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29ª MOSTRA DE CINEMA
Após o êxito de "Nove Rainhas", filme de 2000, o diretor argentino Fabián Bielinsky lança "policial anômalo", que envolve crime, epilepsia e uma caçada na Patagônia
O dia da caça
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
O argentino Fabián Bielinsky,
46, estreou no cinema dando as
cartas. Seu primeiro longa, "Nove
Rainhas" (2000), fez tanto sucesso
que chegou a ser refilmado nos
EUA (como "171", em 2004).
A versão norte-americana do
filme em que dois pequenos vigaristas (Gastón Pauls e Ricardo Darín) tentam seu grande golpe
-roubar o valioso selo "Nove
Rainhas"- fracassou.
Melhor para Bielinsky. A expectativa pelo seu segundo título só
aumentou, durante os cinco anos
de espera, encerrados em setembro passado na Argentina, com o
lançamento de "El Aura" (a aura).
Na Mostra de São Paulo, o filme
tem hoje sua última exibição.
O novo longa de Bielinsky foi
selecionado pelo país vizinho para a corrida pelo Oscar de melhor
filme estrangeiro. Tenta uma vaga
entre os cinco que disputarão a
estatueta, assim como o Brasil espera classificar "2 Filhos de Francisco", de Breno Silveira.
"El Aura" é um filme tão peculiar que os críticos titubearam na
hora de encaixá-lo num gênero
cinematográfico. "Até para mim é
difícil classificá-lo", diz Bielinsky.
"Há elementos de policial, mas estão colocados de forma estranha,
dispersa, e o ritmo não é o habitual do gênero", cita, com razão.
Por enquanto, a definição que
mais agrada ao diretor é a de "policial anômalo". Aliás, na trama e
nos personagens de "El Aura",
"anomalias" não faltam.
O protagonista, vivido por Darín, não tem nome. Ou melhor,
não que se saiba. Com a omissão,
Bielinsky quis criar um paralelo
entre a situação do espectador
-"pessoas que olham no escuro"- e a trajetória do personagem na trama. "Ele percorre a história sem deixar marcas, pegadas.
Achei interessante que ele nunca
dissesse seu nome e que ninguém
o mencionasse."
"Ele" trabalha como taxidermista, portanto, de certa forma,
especialista em falsear a morte.
Após ser abandonado pela mulher, aceita o convite de um amigo
para escapar de Buenos Aires
num fim de semana prolongado,
indo caçar na Patagônia -em
princípio, animais.
Aos poucos, "ele" percebe que
há um plano criminoso em curso
no chalé em que se hospedaram.
Outra anomalia: o dono do local
espanca a mulher, 30 anos mais
jovem. O amigo "dele" fazia o
mesmo em sua casa.
Enquanto observa, de tempos
em tempos, "ele" tem a percepção
da realidade alterada. São os instantes que precedem suas convulsões epilépticas. É o momento
que ele define como "a aura".
Não há dúvida: o segundo filme
de Bielinsky não tem parentesco
com o primeiro. "Talvez até pelo
fato de que havia tanta expectativa [sobre o sucessor de "Nove Rainhas'], eu tenha feito um filme na
direção oposta", diz.
O cineasta afirma que, com a
mudança, desejava escapar de rótulos e embaralhar as expectativas
sobre seus filmes seguintes. "Não
quero ficar preso a um só tema ou
tipo narrativo." O que Bielinsky
gostaria é que, a partir deste momento do "jogo", "ninguém espere nada". O ideal do diretor para
seu terceiro filme seria que "as
pessoas apenas se sentassem no
cinema e dissessem: será como
"Nove Rainhas'? Como "El Aura'?
Ou como só Deus sabe?".
Da parte dos críticos, ele diz não
esperar mais unanimidades. "O
sucesso de "Nove Rainhas" não é
algo a que deva me acostumar.
Um filme que agrada a quase todo
mundo é estranho no cinema."
Na crítica argentina, "El Aura"
teve mais adeptos do que vozes
contrárias. Mas essas também se
fizeram ouvir. Normal, sobretudo
para um filme anômalo.
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