São Paulo, sexta, 2 de outubro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TEATRO
Peça escrita pelo diretor de cinema Paulo Pélico estréia hoje no teatro Hilton em SP, dirigida por Bibi Ferreira
Espetáculo confronta criador e criatura

CRISTIANO CIPRIANO POMBO
free-lance para a Folha

"O Médico e o Monstro", "Frankenstein" e "Blade Runner" ganharam os livros, as telas do cinema e o sucesso tendo no enredo uma fórmula comum: o confronto entre o criador e a criatura.
Escrita pelo diretor de cinema Paulo Pélico, com Bibi Ferreira assinando a direção, chega hoje ao público a peça "Viva o Demiurgo - Notícias de um Artista do Terceiro Mundo", que repete no palco a fórmula das obras, confrontando criador e criatura, ou melhor, escritor e seus personagens.
A trama gira em torno do jovem escritor Anselmo Santos de Andrade, que após a frustrada tentativa de publicar sua obra -"Fome"- tenta adaptá-la a outras linguagens.
"A história não, mas o tema é autobiográfico. É um desabafo que trata a dificuldade de fazer arte hoje", diz Pélico, que se baseou em experiências pessoais.
Após o baque da primeira derrota -não publicar o livro-, Anselmo opta por levar a obra ao teatro.
Ao contrário dos filmes, em que o drama e suspense imperam em meio a um inevitável e mortal confronto entre o criador e a criatura, a peça se desenrola em tom farsesco, dividida em dois planos: o real e o imaginário.
Ao mesmo tempo em que se relaciona com as pessoas do seu cotidiano -plano real-, Anselmo passa a conviver com os personagens de sua obra -cinco ao todo- e os impasses da criação.
Os problemas surgem quando, ao adaptar o texto, o escritor sente a necessidade de mexer na estrutura da obra e reduzir a participação de alguns personagens em favor de outros, tendo que lidar com os motins, ameaças e críticas dos personagens menos privilegiados.
Esperando surpreender logo no início, segundo Bibi Ferreira, na montagem "há crítica e infelicidade de um homem que responde a elas com um humor brutal".
Além de contornar a situação no plano imaginário, Anselmo tem que enfrentar o dia-a-dia. Ao discordar de certas decisões, o escritor entra em choque com o encenador e a produtora da peça, que vetam a montagem da obra.
A decepção leva o escritor a se tornar um vendedor.
Porém, o instinto de criador/artista fala mais alto. Anselmo deixa as vendas e decide transformar "Fome" em um roteiro de cinema.
"Tudo é uma brincadeira, a começar pelos nomes. Demiurgo remete a um semideus, e o artista, por criar, às vezes tem esse sentimento, mas é passível de verossimilhança. Já Anselmo mistura, no nome, grandes artistas brasileiros: Anselmo Duarte, Nelson Pereira dos Santos, Oswald de Andrade etc.", conclui Pélico.
²

Peça: Viva o Demiurgo Quando: estréia hoje, às 21h; qui. e sex., às 21h; sáb., às 21h30; dom., às 20h Onde: teatro Hilton (av. Ipiranga, 165, tel. 259-6508) Quanto: R$ 20 e R$ 25 (sex. e sáb.)


Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.