São Paulo, quinta-feira, 02 de setembro de 2010

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CRÍTICA DRAMA

Peça exalta potência da tradição dramática

Com desempenho exato dos atores, "O Inverno da Luz Vermelha" cumpre com o que se propõe brilhantemente

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

O bom e velho drama retorna mais uma vez. "O Inverno da Luz Vermelha", peça do escritor norte-americano Adam Rapp, prova que uma estrutura dramática bem tecida ainda é uma fórmula infalível para se ter êxito ao contar-se uma história.
Aparentemente o texto é inovador, pois, além de tocar em temas da contemporaneidade, o faria de uma forma pouco convencional.
Quando um dos personagens, o jovem escritor, descreve uma trama semelhante àquela em curso na cena, refere-se à sua criação como mal feita, indicando a pista falsa que Rapp lança para revestir de novidade a sua própria peça.

EM BUSCA DA FELICIDADE
De fato, na melhor tradição dramática, ele coloca em jogo três personagens agindo na busca de sua felicidade.
O arco que os leva a descobrirem que não podem alcançar seus sonhos se encerra na sentença Matteo amava Cristina que amava Davi. Ela sintetiza a impossibilidade de eles vencerem a própria solidão e aproxima o seu drama da chamada "peça bem feita", que, como um mecanismo de precisão, sempre atinge a sua meta.
Esse funcionamento "perfeito" depende de tipos bem definidos: o moço impulsivo e cruel, o travado e de bom coração e a moça perdida, mas romântica. Nos três casos não há espaço para ambiguidades e, até nos jogos de máscara entre eles, as cartas estão marcadas.
Os atores André Frateschi e Rafael Primot e a atriz Marjorie Estiano oferecem um desempenho exato para que tudo se encaixe.
Sua maior qualidade é a expressão natural de suas falas, que torna verossímeis suas ações. A principal limitação, decorrência necessária do drama a que estão servindo, é o excesso de nitidez de seus caracteres, levando-os a beirar a caricatura.
O destaque mais expressivo da peça é o cenário de Daniela Thomas, em diálogo com o modelo espacial do naturalismo e, como tal, operando maravilhosamente.
A mudança de ambiente que demarca a passagem de um ano na ação dramática é um achado cênico e confirma a participação decisiva das diretoras -Monique Gardenberg e Michele Matallon- no conjunto da obra.
"Inverno da Luz Vermelha" cumpre o que se propôs brilhantemente. Exalta a potência narrativa da convenção dramática, ainda que esconda esse feito com ares de rebeldia.

INVERNO DA LUZ VERMELHA
ONDE Teatro Faap (r. Alagoas, 903, tel. 0/xx/11/3662-7233)
QUANDO sex. e sáb., às 21h, dom., às 18h; até 26/9
QUANTO R$ 60
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
AVALIAÇÃO bom


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