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"REALITY SHOW"
"Projeto 48" vê dificuldades de cineastas
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Se o formato "reality show"
pressupõe o registro do cotidiano,
em que as mazelas da vida ganham espaço privilegiado -em
português bem claro, gente quebrando a cara-, então, a rotina
de cineastas brasileiros rende
bons novelões de "realidade".
Tome-se como exemplo "Projeto 48", "reality" do canal pago
TNT que estréia hoje sua quarta e
nova edição. Nele, uma equipe de
três pessoas -desta vez, Raphael
Lemos da Fonseca, Diogo Ely de
Oliveira e Mariúcha Borges Pereira, estudantes de cinema da universidade Estácio de Sá, no Rio-
tem um prazo de 48 horas para
realizar seu curta-metragem.
A graça do programa -para
certo sadismo do espectador, claro- é ver os desafios que são impostos ao participantes, além da
corrida contra o tempo. E, aqui, o
apresentador Leandro Firmino
da Hora e a equipe do canal fazem
as vezes do produtor clássico que
impõe restrições à liberdade artística dos diretores novatos.
Nesta nova edição, o curta em
produção é "Jaz Aqui a Liberdade", que se passa no sertão nordestino, previsto para ser exibido
apenas no próximo dia 30. No filme, um casal pobre sofre com os
efeitos da seca quando é abordado por um grupo de cangaceiros.
Em troca de dinheiro e alimentação, a família aceita tornar cativa
uma moça seqüestrada. Os desafios impostos aos participantes do
"reality": transformar a premissa
original, um drama, em um suspense, além de incluir no roteiro o
mar e um terreiro de macumba.
Pegue qualquer diretor que se
aventure a fazer cinema no Brasil
que "Projeto 48" vai parecer brincadeira de criança. Prazos e remendos no roteiro já são praxe.
Junte-se a isso uma eterna luta
contra a própria realidade socioeconômica do país, as verbas reduzidas, os trâmites em busca de leis
de incentivo, o complexo de inferioridade em relação aos estrangeiros, o esquema de distribuição
falho, e teremos não apenas um
"reality", mas um drama que faz
chorar e que abriga chorões.
Projeto 48
Quando: hoje, às 19h, no TNT
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