São Paulo, quinta-feira, 02 de setembro de 2010

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comida

Caça ao churro

Tradicional na Espanha, o churro mergulhado em chocolate ganhou versão recheada no Brasil; saiba onde encontrar o quitute, raro em casas dessa nacionalidade

LUIZA FECAROTTA
DE SÃO PAULO

Era início da década de 1950 quando o patriarca da família Farre veio da Espanha para o Brasil, com seus filhos. Um deles estava envolvido com a doçaria espanhola. Já craque no preparo de glacês, lançou aqui a maçã do amor, da qual tem patente desde 1959.
Depois de popularizá-la em parques e feiras, foi um pulo para iniciar também a venda do churro, tão típico de seu país de origem.
Era em feiras, no Horto Florestal e no zoológico, que a família de imigrantes fez o negócio crescer até a invenção de uma máquina apropriada para fazer o churro recheado -projeto bem-sucedido pelas mãos do pai mecânico, que fazia "máquinas de solda, rádios, telefones e encapava fios".
A massa levemente salgada e frita que era servida em espiral na Espanha, mergulhada em uma calda espessa de chocolate, aqui ganhou uma nova versão -polvilhada de açúcar e canela e recheada de doce de leite.
Em 1986 um dos irmãos, Antônio, passou a servir os quitutes na garagem de sua residência, na mesma rua em que hoje funciona A Casa do Churro, na região leste.
E é na vizinha Mooca que pretende ampliar seus domínios, ao lado do filho Leandro. Até outubro abrirão uma filial da loja, que deve ter ainda mais nove unidades na cidade com o mesmo conceito: cardápio variado de churros doces e salgados.

TRADIÇÃO
Nas redondezas do Palácio Real de Madri, jovens lotam uma churreria madrugada adentro, até o dia raiar. "Na Espanha, o churro não é uma sobremesa, é um acompanhamento de café da manhã", diz José Maria Rios, da família de proprietários do clássico espanhol Don Curro, na tentativa de justificar a ausência do quitute em locais dessa nacionalidade.
No eñe, no entanto, o doce faz parte da carta de sobremesas. Em versão mini, tem receita da massa trazida do país de origem, que passa por maquinário adequado para dar a forma cilíndrica.
"Tem de mexer muito a massa para não grudar no fundo da panela e para perder a umidade", diz o cozinheiro Francisco Farah. Caso contrário, é capaz de o preparo perder o formato durante a fritura. Ali, o churro chega à mesa sobre um fio de doce de leite, ao lado de espuma de banana-ouro.
Emanuel Bassoleil, chef do Skye, buscou deixar a massa o menos rica possível, como é servida na rua. "Quero agradar as pessoas com coisas simples. Comprei uma máquina de manivela, e os rapazes que vendem churro na rua me deram a receita."

DOCE DE LEITE
Na Adega Santiago, empenhada em servir uma cozinha típica da península ibérica, minichurros vêm na companhia de uma cumbuca de doce de leite.
"Doce de leite é uma base que serve para rechear doces, como bolos, biscoitos e até churros porque tem uma boa liga e se conserva por bastante tempo", diz o antropólogo Raul Lody, que acaba de lançar o "Dicionário do Doceiro Brasileiro" (ed. Senac; 328 págs.; R$ 70).
No livro organizado por ele há, inclusive, receitas do doce de leite, que surge no "universo lácteo das queijarias, das coalhadas". "São maneiras de aproveitamento do leite e o açúcar tem essa vocação de preservar alimentos."


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