PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O mais inusitado de "Sem Controle" é a utilização que faz do teatro como meio de viabilização de um filme de época. No longa, que se passa nos anos 2000, pacientes de um hospício atuam em peça que conta a história real de Manoel da Motta Coqueiro, cuja condenação à forca, em 1855, levou à extinção da pena de morte no Brasil.
Eduardo Moscovis é Danilo, diretor teatral, autor da biografia trágica de Motta Coqueiro e tão obcecado pelo tema que decide encenar a peça com os pacientes da clínica de sua amiga, Márcia (Vanessa Gerbelli, na melhor atuação do longa). No hospital, conhece a sensual Aline (Milena Toscano), rostinho de anjo mas o diabo em pessoa, e que será o gatilho do suspense pelo qual a história enveredará.
O filme utiliza-se de um estilo bem contemporâneo, com fotografia tonalizada, ritmo ágil, planos curtos captados em vários lugares da cena, uso de trilha incidental dissonante traduzindo os delírios psicológicos do protagonista (como no prólogo, quando Danilo, em surto, destrói tudo à sua volta).
Mas essa montagem coerente ao estado de espírito dos personagens acaba impossibilitando uma retenção de certas situações, como a relação entre Danilo e Aline, um tanto jogada em meio ao fluxo narrativo.
Por outro lado, é genial o desdobramento que "Sem Controle" ganha quando os pacientes, muito bem ensaiados por Danilo, misturam realidade e ficção e levam a sério seus papéis, encenando a peça numa fazenda antiga, com os figurinos de época. Uma falsa transposição ao passado, pois, na lógica do roteiro, é uma peça dentro da história contada que faz com que o longa verta-se num filme de época, ambientado no século 19. Uma idéia, no mínimo, iluminada, e que também alumia a estréia de Cris D'Amato na direção, com resultados um tanto falhos, mas bem promissores.