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MÚSICA
Um dos maiores em seu segmento, cantor americano executará canções brasileiras nos shows no Bourbon Street
Mark Murphy personifica a sobrevida do jazz vocal
EDSON FRANCO
EDITOR DE VEÍCULOS E CONSTRUÇÃO
Dá para contar nos dedos de
uma mão os cantores de jazz contemporâneos que têm relevância.
Pois bem, Mark Murphy, 71, o
"indicador" desse grupo restrito,
sobe hoje ao palco do Bourbon
Street, em show que integra a série
Diners Jazz.
Não é do feitio dele jogar confete sobre a própria cabeça. Mas, na
hora de citar as grandes vozes
contemporâneas, os músicos do
estilo fazem coro para louvar o
cantor e citá-lo como influência.
E a modéstia faz com que algumas criaturas recebam as luzes
que seriam do criador. "Kurt
Elling [cantor norte-americano
de 35 anos] é um dos meus protegidos. Só que ele acaba roubando
as minhas oportunidades de trabalho", disse Murphy, por telefone, em tom de brincadeira.
Mas a falta de espaço para o jazz
vocal até nos EUA é coisa séria.
Tanto que, apesar do reconhecimento desde 1961 -quando lançou o LP "Rah", o sexto da sua
carreira-, o cantor se viu obrigado a procurar "asilo" na Europa
no final daquela década.
"Não chegaria a dizer que os europeus entendem a minha música
melhor do que meus compatriotas, mas o fato é que muitos discos
meus só são encontrados em versões britânicas, belgas, holandesas e austríacas."
De volta aos EUA na década seguinte, ele assumiu o status de
músico respeitado por seus pares
e de dono de uma platéia seleta,
mas restrita. "Esse é um problema
mundial. Canto apenas para os
reais aficionados do jazz."
Para afunilar ainda mais o acesso a sua obra, Murphy é adepto e
difusor dos vocalises (técnica de
criar e cantar letras sobre composições que foram concebidas como instrumentais).
Se por um lado essas músicas
são terreno fértil para que ele espalhe a sua exuberância vocal, por
outro desperta a ira dos jazzófilos,
resistentes à audição de melodias
originalmente executadas por
trompete, saxofone ou piano.
Primeiro standard
Murphy começou a lapidar seus
dotes vocais em casa, reproduzindo o que ouvia sair das bocas do
pai e da mãe, ambos cantores.
"Depois de um tempo, minha
mãe parou, mas meu pai cantou
até morrer, aos 57 anos."
Veio de casa também o primeiro contato com o jazz. Dessa vez,
uma tia ensinou o menino a cantar seu primeiro standard, "Lullaby in Rhythm".
Depois, além das "aulas" que teve em discos de gente como Mel
Tormé (1925-99) e Joe Williams
(1918-99), Murphy passou a incorporar em seu repertório a música brasileira. Tanto que "Desafinado" faz parte de seu primeiro
disco, "Meet Mark Murphy". Hoje ele se diz numa fase mais argentina, em que vem explorando a
música de Astor Piazzola.
Para ajudar a diminuir a distância que separa a voz dos demais
instrumentos, passou a ter aulas
de piano. "Ainda toco, mas você
não iria gostar de ouvir. Uso mais
para compor."
Apesar de ter lançado em agosto
passado o CD "Memories of
You", Murphy diz que é impossível prever qual será o mote principal do repertório de hoje.
"Mas estou querendo cantar algumas músicas brasileiras. Para
tanto, aproveito a nossa conversa
para pedir licença às platéias daí."
Para ajudá-lo na empreitada,
sobem ao palco Misha Piatigorsky (piano), Hans Dieter Glawischnig (baixo) e Gilad Dobreck
(percussão).
MARK MURPHY. Show. Onde: Bourbon
Street Music Club (r. dos Chanés, 127,
Moema, São Paulo, tel. 0/xx/11/5095-6100). Quando: hoje, às 21h. Quanto: de
R$ 65 a R$ 95.
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