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11º FESTIVAL DE CINEMA DO RIO
Bianchi troca provocação por tristeza
Diretor do controverso "Cronicamente Inviável" surgiu amansado em festival para exibir "Inquilinos", filme em "tom menor"
Roteiro assinado em parceria com Beatriz Bracher enfoca família que
tem a rotina alterada pela chegada de vizinhos
ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
Sergio Bianchi subiu ao palco
do Cine Odeon com passos calmos. Chamou equipe e atores.
Não houve frase afiada. Não
houve ironia. Alguns dos jornalistas presentes à première de
"Inquilinos - Os Incomodados
que se Mudem" cochicharam.
O que deu em Bianchi?
O diretor dos controversos
"Cronicamente Inviável"
(2000) e "Quanto Vale ou É por
Quilo" (2005), conhecido por
atirar petardos contra tudo e
todos, surgiu amansado. E com
certa tristeza no olhar.
É assim também seu novo
trabalho. Bianchi filmou sem o
dedo em riste. Foi à periferia
paulistana, mais especificamente à Vila Brasilândia, para
contar uma história em tom
menor. "Se me perguntam sobre o que é o meu filme, não sei
responder. Não sei falar sobre
esse filme", diz.
"Inquilinos" fecha o foco sobre uma bem estruturada família de classe média baixa que
tem a rotina alterada pela chegada de novos vizinhos. O pai
(Marat Descartes), que trabalha num entreposto de frutas e
estuda à noite, protagoniza
uma silenciosa perturbação.
Trata-se de um filme de não
acontecimentos. "Nossa pergunta era: "Como fazer um filme em que não acontece nada,
mas parece, o tempo todo, que
vai acontecer alguma coisa?'",
define a escritora Beatriz Bracher, que fez o roteiro com o cineasta. "É um filme sobre a
claustrofobia."
É, ainda, um filme sobre as
pequenas coisas das quais abrimos mão no dia a dia, sobre os
pequenos sacrifícios impostos
pela violência à espreita. "Temos cada vez menos espaço, é
como se faltasse ar", prossegue
Bracher. Para traduzir essa
sensação, Bianchi optou pela
estética do "menos", com uma
câmera quieta, que pouco se
move.
"Eu não queria uma periferia suja", explica o diretor,
atento a detalhes que, até aqui,
pareciam passar ao largo de
seus filmes. "Sempre fiz filmes
sem roteiro, mas, de repente,
comecei a ter vontade de ter
um roteiro bem pensado, de
poder trabalhar os atores", diz
ele, que juntou um elenco de
primeira.
"Também acho que
voltei um pouco aos meus primeiros curtas, que eram estética pura. Depois é que fiquei viciado na provocação."
Provocação que, neste momento, reverteu-se numa espécie de máscara que Bianchi não
gosta de ter pregada à cara. "É
sempre preciso ter o bizarro
numa festa. Eu faço esse papel",
conta, deixando a habitual ironia de lado. "Essa história de
que sou briguento é um clichê."
O novo filme deve contribuir
para desconstruir essa imagem.
Em "Inquilinos", o desconforto
não nasce da provocação. Ele
está em outro lugar. "Tem uma
tristeza, né?", pergunta, consciente da resposta. "Mas meu
próximo filme será um musical
alegre", provoca, incorrigível.
A jornalista ANA PAULA SOUSA viaja a convite
do Festival do Rio.
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