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TEATRO CRÍTICA
"Honra" não vai além da obviedade
NELSON DE SÁ
da Reportagem Local
Clichês, obviedade, simplista.
Palavras assim vão se amontoando no próprio texto de "Honra",
no que se apresenta quase como
uma autocrítica, uma descrição
da peça para si mesma.
Quase, porque tais expressões,
que tratam da própria situação,
dos personagens da história, parecem denunciar, por outro lado,
um desejo da autora de retratar
na peça precisamente o que é clichê, simplista. Chegam a indicar
exercícios de dramaturgia, o que
também se insinua no diálogo entrecortado, "mametesco".
As palavras recorrentes poderiam ter sido tomadas, então, como estímulos à criação.
O personagem de Regina Duarte, Norah, teria algo de verdadeiro
em seu clichê da "esposa" abandonada aos 32 anos de casamento. O de Marcos Caruso, Guilherme, teria alguma revelação em
sua óbvia crise de meia idade. E
Cláudia (Carolina Ferraz) seria
mais do que a amante arrebatada
pelo homem mais velho.
Mas acaba a apresentação e o
que ecoa incomodamente são algumas cenas penosas de ver, angustiantes em sua clicheria. Entre
tantos, o diálogo de Cláudia e Sofia (Gabriela Duarte), a filha de
Norah, é especialmente pobre: é,
em tudo, do texto simplista à superficialidade das interpretações,
uma cena de telenovela.
Aparentemente, na montagem,
os personagens têm algo de paródias de seus intérpretes do "star
system" nacional. Estão lá uma
"Malu Mulher" às avessas, sua filha boazinha que sempre teve tudo, a atriz fatal que já se arriscou
no jornalismo, até o escritor que
não chegou a gênio.
Nem assim os atores acreditam
nos papéis delineados por Joanna
Murray-Smith. Os diálogos, com
suas frases à moda de David Mamet, são pronunciados mecanicamente no mais das vezes. Fora um
ou outro lampejo de Regina
Duarte, sobretudo nos cortes cômicos, e Carolina Ferraz, quando
num cinismo mais profundo,
"Honra" traz bem pouco.
O drama de Guilherme está longe de ser natural à interpretação
de Marcos Caruso; Regina Duarte
escorrega outra vez pelo discurso
feminista, ainda que indireto; e
Carolina Ferraz simplesmente
não tem segurança no palco, nesta sua estréia teatral.
Avaliação:
Peça: Honra
Texto: Joanna Murray-Smith
Direção: Celso Nunes
Elenco: Regina Duarte, Marcos Caruso,
Carolina Ferraz e Gabriela Duarte
Quando: ter. a qui., às 21h
Onde: Teatro Cultura Artística (r. Nestor
Pestana, 196, tel. 0/xx/11/258-3616)
Quanto: R$ 30 e R$ 10 (nos postos da
Apetesp)
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