São Paulo, segunda-feira, 02 de outubro de 2006

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Crítica

"Naufrágo" relativiza valores da vida

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Robinson Crusoé da globalização, o Tom Hanks de "Náufrago" (Telecine Emotion, 22h) interessa sobretudo pela caracterização inicial que lhe dedica Robert Zemeckis.
Ele é um orgulhoso funcionário do Fedex ou algo assim, empresa cujo orgulho é nunca perder a hora, entregando sua mercadoria no prazo devido. No mais, estamos na Rússia, depois que ruiu o império soviético.
Então, Hanks, com seu sorriso, tem mais de um orgulho. O de ser funcionário, primeiro, mas também o de ser um americano ensinando os métodos americanos, o modo de ser americano, aos bárbaros. E o centro desse modo de ser é a eficiência.
Essa caracterização inicial determina pelo menos metade do interesse do que vem a seguir. Seu avião cai, ele sobrevive, porém isolado numa ilha desertíssima, tendo de descobrir os menores expedientes de sobrevivência.
Ele era o homem para quem o tempo era tudo. Subitamente, a idéia de duração torna-se supérflua. A diferença entre um minuto, uma hora ou um dia é absolutamente insignificante. Eis aí um homem que tem a vida pela frente. A vida e nada mais.
Robert Zemeckis nos chama, com este filme, ao relativo do mundo. No momento de supremo triunfo do império americano, quando caiu em pedaços seu último rival, ele nos lembra de quanto são frágeis as coisas, em particular as sólidas.


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