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Crítica
"Naufrágo" relativiza valores da vida
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Robinson Crusoé da globalização, o Tom Hanks de "Náufrago" (Telecine Emotion, 22h)
interessa sobretudo pela caracterização inicial que lhe dedica
Robert Zemeckis.
Ele é um orgulhoso funcionário do Fedex ou algo assim,
empresa cujo orgulho é nunca
perder a hora, entregando sua
mercadoria no prazo devido.
No mais, estamos na Rússia,
depois que ruiu o império soviético.
Então, Hanks, com seu sorriso, tem mais de um orgulho. O
de ser funcionário, primeiro,
mas também o de ser um americano ensinando os métodos
americanos, o modo de ser
americano, aos bárbaros. E o
centro desse modo de ser é a
eficiência.
Essa caracterização inicial
determina pelo menos metade
do interesse do que vem a seguir. Seu avião cai, ele sobrevive, porém isolado numa ilha
desertíssima, tendo de descobrir os menores expedientes de
sobrevivência.
Ele era o homem para quem
o tempo era tudo. Subitamente,
a idéia de duração torna-se supérflua. A diferença entre um
minuto, uma hora ou um dia é
absolutamente insignificante.
Eis aí um homem que tem a vida pela frente. A vida e nada
mais.
Robert Zemeckis nos chama,
com este filme, ao relativo do
mundo. No momento de supremo triunfo do império americano, quando caiu em pedaços
seu último rival, ele nos lembra
de quanto são frágeis as coisas,
em particular as sólidas.
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