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Haroldo de Campos
se vê em "Fausto"
enviado especial ao Rio
Fausto é um mito das antigas. A
lenda do homem que faz um pacto
com o demo surgiu no século 16
-Erwin Theodor afirma que, entre 1480 e 1540, viveu, na Alemanha, um indivíduo de "duvidosa
reputação" de nome Georg Faust.
Era o tempo das Reformas, de
Nicolau Copérnico, de um mundo
em crise. Vieram, depois, o Fausto
de Christopher Marlowe, de Lessinng e o mais notório deles, o de
Goethe.
Em 1952, o crítico, ensaísta, tradutor e poeta Haroldo de Campos
escreveu sua versão do mito,
"Graal: Retrato de Um Fausto
Quando Jovem".
É o ano em que ele, seu irmão
Augusto de Campos e Décio Pignatari formaram o grupo Noigrandes, abrindo campo para o movimento da poesia concreta.
Na verdade, Haroldo não disse
isso, nem Gerald Thomas confirmou. Mas dá para arriscar:
"Graal" é Haroldo de Campos a
escolher entre dois caminhos, o do
previsível e o da vanguarda, conforto se contrapondo com idealismo, a norma em guerra com o futuro.
Em tal encruzilhada, está um comerciante a oferecer dinheiro e dinheiro a Graal (Fausto), vivido por
Bete Coelho.
Tensão
Uma constante tensão ronda o
espetáculo. Burocratas (ou jornalistas ou vendedores de uma loja
de departamento) estão com blocos de anotações controlando arquivos (ou notícias ou estoques).
São vigiados por um ser dominador, que invade a cena e agride
aquele que errou. Tal ser manca,
fuma, lembra o próprio diretor
Gerald Thomas, ou Antunes Filho,
ou é apenas um guru, o ideal.
A arte proposta por Thomas e
Haroldo é múltipla, dessacralizada. Interpreta-se como quer. Palavras são diamantes, com diversas
faces e que, sob a luz, geram um
arco-íris.
Ambos estão há anos em guerra
com os manuais, as limitações impostas pelo dito gosto popular.
Ambos viveram intensamente a
opção do rompimento, de decompor para compor.
Graal, ao nascer, diz: "Eu me repito, um sopro nas tumbas do
tempo". Fausto é um mito que
não morre.
"Detesto as poesias vivas e as
línguas mortas", diz o comerciante. "Diamante é diamante, só me
interessam os negócios", completa.
Lúcifer tenta corromper Graal.
Existe este caminho, o de fazer arte
comercial. Existem as palavras fáceis, os truques.
"Eles te repudiam, não te reconhecem, ouve a vox populi, vê se
há lugar para ti?", pergunta o cão.
Diante do público, Graal se define. "Eu não faço, eu me em si
mesmo, em mim eu mesmo", diz
solenemente, encontrando seu caminho.
(MRP)
Peça: Graal: Retrato de Um Fausto Quando
Jovem
Quando: hoje, sexta e sábado, 21h;
domingo, 19h; segunda a quinta, 12h30 e
21h
Onde: Teatro Carlos Gomes (praça
Tiradentes, 19, centro, Rio de Janeiro, tel.
021/232-8701)
Quanto: R$ 12 (estudantes, idosos e classe
pagam meia)
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