Talvez os fashionistas estejam cansados de ouvir falar em crise. Mas ela ainda está na pauta, sobretudo pela queda no consumo que está causando nos dois principais mercados da moda: EUA e Japão.
Na Itália, o assunto é bastante sério e pairou sobre a temporada primavera-verão 2010. Apesar do declínio das vendas de roupas italianas no primeiro semestre e das expectativas para o conjunto de 2009 (queda prevista de 6,5%), um clima de esperança soprou nos desfiles milaneses, com o retorno em bloco dos compradores estrangeiros -mais de 15 mil, segundo o jornal "La Reppublica", entre eles o pessoal das lojas de departamentos americanas.
Em Milão, a sensação de incerteza provocada pela recessão não ficou apenas nos números e nas conversas -ganhou forma na instigante coleção da Jil Sander, desenhada pelo estilista belga Raf Simons.
A ironia de Simons não teve limites. Ele se baseou em grande parte em silhuetas convencionais, mas em looks que pareciam rasgado, esfiapados, destroçados. O estilista disse ter se baseado em trabalhos de land art (de Christo, Matta-Clark), que lhe inspiraram certas texturas "erodidas", a paleta de cores (branco e terrosos) e a vaporosidade de certos looks.
Mas o desfile todo seguiu numa via de mão dupla, ora dialogando com land art, ora com o filme "Zabriskie Point" (1970), de Michelangelo Antonioni, mostrado em telas de vídeo na sala. Os aplausos do público coincidiram justamente com a cena em que ocorre a explosão de uma casa e a exibição em câmera lenta de milhares de produtos rebentados -sequência interpretada como um ataque à sociedade de consumo.
O intelectualismo e a ousadia de Simons, porém, foram exceção na semana de Milão. Nem mesmo a Prada avançou muito no terreno movediço dos conceitos. As melhores marcas milanesas se apoiaram em formas seguras, buscando looks versáteis e pragmáticos, embora sedutores, como nas ótimas coleções da Marni e da Missoni - esta última abrirá a sua primeira loja no Brasil em novembro.


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