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TEATRO
Peça escrita pelo diretor de cinema Paulo Pélico estréia hoje no teatro Hilton em SP, dirigida por Bibi Ferreira
Espetáculo confronta criador e criatura
CRISTIANO CIPRIANO POMBO
free-lance para a Folha
"O Médico e o Monstro", "Frankenstein" e "Blade Runner" ganharam os livros, as telas do cinema e o sucesso tendo no enredo
uma fórmula comum: o confronto
entre o criador e a criatura.
Escrita pelo diretor de cinema
Paulo Pélico, com Bibi Ferreira assinando a direção, chega hoje ao
público a peça "Viva o Demiurgo -
Notícias de um Artista do Terceiro
Mundo", que repete no palco a fórmula das obras, confrontando
criador e criatura, ou melhor, escritor e seus personagens.
A trama gira em torno do jovem
escritor Anselmo Santos de Andrade, que após a frustrada tentativa de publicar sua obra -"Fome"- tenta adaptá-la a outras linguagens.
"A história não, mas o tema é autobiográfico. É um desabafo que
trata a dificuldade de fazer arte hoje", diz Pélico, que se baseou em
experiências pessoais.
Após o baque da primeira derrota -não publicar o livro-, Anselmo opta por levar a obra ao teatro.
Ao contrário dos filmes, em que
o drama e suspense imperam em
meio a um inevitável e mortal confronto entre o criador e a criatura,
a peça se desenrola em tom farsesco, dividida em dois planos: o real
e o imaginário.
Ao mesmo tempo em que se relaciona com as pessoas do seu cotidiano -plano real-, Anselmo
passa a conviver com os personagens de sua obra -cinco ao todo- e os impasses da criação.
Os problemas surgem quando,
ao adaptar o texto, o escritor sente
a necessidade de mexer na estrutura da obra e reduzir a participação
de alguns personagens em favor de
outros, tendo que lidar com os motins, ameaças e críticas dos personagens menos privilegiados.
Esperando surpreender logo no
início, segundo Bibi Ferreira, na
montagem "há crítica e infelicidade de um homem que responde a
elas com um humor brutal".
Além de contornar a situação no
plano imaginário, Anselmo tem
que enfrentar o dia-a-dia. Ao discordar de certas decisões, o escritor entra em choque com o encenador e a produtora da peça, que
vetam a montagem da obra.
A decepção leva o escritor a se
tornar um vendedor.
Porém, o instinto de criador/artista fala mais alto. Anselmo deixa
as vendas e decide transformar
"Fome" em um roteiro de cinema.
"Tudo é uma brincadeira, a começar pelos nomes. Demiurgo remete a um semideus, e o artista,
por criar, às vezes tem esse sentimento, mas é passível de verossimilhança. Já Anselmo mistura, no
nome, grandes artistas brasileiros:
Anselmo Duarte, Nelson Pereira
dos Santos, Oswald de Andrade
etc.", conclui Pélico.
²
Peça: Viva o Demiurgo
Quando: estréia hoje, às 21h; qui. e sex., às
21h; sáb., às 21h30; dom., às 20h
Onde: teatro Hilton (av. Ipiranga, 165, tel.
259-6508)
Quanto: R$ 20 e R$ 25 (sex. e sáb.)
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