São Paulo, sexta, 2 de outubro de 1998

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DISCOS - LANÇAMENTOS
História da jovem guarda volta a ser contada

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

Os anos 60 festejam. Uma coleção de 20 discos da gravadora Sony traz ao CD pela primeira vez títulos originais dos anos jovem guarda de Wanderléa, Leno e Lilian, Renato e Seus Blue Caps, Jerry Adriani, Ed Wilson e The Sunshines.
As capas vêm adulteradas (apesar de reproduzidas nas contracapas dos encartes), emolduradas por motivos psicodélicos -embora a jovem guarda nada tivesse em comum com a estética psicodélica que floresceu de 67 em diante.
Todos os títulos foram remasterizados, e cada CD contém duas faixas-bônus -algumas são retiradas de compactos da época, e várias se repetem de disco para disco.
O único exemplar não-inédito em CD do pacote é "Roberto Carlos em Ritmo de Aventura" (67), do líder daquele que foi o movimento musical jovem por excelência dos anos 60 no Brasil.
Dele também vem a raridade "Roberto Carlos Canta a la Juventud" (65), versão em espanhol do LP "É Proibido Fumar" (64), logo retirada de catálogo porque, segundo o coordenador do projeto, Marcelo Fróes, o regime militar recém-implantado considerava subversivo cantar em espanhol.
"Corpo e Alma" (71), de Márcio Greyck, é o alienígena da coleção, já que o movimento se encerrou, a rigor, em 1968, quando Roberto Carlos interrompeu o programa televisivo "Jovem Guarda".
Mais que tesouro para fãs da jovem guarda, a coleção se presta a documento de época. Dá chance de que se revisite a cultura popular dos 60 pela via de seu segmento mais comercial -guardadas as proporções, algo como são hoje axé music e pagode.
Como é frequente a fenômenos mercadológicos de massa, seus artistas trouxeram como herança a dificuldade de sustentar suas carreiras após o estouro inicial.
Nenhum deles foi convidado pela Sony a acompanhar a confecção do projeto. Nenhum recebeu, até hoje, exemplares de seus próprios trabalhos relançados. A seguir, os principais nomes relançados contam o que têm feito 30 anos após o fecho do ciclo de juventude pop.
Wanderléa, 50 - Musa da jovem guarda, a cantora mineira viajou dos 70 em diante à MPB ("Wanderléa Maravilhosa", 72), à "música maldita" (foi das primeiras a gravar Jorge Mautner e Walter Franco), ao rock, aos climas de Egberto Gismonti, ao brega explícito.
"Não gravo há uns quatro, cinco anos. Briguei o tempo inteiro para fazer o que queria, hoje tenho um estúdio de alta tecnologia, onde estou preparando repertório novo, tranquila, do meu jeito", afirma.
Leno, 48 - O roqueiro potiguar enfrentou resistências ao se separar de Lilian e tentar se desvincular da imagem iê-iê-iê. Em 71, associou-se a Raul Seixas e criou "Vida e Obra de Johnny McCartney", álbum de rock'n'roll censurado e mantido inédito até 96 -quando foi lançado pelo próprio Leno, em esquema independente.
"Consegui lançá-lo pelo meu selo, Natal Records, em tiragem simbólica. Tenho editado coletâneas minhas e de Leno e Lilian, e estou em pleno processo de gestação de um novo disco, que será meu primeiro inédito em oito anos. É pop-rock brasileiro, sem DJ, bateria eletrônica, pagode nem sertanejo."
Lilian, 48 - Ex-parceira de Leno, a cantora carioca emplacou em 79 um hit solitário, "Sou Rebelde" (composto pelo mago Paulo Coelho), que vendeu 800 mil cópias. Depois, compôs para Sandra de Sá, José Augusto, Zezé di Camargo e Luciano, Sandy e Júnior.
"Estou fazendo meu primeiro CD, só de versões de sucessos americanos dos anos 60 e 70. Li outro dia que Paula Toller e Fernanda Takai, do Pato Fu, são influenciadas por mim. Gostaria de convidá-las a participar do meu disco."
Renato Barros, 52 - O compositor carioca continua liderando seus Blue Caps, com quem lançou um CD de regravações em 97. "Não é um disco muito importante para nós. Nossa realidade é show", diz, de Recife, onde cumpre temporada. "É um saco viver regravando, queríamos mostrar um trabalho novo. Não nos deixam inovar."
Ed Wilson, 53 - Irmão de Renato, dos Blue Caps, fez só um LP de jovem guarda. Depois, gravou em inglês com o pseudônimo de Barry Dean para trilhas de novelas da Globo, produziu Sidney Magal, Peninha e Lilian, e compôs hits de rádio como "Chuva de Prata" (Gal Costa gravou), "Pede a Ela" (Tim Maia) e "Aguenta Coração" (José Augusto).
Nos 90, tornou-se evangélico e já lançou quatro discos gospel. "A meta é chamar o homem para um dia-a-dia dentro de um universo espiritual. A proposta é pregar a palavra de Deus. Sonho gravar clássicos da MPB, como Cartola, em linguagem pop, charm. Mas teria que começar tudo de novo."
Jerry Adriani, 51 - Ídolo romântico nos 60 e 70 e influenciador vocal de Renato Russo, o cantor paulista tem um disco pronto, em que só canta rock brasileiro contemporâneo -de Lulu Santos, Legião Urbana, Paralamas do Sucesso.
"Seria lançado pela Continental, mas acabo de rescindir contrato. Eles alegaram que estavam em situação difícil e disseram que não iam mais fazer. Agora, estou em entendimentos com outra empresa. Se Deus quiser, lanço até o final do ano."
Roberto Carlos, 55 - Bem, esse você já sabe.
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Coleção: Jovem Guarda (20 CDs) Lançamento: Sony Quanto: R$ 15, cada CD, em média


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