São Paulo, sexta-feira, 02 de outubro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

11º FESTIVAL DE CINEMA DO RIO

Bianchi troca provocação por tristeza

Diretor do controverso "Cronicamente Inviável" surgiu amansado em festival para exibir "Inquilinos", filme em "tom menor"

Roteiro assinado em parceria com Beatriz Bracher enfoca família que tem a rotina alterada pela chegada de vizinhos


ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

Sergio Bianchi subiu ao palco do Cine Odeon com passos calmos. Chamou equipe e atores. Não houve frase afiada. Não houve ironia. Alguns dos jornalistas presentes à première de "Inquilinos - Os Incomodados que se Mudem" cochicharam.
O que deu em Bianchi? O diretor dos controversos "Cronicamente Inviável" (2000) e "Quanto Vale ou É por Quilo" (2005), conhecido por atirar petardos contra tudo e todos, surgiu amansado. E com certa tristeza no olhar.
É assim também seu novo trabalho. Bianchi filmou sem o dedo em riste. Foi à periferia paulistana, mais especificamente à Vila Brasilândia, para contar uma história em tom menor. "Se me perguntam sobre o que é o meu filme, não sei responder. Não sei falar sobre esse filme", diz.
"Inquilinos" fecha o foco sobre uma bem estruturada família de classe média baixa que tem a rotina alterada pela chegada de novos vizinhos. O pai (Marat Descartes), que trabalha num entreposto de frutas e estuda à noite, protagoniza uma silenciosa perturbação. Trata-se de um filme de não acontecimentos. "Nossa pergunta era: "Como fazer um filme em que não acontece nada, mas parece, o tempo todo, que vai acontecer alguma coisa?'", define a escritora Beatriz Bracher, que fez o roteiro com o cineasta. "É um filme sobre a claustrofobia."
É, ainda, um filme sobre as pequenas coisas das quais abrimos mão no dia a dia, sobre os pequenos sacrifícios impostos pela violência à espreita. "Temos cada vez menos espaço, é como se faltasse ar", prossegue Bracher. Para traduzir essa sensação, Bianchi optou pela estética do "menos", com uma câmera quieta, que pouco se move.
"Eu não queria uma periferia suja", explica o diretor, atento a detalhes que, até aqui, pareciam passar ao largo de seus filmes. "Sempre fiz filmes sem roteiro, mas, de repente, comecei a ter vontade de ter um roteiro bem pensado, de poder trabalhar os atores", diz ele, que juntou um elenco de primeira.
"Também acho que voltei um pouco aos meus primeiros curtas, que eram estética pura. Depois é que fiquei viciado na provocação." Provocação que, neste momento, reverteu-se numa espécie de máscara que Bianchi não gosta de ter pregada à cara. "É sempre preciso ter o bizarro numa festa. Eu faço esse papel", conta, deixando a habitual ironia de lado. "Essa história de que sou briguento é um clichê."
O novo filme deve contribuir para desconstruir essa imagem. Em "Inquilinos", o desconforto não nasce da provocação. Ele está em outro lugar. "Tem uma tristeza, né?", pergunta, consciente da resposta. "Mas meu próximo filme será um musical alegre", provoca, incorrigível.

A jornalista ANA PAULA SOUSA viaja a convite do Festival do Rio.



Texto Anterior: Teatro: Guru fanático alicia mulheres em nova peça de Bortolotto
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.