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DISCOS - LANÇAMENTOS
História da jovem guarda volta a ser contada
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
Os anos 60 festejam. Uma coleção de 20 discos da gravadora Sony
traz ao CD pela primeira vez títulos
originais dos anos jovem guarda
de Wanderléa, Leno e Lilian, Renato e Seus Blue Caps, Jerry Adriani,
Ed Wilson e The Sunshines.
As capas vêm adulteradas (apesar de reproduzidas nas contracapas dos encartes), emolduradas
por motivos psicodélicos -embora a jovem guarda nada tivesse em
comum com a estética psicodélica
que floresceu de 67 em diante.
Todos os títulos foram remasterizados, e cada CD contém duas
faixas-bônus -algumas são retiradas de compactos da época, e várias se repetem de disco para disco.
O único exemplar não-inédito
em CD do pacote é "Roberto Carlos em Ritmo de Aventura" (67),
do líder daquele que foi o movimento musical jovem por excelência dos anos 60 no Brasil.
Dele também vem a raridade
"Roberto Carlos Canta a la Juventud" (65), versão em espanhol do
LP "É Proibido Fumar" (64), logo
retirada de catálogo porque, segundo o coordenador do projeto,
Marcelo Fróes, o regime militar recém-implantado considerava subversivo cantar em espanhol.
"Corpo e Alma" (71), de Márcio
Greyck, é o alienígena da coleção,
já que o movimento se encerrou, a
rigor, em 1968, quando Roberto
Carlos interrompeu o programa
televisivo "Jovem Guarda".
Mais que tesouro para fãs da jovem guarda, a coleção se presta a
documento de época. Dá chance
de que se revisite a cultura popular
dos 60 pela via de seu segmento
mais comercial -guardadas as
proporções, algo como são hoje
axé music e pagode.
Como é frequente a fenômenos
mercadológicos de massa, seus artistas trouxeram como herança a
dificuldade de sustentar suas carreiras após o estouro inicial.
Nenhum deles foi convidado pela Sony a acompanhar a confecção
do projeto. Nenhum recebeu, até
hoje, exemplares de seus próprios
trabalhos relançados. A seguir, os
principais nomes relançados contam o que têm feito 30 anos após o
fecho do ciclo de juventude pop.
Wanderléa, 50 - Musa da jovem
guarda, a cantora mineira viajou
dos 70 em diante à MPB ("Wanderléa Maravilhosa", 72), à "música maldita" (foi das primeiras a
gravar Jorge Mautner e Walter
Franco), ao rock, aos climas de Egberto Gismonti, ao brega explícito.
"Não gravo há uns quatro, cinco
anos. Briguei o tempo inteiro para
fazer o que queria, hoje tenho um
estúdio de alta tecnologia, onde estou preparando repertório novo,
tranquila, do meu jeito", afirma.
Leno, 48 - O roqueiro potiguar
enfrentou resistências ao se separar de Lilian e tentar se desvincular
da imagem iê-iê-iê. Em 71, associou-se a Raul Seixas e criou "Vida
e Obra de Johnny McCartney", álbum de rock'n'roll censurado e
mantido inédito até 96 -quando
foi lançado pelo próprio Leno, em
esquema independente.
"Consegui lançá-lo pelo meu selo, Natal Records, em tiragem simbólica. Tenho editado coletâneas
minhas e de Leno e Lilian, e estou
em pleno processo de gestação de
um novo disco, que será meu primeiro inédito em oito anos. É pop-rock brasileiro, sem DJ, bateria eletrônica, pagode nem sertanejo."
Lilian, 48 - Ex-parceira de Leno,
a cantora carioca emplacou em 79
um hit solitário, "Sou Rebelde"
(composto pelo mago Paulo Coelho), que vendeu 800 mil cópias.
Depois, compôs para Sandra de Sá,
José Augusto, Zezé di Camargo e
Luciano, Sandy e Júnior.
"Estou fazendo meu primeiro
CD, só de versões de sucessos americanos dos anos 60 e 70. Li outro
dia que Paula Toller e Fernanda
Takai, do Pato Fu, são influenciadas por mim. Gostaria de convidá-las a participar do meu disco."
Renato Barros, 52 - O compositor carioca continua liderando
seus Blue Caps, com quem lançou
um CD de regravações em 97. "Não
é um disco muito importante para
nós. Nossa realidade é show", diz,
de Recife, onde cumpre temporada. "É um saco viver regravando,
queríamos mostrar um trabalho
novo. Não nos deixam inovar."
Ed Wilson, 53 - Irmão de Renato,
dos Blue Caps, fez só um LP de jovem guarda. Depois, gravou em inglês com o pseudônimo de Barry
Dean para trilhas de novelas da
Globo, produziu Sidney Magal, Peninha e Lilian, e compôs hits de rádio como "Chuva de Prata" (Gal
Costa gravou), "Pede a Ela" (Tim
Maia) e "Aguenta Coração" (José
Augusto).
Nos 90, tornou-se evangélico e já
lançou quatro discos gospel. "A
meta é chamar o homem para um
dia-a-dia dentro de um universo
espiritual. A proposta é pregar a
palavra de Deus. Sonho gravar
clássicos da MPB, como Cartola,
em linguagem pop, charm. Mas teria que começar tudo de novo."
Jerry Adriani, 51 - Ídolo romântico nos 60 e 70 e influenciador vocal de Renato Russo, o cantor paulista tem um disco pronto, em que
só canta rock brasileiro contemporâneo -de Lulu Santos, Legião
Urbana, Paralamas do Sucesso.
"Seria lançado pela Continental,
mas acabo de rescindir contrato.
Eles alegaram que estavam em situação difícil e disseram que não
iam mais fazer. Agora, estou em
entendimentos com outra empresa. Se Deus quiser, lanço até o final
do ano."
Roberto Carlos, 55 - Bem, esse
você já sabe.
²
Coleção: Jovem Guarda (20 CDs)
Lançamento: Sony
Quanto: R$ 15, cada CD, em média
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