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SHOW/CRÍTICA
Buena Vista é melhor no palco que no cinema
EDSON FRANCO
EDITOR DO TV FOLHA
Quem, motivado pelo filme
homônimo, foi anteontem à
casa paulistana Via Funchal para
ver o show do grupo cubano Buena Vista Social Club pôde constatar que uma coleção de músicas
vale por mil imagens. Muito mais
do que assistir a um grupo da terceira idade mostrando ainda ser
capaz de entreter, o que se viu foi
um tipo de música irresistível executado por quem melhor o faz.
Foram duas horas e meia que
passaram sem se deixar notar. Para isso contribuiu a configuração
do show. A impressão é que a platéia pagou -na porta, cambistas
pediam R$ 300 pelo ingresso-
para ver uma apresentação e acabou presenteada com quatro.
Tudo começou às 22h13, quando, ainda sem nenhuma das
maiores estrelas, o grupo tocou
uma peça livre, capitaneada por
um solo no contrabaixo de Orlando "Cachaíto" Lopez.
Só por entrar no palco amparado, o pianista Rubén González
provocou a primeira catarse, pequena, se comparada àquela que
ele proporcionou quando começou a tocar seu fraseado inquieto,
baseado em exercícios de piano
clássico. Essa primeira parte do
show foi mais instrumental. A
descarga (tipo de improvisação
cubana) deu o mote e chegou ao
paroxismo em "Chanchullo".
Às 22h50, o pianista deixou o
palco, que foi reconfigurado para
abrigar um naipe de metais. Foi
então que aconteceu o único momento dispensável, uma versão
melosa do standard "Somewhere
Over the Rainbow".
A recompensa veio a seguir.
Omara Portuondo entrou cantando "Dónde Estabas Tú?", e teve
início o melhor quarto do show.
Com o olhar perdido em um ponto qualquer do horizonte, ela extraiu toda a dor de boleros e guajiras, até o fecho com o clássico
"Quizás, Quizás". Omara deixou
o palco às 23h25 e foi substituída
pelo cantor Ibrahím Ferrer.
Como um time que já entra em
campo com o jogo ganho, ele
conquistou a platéia com o son
dançante "Marieta". Apesar de
rechear a sua parte do show com
boleros, o cantor conseguiu manter a Via Funchal concentrada.
O bis se fez inevitável após a saída de Ferrer, à 0h15. A banda, liderada por ele e González, executou uma versão arrebatadora de
"Dos Gardenias". Depois, Omara
voltou para o inevitável dueto
com Ferrer em "Silencio", aquela
em que ela chora no filme.
Terminado o show, à 0h37, ficou a certeza de que essa turma
setuagenária de músicos cubanos
descobriu o elixir da juventude.
Eis a fórmula: ouvir a música que
eles produzem estimula a vontade de viver um pouco mais.
Avaliação:
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