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LIVROS/LANÇAMENTOS
"RETRATOS JAPONESES"
Donald Richie apresenta seu país adotivo, tão próximo, tão distante
AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Ninguém fez mais do que
Donald Richie, 76, para explicar para o Ocidente o Japão do
pós-guerra. Mais: talvez nenhum
autor não-japonês tenha ajudado
tanto os próprios japoneses a se
conhecerem nestes últimos 50
anos. Uma de suas principais
obras, "Retratos Japoneses - Crônicas da Vida Pública e Privada"
(Escrituras/Unesp), desembarca
agora no Brasil, em cuidada tradução de Lúcia Nagib, crítica de
cinema e articulista da Folha.
Um livro de tamanha sutileza
torna vulgar qualquer tentativa de
adjetivação. Americano de nascimento, no Japão desde 1947 como
membro da tropa de ocupação,
Richie lá chegou já escrevendo,
mais precisamente, datilografando, para o Exército.
Sua reputação estabeleceu-se
inicialmente ligada ao cinema.
Nos anos 60, publicou uma introdução até hoje valiosa à produção
japonesa. Richie tornou-se também diretor bissexto.
Nos últimos 30 anos, seus escritos estenderam-se para o conjunto da civilização japonesa. Até sobre comida e tatuagem este americano zen escreveu.
"Retratos Japoneses" é a jóia da
coroa. Decobri-o numa edição de
bolso em minha primeira viagem
a Tóquio, em 95. Em inglês, tinha
título muito mais enigmático e
excitante que os sucessivos:
"Geisha, Gangster, Neighbour,
Nun - Scenes from Japanese Life"
(Gueixa, Gângster, Vizinho, Freira - Cenas da Vida Japonesa). Era
um título que também captava
melhor o estilo cinematográfico
do conjunto de perfis.
O título brasileiro é uma combinação dos títulos de duas outras
edições: "Different People - Pictures of Some Japoneses" (Gente
Diferente - Retratos de Alguns Japoneses) e "Public People, Private
People" (Gente Pública, Gente
Privada). Solução eficiente, ainda
que menos provocante.
Richie desenvolve o mais americanos dos gêneros literários não-ficcionais, o perfil, concentrando-se sobre 54 personagens de sua
pátria adotiva. Interessam-no
tanto anônimos quanto célebres.
Ao contrário das regras de nossa
sociedade do espetáculo, a fama
aqui não estabelece hierarquias.
Mishima e um jovem garçom,
Kurosawa e um velho agônico, a
imperatriz Michiko e a beldade
achada na rua são todos coadjuvantes de um drama à moda Altman que tem o Japão como palco.
Os perfis de Richie são antes físicos para, então, alcançar o psicológico. Suas descrições têm rara
concretude. O "close" é o instrumento fundamental de sua escrita. Não procure uma visão geral
do Japão. Seu Japão é formado pelos habitantes com os quais conviveu e que agora nos devolve sob a
forma de prosa poética. Nunca o
Japão foi tão próximo e, ao mesmo tempo, tão distante.
Retratos Japoneses
Autor: Donald Richie
Tradução: Lúcia Nagib
Editora: Escrituras/Edunesp
Quanto: R$ 28 (256 págs.)
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