Mostra ocupa três andares do Sesc Paulista com obras de Detanico e Lain, Eder Santos e Carlos Adriano

SILAS MARTÍ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Numa cidade agora sem letreiros, a dupla de artistas Ângela Detanico e Rafael Lain construiu em plena avenida Paulista uma instalação luminosa com um alfabeto estranho. No hall de entrada do Sesc Paulista, "Braille Ligado" é o cartão de visitas da parte expositiva do 16 º Videobrasil, que começa hoje para o público.
Os gaúchos escrevem a frase "Entre o Não Mais e o Ainda Não" com lâmpadas fluorescentes, que ligam os pontos da linguagem Braille. "É uma escrita que quem tem visão não consegue enxergar", diz Detanico, que criou o texto pensando no tema do festival: limite. No mezanino, o artista Eder Santos projeta em painéis de 10 m de largura, do lado de fora do prédio, imagens de um homem nu nadando debaixo d'água: um aquário gigantesco que torna pública uma prisão azul.
Ao todo, são três andares de videoinstalações que desafiam, no conteúdo e na forma, os limites impostos pelo suporte escolhido. Enquanto o quinto e quarto andares são reservados para as obras de Marcel Odenbach e Peter Greenaway, o terceiro concentra a maior parte das novidades: instalações de Arthur Omar -com a inédita "Ciência Cognitiva dos Corpos Gloriosos"- e Carlos Adriano e obras da mostra competitiva.
O mineiro Marcellvs L. projeta na junção de duas paredes a imagem de uma corda na água, como se fosse enlaçá-las. Os agudos e graves do áudio são desviados para canais diferentes, criando uma pressão física sobre o observador.
O projeto arquitetônico, aliás, faz dos vazios do prédio alcovas isoladas, mas instala nas janelas véus que deixam passar a luz dos faróis na avenida: a cidade avança para dentro a todo instante -metáfora visual do limite entre arte e vida.