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CRÍTICA ROMANCE
Castello narra conflitos entre pai e filho à sombra de Kafka
MANUEL DA COSTA PINTO
COLUNISTA DA FOLHA
Segundo romance de José
Castello, "Ribamar" dá a ficha logo de saída: trata-se de
um livro sobre a relação entre
pai e filho escrito à sombra
da "Carta ao Pai", de Franz
Kafka, um devastador acerto
de contas com a figura tirânica de Hermann Kafka.
O narrador de "Ribamar"
parte de uma dupla identificação com Kafka. Por um lado, pinta a si mesmo como
um parente distante do anti-herói de "A Metamorfose":
"Sou uma barata que se esquiva pelo vão da porta. Sou
Gregor Samsa, a rastejar em
meu quarto".
Por outro, responde à
aversão que sente provocar
no pai com uma escrita igualmente aversiva (dispositivo
fundamental na prosa kafkiana). Ao relembrar os momentos terminais de Ribamar, descreve com impiedade: "Não vou adoçar nada:
seu corpo, murcho e disforme, me enoja".
O romance é narrado em
diferentes planos temporais,
deflagrados pelo episódio
em que um amigo do narrador encontra, num sebo,
uma edição da "Carta ao Pai"
que este dera de presente a
Ribamar -e que seu pai, como o de Kafka, desprezara.
Os capítulos se alternam
entre lembranças da infância, uma viagem que o narrador faz ao Piauí, para exumar
a história familiar, e meditações sobre o próprio livro,
que assumirá a forma de uma
carta ao pai defunto.
Tais sequências seguem
estrutura rigorosa: cada tema corresponde a uma nota
da canção de ninar "Cala a
Boca", com a qual o pai embalava o sono do filho -e cujo título é uma metáfora de silêncio e estranhamento.
Se esse esquema lembra
"Avalovara", de Osman Lins,
o que lateja em "Ribamar" é a
escrita de quem confronta
seus fantasmas para se reconciliar com eles: "O medo
de falar da semelhança confirma a semelhança. (...) A filiação, mesmo a mais odiosa,
é uma inclusão".
RIBAMAR
AUTOR José Castello
EDITORA Bertrand Brasil
QUANTO R$ 37 (280 págs.)
AVALIAÇÃO bom
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