São Paulo, sexta, 2 de outubro de 1998

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"Pequenos" reforça a violência

MÔNICA RODRIGUES COSTA
Editora da Folhinha

O aparato técnico de "Pequenos Guerreiros" faz desse filme um "Toy Story" bélico. Os guerreiros são soldados e monstros que lutam entre si com uma fluência invejável por qualquer um que produz filmes de aventura para crianças.
As armas são feitas com sucata achada na garagem de um garoto que é o dono dos bonecos de ação e cujo pai tem uma loja de brinquedos quase falida.
Os bonecos foram criados em uma fábrica por um inventor que capturou a técnica de chips do Exército americano e a desenvolveu nos soldados do comando Elite. Os chips são capazes de aprender, e, o que seria uma luta lugar-comum de uma brincadeira infantil, torna-se uma guerra em que o que importa é vencer -e a fábrica de brinquedos ganhar dinheiro.
Os soldados lutam contra os Gorgonites, nascidos para perder. Os monstrinhos preferem se esconder a lutar e procuram um país.
"Pequenos Guerreiros" tem efeitos especiais variados, construídos com a experiência de Joe Dante, que dirigiu "Gremlins" -aventura de ficção científica imaginosa.
Mas o enredo é banal, trata das coleções de bonecos que alimentam a fantasia bélica dos meninos. A sofisticação técnica funciona para reforçar a idéia de um mundo em que a violência e a ganância são ingredientes obrigatórios.
O que fica do filme é a expectativa da repetição, pelas crianças espectadoras, da guerra vista na tela, pois elas vão sair do cinema e comprar os bonecos e a fita de game.
É curioso como o enredo de "O Fim da Violência" (1997), de Wim Wenders, mantém pontos em comum com a trama de "Pequenos Guerreiros". Ambos dizem respeito à indústria do entretenimento.
O primeiro enfoca um cientista e um produtor de filmes. O segundo, um inventor dentro de uma fábrica de brinquedos. Mas os dois filmes têm efeitos opostos. Wenders usa a fórmula dos filmes de violência para questioná-la. Dante incita sua exaltação. Quem está certo?
Por um lado, escola e família mal dão conta de discutir valores com as crianças, ainda que a filosofia educacional dos anos 90 esteja um pouco mais rígida.
Por outro, os limites da ética no cinema, na TV, nos outros meios de comunicação tornam-se cada vez mais elásticos. "Pequenos Guerreiros" perde a oportunidade de problematizar tudo isso.
²
Filme: Pequenos Guerreiros
Produção: EUA, 1998, 110 min
Diretor: Joe Dante
Quando: a partir de hoje, no Top Cine 2 e circuito




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