", disse ele no ar para Rosa Moraes (diretora da gastronomia da Anhembi Morumbi) e sua sobrinha -ambas o tinham recebido antes, quando veio lançar um livro, e criaram outra atmosfera nesta árida cidade. Bourdain voltou porque gosta das pessoas de São Paulo.
Como repete ao sair com as moças da sua editora (Companhia das Letras). E outras tantas (sempre moças) com que esbarra pelo caminho. É assim que ele começa o programa: dizendo que São Paulo vale pela gente que vive aqui e pelas lindas amigas que ele fez.
Um programa que pode iludir muitos espectadores de fora, que acharão que os paulistanos comem sempre testículos de boi (como os que prova no bar Valadares), que o sanduíche de mortadela do Mercadão é o máximo (a anfitriã desta parte teve que fingir que adorava), que a feijoada nasceu com escravos e pobres (lendas que lhe venderam), que peixe enrolado em folha de bananeira se conserva mais (uma teoria dele mesmo), e que é normal não se ver comida italiana aqui.
Mas isso importa pouco para o programa. Ele mostra comida, sim, mas o melhor de tudo é menos a comida e mais a atmosfera que capta de forma ácida e aguçada. São Paulo, diz ele, é feia, selvagem, é um lugar onde milionários sobrevoam impassíveis a miséria. No entanto, tem as pessoas, um caldo de culturas (e comidas) que valem a visita.
É mais um documentário sobre a cidade do que sobre a gastronomia. Tem um dos pontos altos ao mostrar os momentos de lazer da brigada do Leopolldina (restaurante da Daslu) e contrastar sua vida de churrascos e peladas com a pose empertigada do momento em que servem a afetada clientela. Não dá para perder.