São Paulo, terça-feira, 02 de setembro de 2008

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Dance na Bienal

Casey Spooner, da dupla electro Fischerspooner, fala sobre o show que fará na abertura da Bienal de SP e comenta a fusão e o conflito entre arte e entretenimento

Matthu Placek/Divulgação
O DJ e ex-estudante de performance Casey Spooner, da dupla Fischerspooner

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma das questões que norteia a 28ª Bienal de São Paulo é quando arte se transforma em entretenimento em mostras de grande porte, como a própria Bienal. Essa reflexão estará personificada na abertura do evento com o duo norte-americano de música electro Fischerspooner, responsável pela performance que inaugura, para convidados, no dia 25 de outubro, a "Bienal do Vazio" ou "em vivo contato", como é seu nome oficial.
Criado há dez anos, o Fischerspooner é composto por dois ex-estudantes de performance, Casey Spooner e Warren Fischer, que não só se apresentam em espaços institucionais de arte, como o Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles ou o Deitch Projects, em Nova York, mas também em grandes festivais, como o Skol Beats, em São Paulo, há quatro anos. "Gostamos desses dois mundos, um porque encoraja a experimentação criativa, e o outro porque alcança grandes audiências", diz Spooner.
O show de abertura ocorrerá na praça no térreo da sede da Bienal, às 21h, e repetido na semana seguinte, nos dias 31 de outubro de 1º de novembro, às 19h, todos gratuitos. Antes, no dia 11 de outubro, o Fischerspooner participar do Helvetia Music Festival (hmf.art.br), em Indaiatuba, no interior de SP, mas atuando como DJ. Por e-mail, Spooner comentou as diferenças entre o mundo da arte e o universo pop.

 

FOLHA - Você esteve em São Paulo para conhecer a sede da Bienal. Quais são seus planos de ocupação?
CASEY SPOONER
- Nós vamos transformar o térreo do edifício num espaço de performance e apresentar um show espetacular por três noites.

FOLHA - É verdade que Marina Abramovic deve participar de seu show na abertura da Bienal? O que você acha do trabalho dela?
SPOONER
- Marina e eu estamos conversando sobre o que podemos fazer. Sou um grande fã do trabalho dela. Recentemente, eu a ouvi falando no MoMA numa conferência sobre performance. Ela foi magnética.
Ela falou sobre história da arte e da cultura com grande carisma, e eu saí de lá com mais respeito por ela. Ela é minha Oprah [Winfrey, apresentadora norte-americana], uma matriarca poderosa que aborda questões e preocupações que tenho como artista da performance. Ainda não sabemos o que vamos fazer, mas estou empolgado em trabalhar com ela e um pouco intimidado.

FOLHA - Como foi passar de um estudante de performance a um pop star?
SPOONER
- Eu não me vejo como um pop star. Eu sou um performer e o trabalho que eu faço no Fischerspooner [FS] é bastante específico. Eu sei que isso soa bobo e um pouco ridículo, mas, honestamente, é a forma que sempre atuei no FS.
O FS me permite revelar certos aspectos de minha personalidade. Houve um período, quando nós começamos a ter sucesso, que eu comecei a acreditar que era o personagem que estava encenando no palco. Rapidamente eu descobri que assim eu não era feliz. Eu gosto de ter certa distância e capacidade de me desprender do personagem. De certa forma, é isso que me permite avançar e ser mais radical no palco: se eu pensar que o que estou fazendo é como uma idéia e não como "eu".

FOLHA - À revista holandesa "Butt Magazine", você disse que "tudo se trata de criar a ilusão de excitação", em relação ao seu trabalho. Este pode ser o objetivo da arte?
SPOONER
- Já que o nosso projeto é sobre a dualidade e o conflito entre arte e entretenimento, a ilusão da excitação é uma parte necessária da equação.
Freqüentemente, esta ilusão se transforma em excitação real e esse é, no fim das contas, um dos nossos objetivos. Nós lutamos para borrar as linhas entre arte e entretenimento e levantar questões sobre contexto e significado.

FOLHA - Qual a diferença em criar no mundo da arte e no mundo do entretenimento?
SPOONER
- O processo de criação e apresentação no mundo da arte e no universo do entretenimento são muito diferentes. Eu tenho tido a oportunidade rara de participar desses dois modos de produção e ambos são desafiadores e poderosos em seus termos. Combinados, eu acredito que eles permitem criar um trabalho único e excitante. Ultimamente, o entretenimento funciona em sistemas de distribuição muito rígidos e o produto tem que ser definido claramente para ter apoio. No fim, o objetivo é sempre a venda.
Já quando temos a oportunidade de criar para o mundo da arte, é sempre uma experiência muito aberta e flexível, e a nossa imaginação é, literalmente, a única limitação, pois não se trata de vender algo, mas de idéias e os conceitos mais ambiciosos que se podem conceber. Trata-se de experimentar e como expandir os limites. Para nós, a situação ideal é desenvolver trabalhos criativos no mundo da arte para, então, distribui-los em canais de larga escala.


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