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"Ocidentais idealizam o cinema asiático"
Em visita ao Festival do Rio, o cineasta Im Sang-Soo comenta as dificuldades de fazer filmes na Coreia do Sul
Cineasta exibiu em Cannes "A Empregada", drama sobre luta de classes que foi fracasso de público em seu país
ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
Nos festivais internacionais de cinema, os asiáticos
tornaram-se um grupo hegemônico. Poderoso.
Não há seleção de Cannes,
Berlim ou Veneza que deixe
de incluir, em suas cobiçadas
mostras, filmes vindos de
países como China, Coreia do
Sul ou Hong Kong.
Como consequência, são inúmeros os realizadores,
produtores e jornalistas desses países que trafegam pelo
circuito do tapete vermelho.
Raras são as vezes, porém,
que algum desses nomes pisa no Brasil. "Não conheço
nenhum colega que tenha
vindo pra cá", diz, com uma
risadinha ritmada pela cabeça a balançar, o sul-coreano
Im Sang-Soo. "É longe, né?"
Presente às últimas edições de Cannes e Toronto,
com "A Empregada", e concorrente ao Leão de Ouro, em
Veneza, com "Uma Mulher
Coreana" (2003), Sang-Soo
voou 30 horas para chegar ao
Festival do Rio.
Enquanto, em Cannes, foi
ofuscado pelo conterrâneo
Lee Changdong, que ganhou
o prêmio de melhor roteiro
com o belíssimo "Poesia",
também programado no Rio,
aqui ele virou porta-voz do cinema asiático -que, a despeito de características comuns, é diverso como toda
arte que se preze.
GRITO ASIÁTICO
"Temos uma energia, uma
vontade de gritar", define o
cineasta. "Hollywood é só
negócio. A Europa já teve os
grandes mestres, os gênios, e
faz um cinema que não consegue se desvincular dessa
tradição. A Ásia está dizendo
o que nunca disse."
Em "A Empregada", com
mocinhas e vilãs de fazer inveja às personagens de Aguinaldo Silva, Sang-Soo usa
suspense e melodrama para
falar da luta de classes.
"Muita gente odeia o filme.
O adjetivo que eu mais ouvi
foi controverso", admite. Na
Coreia do Sul, a produção foi
um fracasso nas bilheterias.
"Percebo, em todo festival,
que vocês [ocidentais] idealizam um pouco o cinema asiático", diz. "Mas quem está lá
dentro não tem a mesma visão. Os filmes de arte têm
imensas dificuldades. O cinema coreano é dominado pelos grandes estúdios locais,
que querem histórias bobas,
ação. Nossos filmes interessam aos europeus."
Que o diga o tailandês Apichatptong Weerasethakul.
Palma de Ouro em Cannes,
com "Tio Boonmee que Pode
Recordar suas Vidas Passadas". Ele mal conseguia, ao
menos até o prêmio, lançar
seus filmes na terra natal.
A jornalista ANA PAULA SOUSA viajou a
convite do Festival do Rio
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