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FREE JAZZ
"Band leader' americana apresenta-se no festival dias 15 e 16
Maria Schneider diz que quer ouvir música brasileira
CARLOS CALADO
especial para a Folha
Ela é a maior revelação do jazz
orquestral nos anos 90. Atração do
Free Jazz Festival, a compositora e
arranjadora norte-americana Maria Schneider trará sua big band
pela primeira vez ao Brasil. Os concertos acontecem nos dias 15 (Rio)
e 16 (São Paulo).
"Ainda não defini exatamente o
que vamos apresentar, mas não
posso deixar de tocar minhas peças mais pessoais, como "El Viento'
ou a suíte "Scenes from Childhood'. Também devo incluir alguma coisa de outros compositores", disse a "band leader" à Folha,
por telefone, de Nova York.
Segundo a regente, a orquestra
de 17 músicos estará completa, exceto pelo sax alto Tim Ries e pelo
pianista Frank Kimbrough, que serão substituídos. Entre os solistas,
ela menciona os saxofonistas Rick
Margitza e Rich Perry, a trompetista Ingrid Johnson e o trombonista
Rock Ciccarone.
Boa parte desses instrumentistas
tocou na Maria Schneider Orchestra durante cinco anos, sempre às
segundas-feiras, no clube de jazz
Visiones, em Nova York.
"O Visiones foi comprado pelo
Blue Note, no final do ano passado,
e virou um clube de rhythm &
blues. Agora tocamos uma vez por
mês no Birdland", diz a regente.
A interrupção da temporada semanal deixou saudades, mas acabou se mostrando benéfica, segundo a "band leader". "Tocar regularmente por cinco anos foi ótimo,
fez a banda se tornar um verdadeiro instrumento. Mas a interrupção
permitiu que eu viajasse mais."
Também trabalhando atualmente em seu terceiro álbum, Schneider conta que ainda está compondo. "O disco deve estar saindo no
próximo verão. Já era tempo", diz.
A maior novidade, para a compositora, é que essa atividade deixou de ser tão dolorosa. "Alguma
coisa aconteceu, mas não sei explicar. Compor não é fácil, e pode ser
algo assustador quando você está
começando. Mas desde que escrevi
uma peça para o Pilobolus Dance
Theater tudo tem sido mais fácil."
Ao contrário de outras mulheres
que atuam no universo do jazz
(hoje em número considerável),
Maria Schneider não tem queixas
do predomínio masculino.
"Sinto que sou uma exceção, talvez pelo fato de ser uma compositora e não uma instrumentista.
Acho que consegui criar um mundo musical próprio."
Schneider diz que vai aproveitar
sua primeira visita ao país para
descansar alguns dias. "É um sonho antigo. Quero ouvir muita
música por aí", diz, declarando-se
fã de João Gilberto, Rosa Passos,
Egberto Gismonti e Djavan, entre
vários músicos brasileiros. "Também quero aproveitar essa chance
para conhecer coisas novas", avisa,
dizendo-se bastante curiosa para
ouvir a Banda Mantiqueira.
A menção ao arranjador canadense Gil Evans, com quem trabalhou como assistente por três anos,
até sua morte (em 1988), ainda
provoca emoção. "É duro acreditar que Gil morreu há dez anos, por
que penso nele todos os dias. Tenho até um foto sua sobre o meu
piano. Talvez por isso não tenha
passado por minha cabeça fazer alguma homenagem pela morte dele. Seria algo doloroso", diz.
O contato com Evans, reconhece,
foi definitivo para sua concepção
musical. "Entre todos os compositores de jazz, Gil é o que consegue
tocar mais fundo no meu coração.
É algo semelhante ao que sinto ao
ouvir João Gilberto."
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