|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SAMBA-REGGAE
Sucesso nas paradas lusitanas, cantora faz primeira turnê no país com ingressos esgotados um mês antes
Daniela Mercury conquista Portugal
LUIZ ANTÔNIO RYFF
enviado especial a Lisboa
A mão se inverte. Quase 500 anos
depois de avistarem a Bahia e ocuparem o Brasil, os portugueses estão sendo conquistados por uma
baiana: Daniela Mercury.
Desde os Mamonas Assassinas a
música brasileira não tinha um sucesso igual em Portugal.
Disco duplo de platina, a cantora
baiana deve ser um dos quatro ou
cinco artistas que ultrapassarão a
marca dos 100 mil discos vendidos
em 97 no país -os outros devem
ser o português Paulo Gonzo, o
italiano Andrea Bocelli, o grupo
luso Delfins e as Spice Girls.
Carlos Pinto, presidente da Sony
portuguesa, espera que Daniela e
seu "Feijão com Arroz" ultrapasse
Gonzo, que vendeu 180 mil discos.
Por enquanto, o CD já vendeu 90
mil cópias, sendo que 80 mil nos
últimos quatro meses, quando a
cantora chegou ao primeiro lugar
nas paradas. E ela mantém o segundo posto há oito semanas.
O CD deixou os portugueses doidos para descobrir o que que a
baiana tem. Nessa primeira turnê
pelo país foi preciso dobrar o número de shows previstos. Eram
três, passaram a seis (três no Porto
e os outros em Lisboa). Os ingressos se esgotaram com quase um
mês de antecedência.
"A música brasileira teve grande
sucesso nos anos 80. Mas era restrita a um público adulto. Os jovens que gostam de Daniela ouvem Oasis e outros grupos de
rock", diz Pinto.
No primeiro dos três shows realizados em Lisboa, no sábado, no
Coliseu, isso se comprovou. O público era majoritariamente jovem.
"A música é alegre, tem movimento. E a voz dela é boa. Curtimos bué (gostamos muito)", disse
Eurico Mota, 21.
Às vezes o público é jovem demais. "Acho ela gira (legal). Dança bem, mexe-se muito e tem a cara gira (bonita)", diz Sara Faria, 8.
Mas havia até sexagenários na
platéia. "Sambei um bocadinho",
disse Amélia Ferreira, 65, 13 filhos.
Bahia
Daniela canta a Bahia -especificamente o Carnaval baiano, do
qual ela faz apologia. Pelo visto
funciona. "Este ano estive em Recife, mas o que quero é conhecer
Salvador", diz Margarida Alegria,
20, uma das dezenas de pessoas
que ficaram do lado de fora do Coliseu no sábado.
A reação dos portugueses comprova que não apenas "o baiano
branco e rico, ou de classe média,
quer dançar como negro", como
ela diz. "Temos uma coisa mais
solta e alegre do que os europeus",
avalia Daniela.
Ela acha que a língua ajuda. Mas
até certo ponto. "Ritmicamente é
como em qualquer outro lugar da
Europa", avalia.
A simplicidade de sua música é
outro ponto que ajuda a receptividade, segundo ela. "Não acho
ruim ser simples. Simplicidade
não quer dizer mediocridade", diz
Daniela , que não gosta de ver sua
música reduzida a algo para quadris e pés. "Eu sofro com isso. Minhas músicas têm letras interessantes, mas algumas pessoas não
percebem porque ela é dançante."
Ela já recebeu convite da MTV e
pensa em fazer um acústico. Mas
não agora. "Quem sabe as pessoas
prestam mais atenção nas letras?"
O jornalista Luiz Antônio Ryff viajou a convite
da gravadora Sony.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|