São Paulo, sexta, 2 de outubro de 1998

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FREE JAZZ
"Band leader' americana apresenta-se no festival dias 15 e 16
Maria Schneider diz que quer ouvir música brasileira

CARLOS CALADO
especial para a Folha

Ela é a maior revelação do jazz orquestral nos anos 90. Atração do Free Jazz Festival, a compositora e arranjadora norte-americana Maria Schneider trará sua big band pela primeira vez ao Brasil. Os concertos acontecem nos dias 15 (Rio) e 16 (São Paulo).
"Ainda não defini exatamente o que vamos apresentar, mas não posso deixar de tocar minhas peças mais pessoais, como "El Viento' ou a suíte "Scenes from Childhood'. Também devo incluir alguma coisa de outros compositores", disse a "band leader" à Folha, por telefone, de Nova York.
Segundo a regente, a orquestra de 17 músicos estará completa, exceto pelo sax alto Tim Ries e pelo pianista Frank Kimbrough, que serão substituídos. Entre os solistas, ela menciona os saxofonistas Rick Margitza e Rich Perry, a trompetista Ingrid Johnson e o trombonista Rock Ciccarone.
Boa parte desses instrumentistas tocou na Maria Schneider Orchestra durante cinco anos, sempre às segundas-feiras, no clube de jazz Visiones, em Nova York.
"O Visiones foi comprado pelo Blue Note, no final do ano passado, e virou um clube de rhythm & blues. Agora tocamos uma vez por mês no Birdland", diz a regente.
A interrupção da temporada semanal deixou saudades, mas acabou se mostrando benéfica, segundo a "band leader". "Tocar regularmente por cinco anos foi ótimo, fez a banda se tornar um verdadeiro instrumento. Mas a interrupção permitiu que eu viajasse mais."
Também trabalhando atualmente em seu terceiro álbum, Schneider conta que ainda está compondo. "O disco deve estar saindo no próximo verão. Já era tempo", diz.
A maior novidade, para a compositora, é que essa atividade deixou de ser tão dolorosa. "Alguma coisa aconteceu, mas não sei explicar. Compor não é fácil, e pode ser algo assustador quando você está começando. Mas desde que escrevi uma peça para o Pilobolus Dance Theater tudo tem sido mais fácil."
Ao contrário de outras mulheres que atuam no universo do jazz (hoje em número considerável), Maria Schneider não tem queixas do predomínio masculino.
"Sinto que sou uma exceção, talvez pelo fato de ser uma compositora e não uma instrumentista. Acho que consegui criar um mundo musical próprio."
Schneider diz que vai aproveitar sua primeira visita ao país para descansar alguns dias. "É um sonho antigo. Quero ouvir muita música por aí", diz, declarando-se fã de João Gilberto, Rosa Passos, Egberto Gismonti e Djavan, entre vários músicos brasileiros. "Também quero aproveitar essa chance para conhecer coisas novas", avisa, dizendo-se bastante curiosa para ouvir a Banda Mantiqueira.
A menção ao arranjador canadense Gil Evans, com quem trabalhou como assistente por três anos, até sua morte (em 1988), ainda provoca emoção. "É duro acreditar que Gil morreu há dez anos, por que penso nele todos os dias. Tenho até um foto sua sobre o meu piano. Talvez por isso não tenha passado por minha cabeça fazer alguma homenagem pela morte dele. Seria algo doloroso", diz.
O contato com Evans, reconhece, foi definitivo para sua concepção musical. "Entre todos os compositores de jazz, Gil é o que consegue tocar mais fundo no meu coração. É algo semelhante ao que sinto ao ouvir João Gilberto."



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