São Paulo, sábado, 02 de outubro de 2010

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"Ocidentais idealizam o cinema asiático"

Em visita ao Festival do Rio, o cineasta Im Sang-Soo comenta as dificuldades de fazer filmes na Coreia do Sul

Cineasta exibiu em Cannes "A Empregada", drama sobre luta de classes que foi fracasso de público em seu país

ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

Nos festivais internacionais de cinema, os asiáticos tornaram-se um grupo hegemônico. Poderoso.
Não há seleção de Cannes, Berlim ou Veneza que deixe de incluir, em suas cobiçadas mostras, filmes vindos de países como China, Coreia do Sul ou Hong Kong.
Como consequência, são inúmeros os realizadores, produtores e jornalistas desses países que trafegam pelo circuito do tapete vermelho.
Raras são as vezes, porém, que algum desses nomes pisa no Brasil. "Não conheço nenhum colega que tenha vindo pra cá", diz, com uma risadinha ritmada pela cabeça a balançar, o sul-coreano Im Sang-Soo. "É longe, né?"
Presente às últimas edições de Cannes e Toronto, com "A Empregada", e concorrente ao Leão de Ouro, em Veneza, com "Uma Mulher Coreana" (2003), Sang-Soo voou 30 horas para chegar ao Festival do Rio.
Enquanto, em Cannes, foi ofuscado pelo conterrâneo Lee Changdong, que ganhou o prêmio de melhor roteiro com o belíssimo "Poesia", também programado no Rio, aqui ele virou porta-voz do cinema asiático -que, a despeito de características comuns, é diverso como toda arte que se preze.

GRITO ASIÁTICO
"Temos uma energia, uma vontade de gritar", define o cineasta. "Hollywood é só negócio. A Europa já teve os grandes mestres, os gênios, e faz um cinema que não consegue se desvincular dessa tradição. A Ásia está dizendo o que nunca disse."
Em "A Empregada", com mocinhas e vilãs de fazer inveja às personagens de Aguinaldo Silva, Sang-Soo usa suspense e melodrama para falar da luta de classes. "Muita gente odeia o filme.
O adjetivo que eu mais ouvi foi controverso", admite. Na Coreia do Sul, a produção foi um fracasso nas bilheterias.
"Percebo, em todo festival, que vocês [ocidentais] idealizam um pouco o cinema asiático", diz. "Mas quem está lá dentro não tem a mesma visão. Os filmes de arte têm imensas dificuldades. O cinema coreano é dominado pelos grandes estúdios locais, que querem histórias bobas, ação. Nossos filmes interessam aos europeus."
Que o diga o tailandês Apichatptong Weerasethakul. Palma de Ouro em Cannes, com "Tio Boonmee que Pode Recordar suas Vidas Passadas". Ele mal conseguia, ao menos até o prêmio, lançar seus filmes na terra natal.


A jornalista ANA PAULA SOUSA viajou a convite do Festival do Rio


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