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CRÍTICA 29ª BIENAL DE ARTES
Bienal volta a ser epicentro das artes plásticas
Apesar de contradições entre obras,
mostra reúne trabalhos excelentes
FABIO CYPRIANO
DE SÃO PAULO
"Há sempre um copo de
mar para um homem navegar." A 29ª Bienal de São
Paulo revela-se uma mostra
polifônica e aí reside sua força, e também sua fraqueza.
Em torno de arte e política
-questão historicamente relevante, mas que sem um foco torna-se ampla demais-
coexistem obras e propostas
bastante diversas, com nexos
difíceis de se compreender.
Numa exposição da dimensão do pavilhão da Bienal é compreensível que a curadoria, coordenada por Agnaldo Farias e Moacir dos Anjos, opte por criar distintos eixos, mas podem-se constatar
algumas contradições entre
as obras, o que provoca enfraquecimento do tema.
Ocorre, por exemplo, na
discrepância entre o que se
pode chamar de artistas "históricos" e contemporâneos.
As ações radicais, em sua
maioria dos anos 60 e 70, dos
argentinos Alberto Greco e
do Grupo de Artistas de Vanguarda, de Paulo Bruscky,
Lygia Pape e Hélio Oiticica,
entre outros, reduz a produção atual, com algumas exceções, a um esteticismo pueril.
FORA DE CONTEXTO
Afinal, como se pode entender nesse contexto obras
de artistas como Marcelo Silveira, David Cury ou Fernando Lindote, entre outros?
Essa abrangência, por demais generosa, não só enfraquece o tema como põe em
xeque a produção contemporânea, o que não parece ser a
intenção dos curadores.
Contudo, essa Bienal,
quando consegue realizar
diálogos autênticos entre
passado e presente, atesta
sua pertinência.
Foi assim com leitura livre
do "Bailado do Deus Morto",
de Flávio de Carvalho, um
dos artistas-chave da mostra,
com 50 atores do Teatro Oficina, no último domingo.
Quando Zé Celso, que dirigiu a ação, vestiu uma versão
do traje "New Look de Verão", de Carvalho, e esbravejou impropérios como metralhadora giratória, enquanto
seu grupo movia-se praticamente desnudo, ele injetou
um espírito anárquico e politicamente incorreto na Bienal, comportada demais.
Mas, felizmente, ele não é
exceção e, graças à polifonia
da mostra, há trabalhos excelentes e, por conta dos terreiros, especialmente os da performance, da literatura e do
cinema, há uma energia vibrante no pavilhão.
Assim, apesar de conceitualmente a Bienal ser muito
frágil, sua complexidade e
diversidade compensam a
falta de organicidade e tornam, novamente, o pavilhão
da Bienal o epicentro do pensamento artístico no pais.
29ª BIENAL DE SÃO PAULO
QUANDO sáb. à qua., das 9h às
19h, qui. e sex., das 9h as 22h; até
12/12
ONDE pavilhão da Bienal (parque
Ibirapuera, portão 3, tel. 0/xx/
11/5576-7600)
QUANTO grátis
AVALIAÇÃO bom
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