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CRÍTICA DRAMA
Peça exalta potência da tradição dramática
Com desempenho exato dos atores, "O Inverno da Luz Vermelha" cumpre com o que se propõe brilhantemente
LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA
O bom e velho drama retorna mais uma vez. "O Inverno da Luz Vermelha", peça do escritor norte-americano Adam Rapp, prova que
uma estrutura dramática
bem tecida ainda é uma fórmula infalível para se ter êxito ao contar-se uma história.
Aparentemente o texto é
inovador, pois, além de tocar
em temas da contemporaneidade, o faria de uma forma
pouco convencional.
Quando um dos personagens, o jovem escritor, descreve uma trama semelhante
àquela em curso na cena, refere-se à sua criação como
mal feita, indicando a pista
falsa que Rapp lança para revestir de novidade a sua própria peça.
EM BUSCA DA FELICIDADE
De fato, na melhor tradição dramática, ele coloca em
jogo três personagens agindo
na busca de sua felicidade.
O arco que os leva a descobrirem que não podem alcançar seus sonhos se encerra na
sentença Matteo amava Cristina que amava Davi. Ela sintetiza a impossibilidade de
eles vencerem a própria solidão e aproxima o seu drama
da chamada "peça bem feita", que, como um mecanismo de precisão, sempre atinge a sua meta.
Esse funcionamento "perfeito" depende de tipos bem
definidos: o moço impulsivo
e cruel, o travado e de bom
coração e a moça perdida,
mas romântica. Nos três casos não há espaço para ambiguidades e, até nos jogos de
máscara entre eles, as cartas
estão marcadas.
Os atores André Frateschi
e Rafael Primot e a atriz Marjorie Estiano oferecem um
desempenho exato para que
tudo se encaixe.
Sua maior qualidade é a
expressão natural de suas falas, que torna verossímeis
suas ações. A principal limitação, decorrência necessária do drama a que estão servindo, é o excesso de nitidez
de seus caracteres, levando-os a beirar a caricatura.
O destaque mais expressivo da peça é o cenário de Daniela Thomas, em diálogo
com o modelo espacial do
naturalismo e, como tal, operando maravilhosamente.
A mudança de ambiente
que demarca a passagem de
um ano na ação dramática é
um achado cênico e confirma
a participação decisiva das
diretoras -Monique Gardenberg e Michele Matallon- no
conjunto da obra.
"Inverno da Luz Vermelha" cumpre o que se propôs
brilhantemente. Exalta a potência narrativa da convenção dramática, ainda que esconda esse feito com ares de
rebeldia.
INVERNO DA LUZ VERMELHA
ONDE Teatro Faap (r. Alagoas,
903, tel. 0/xx/11/3662-7233)
QUANDO sex. e sáb., às 21h, dom.,
às 18h; até 26/9
QUANTO R$ 60
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
AVALIAÇÃO bom
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