São Paulo, sábado, 02 de dezembro de 2000

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SHOW/CRÍTICA
Buena Vista é melhor no palco que no cinema

EDSON FRANCO
EDITOR DO TV FOLHA

Quem, motivado pelo filme homônimo, foi anteontem à casa paulistana Via Funchal para ver o show do grupo cubano Buena Vista Social Club pôde constatar que uma coleção de músicas vale por mil imagens. Muito mais do que assistir a um grupo da terceira idade mostrando ainda ser capaz de entreter, o que se viu foi um tipo de música irresistível executado por quem melhor o faz.
Foram duas horas e meia que passaram sem se deixar notar. Para isso contribuiu a configuração do show. A impressão é que a platéia pagou -na porta, cambistas pediam R$ 300 pelo ingresso- para ver uma apresentação e acabou presenteada com quatro.
Tudo começou às 22h13, quando, ainda sem nenhuma das maiores estrelas, o grupo tocou uma peça livre, capitaneada por um solo no contrabaixo de Orlando "Cachaíto" Lopez.
Só por entrar no palco amparado, o pianista Rubén González provocou a primeira catarse, pequena, se comparada àquela que ele proporcionou quando começou a tocar seu fraseado inquieto, baseado em exercícios de piano clássico. Essa primeira parte do show foi mais instrumental. A descarga (tipo de improvisação cubana) deu o mote e chegou ao paroxismo em "Chanchullo".
Às 22h50, o pianista deixou o palco, que foi reconfigurado para abrigar um naipe de metais. Foi então que aconteceu o único momento dispensável, uma versão melosa do standard "Somewhere Over the Rainbow".
A recompensa veio a seguir. Omara Portuondo entrou cantando "Dónde Estabas Tú?", e teve início o melhor quarto do show. Com o olhar perdido em um ponto qualquer do horizonte, ela extraiu toda a dor de boleros e guajiras, até o fecho com o clássico "Quizás, Quizás". Omara deixou o palco às 23h25 e foi substituída pelo cantor Ibrahím Ferrer.
Como um time que já entra em campo com o jogo ganho, ele conquistou a platéia com o son dançante "Marieta". Apesar de rechear a sua parte do show com boleros, o cantor conseguiu manter a Via Funchal concentrada.
O bis se fez inevitável após a saída de Ferrer, à 0h15. A banda, liderada por ele e González, executou uma versão arrebatadora de "Dos Gardenias". Depois, Omara voltou para o inevitável dueto com Ferrer em "Silencio", aquela em que ela chora no filme.
Terminado o show, à 0h37, ficou a certeza de que essa turma setuagenária de músicos cubanos descobriu o elixir da juventude. Eis a fórmula: ouvir a música que eles produzem estimula a vontade de viver um pouco mais.


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