São Paulo, Quinta-feira, 02 de Dezembro de 1999


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TEATRO CRÍTICA
"Honra" não vai além da obviedade

NELSON DE SÁ
da Reportagem Local

Clichês, obviedade, simplista. Palavras assim vão se amontoando no próprio texto de "Honra", no que se apresenta quase como uma autocrítica, uma descrição da peça para si mesma.
Quase, porque tais expressões, que tratam da própria situação, dos personagens da história, parecem denunciar, por outro lado, um desejo da autora de retratar na peça precisamente o que é clichê, simplista. Chegam a indicar exercícios de dramaturgia, o que também se insinua no diálogo entrecortado, "mametesco".
As palavras recorrentes poderiam ter sido tomadas, então, como estímulos à criação.
O personagem de Regina Duarte, Norah, teria algo de verdadeiro em seu clichê da "esposa" abandonada aos 32 anos de casamento. O de Marcos Caruso, Guilherme, teria alguma revelação em sua óbvia crise de meia idade. E Cláudia (Carolina Ferraz) seria mais do que a amante arrebatada pelo homem mais velho.
Mas acaba a apresentação e o que ecoa incomodamente são algumas cenas penosas de ver, angustiantes em sua clicheria. Entre tantos, o diálogo de Cláudia e Sofia (Gabriela Duarte), a filha de Norah, é especialmente pobre: é, em tudo, do texto simplista à superficialidade das interpretações, uma cena de telenovela.
Aparentemente, na montagem, os personagens têm algo de paródias de seus intérpretes do "star system" nacional. Estão lá uma "Malu Mulher" às avessas, sua filha boazinha que sempre teve tudo, a atriz fatal que já se arriscou no jornalismo, até o escritor que não chegou a gênio.
Nem assim os atores acreditam nos papéis delineados por Joanna Murray-Smith. Os diálogos, com suas frases à moda de David Mamet, são pronunciados mecanicamente no mais das vezes. Fora um ou outro lampejo de Regina Duarte, sobretudo nos cortes cômicos, e Carolina Ferraz, quando num cinismo mais profundo, "Honra" traz bem pouco.
O drama de Guilherme está longe de ser natural à interpretação de Marcos Caruso; Regina Duarte escorrega outra vez pelo discurso feminista, ainda que indireto; e Carolina Ferraz simplesmente não tem segurança no palco, nesta sua estréia teatral.


Avaliação:   

Peça: Honra Texto: Joanna Murray-Smith Direção: Celso Nunes Elenco: Regina Duarte, Marcos Caruso, Carolina Ferraz e Gabriela Duarte Quando: ter. a qui., às 21h Onde: Teatro Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196, tel. 0/xx/11/258-3616) Quanto: R$ 30 e R$ 10 (nos postos da Apetesp)


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