São Paulo, sábado, 02 de dezembro de 2000

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LIVROS/LANÇAMENTOS

"RETRATOS JAPONESES"
Donald Richie apresenta seu país adotivo, tão próximo, tão distante

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Ninguém fez mais do que Donald Richie, 76, para explicar para o Ocidente o Japão do pós-guerra. Mais: talvez nenhum autor não-japonês tenha ajudado tanto os próprios japoneses a se conhecerem nestes últimos 50 anos. Uma de suas principais obras, "Retratos Japoneses - Crônicas da Vida Pública e Privada" (Escrituras/Unesp), desembarca agora no Brasil, em cuidada tradução de Lúcia Nagib, crítica de cinema e articulista da Folha.
Um livro de tamanha sutileza torna vulgar qualquer tentativa de adjetivação. Americano de nascimento, no Japão desde 1947 como membro da tropa de ocupação, Richie lá chegou já escrevendo, mais precisamente, datilografando, para o Exército.
Sua reputação estabeleceu-se inicialmente ligada ao cinema. Nos anos 60, publicou uma introdução até hoje valiosa à produção japonesa. Richie tornou-se também diretor bissexto.
Nos últimos 30 anos, seus escritos estenderam-se para o conjunto da civilização japonesa. Até sobre comida e tatuagem este americano zen escreveu.
"Retratos Japoneses" é a jóia da coroa. Decobri-o numa edição de bolso em minha primeira viagem a Tóquio, em 95. Em inglês, tinha título muito mais enigmático e excitante que os sucessivos: "Geisha, Gangster, Neighbour, Nun - Scenes from Japanese Life" (Gueixa, Gângster, Vizinho, Freira - Cenas da Vida Japonesa). Era um título que também captava melhor o estilo cinematográfico do conjunto de perfis.
O título brasileiro é uma combinação dos títulos de duas outras edições: "Different People - Pictures of Some Japoneses" (Gente Diferente - Retratos de Alguns Japoneses) e "Public People, Private People" (Gente Pública, Gente Privada). Solução eficiente, ainda que menos provocante.
Richie desenvolve o mais americanos dos gêneros literários não-ficcionais, o perfil, concentrando-se sobre 54 personagens de sua pátria adotiva. Interessam-no tanto anônimos quanto célebres. Ao contrário das regras de nossa sociedade do espetáculo, a fama aqui não estabelece hierarquias. Mishima e um jovem garçom, Kurosawa e um velho agônico, a imperatriz Michiko e a beldade achada na rua são todos coadjuvantes de um drama à moda Altman que tem o Japão como palco.
Os perfis de Richie são antes físicos para, então, alcançar o psicológico. Suas descrições têm rara concretude. O "close" é o instrumento fundamental de sua escrita. Não procure uma visão geral do Japão. Seu Japão é formado pelos habitantes com os quais conviveu e que agora nos devolve sob a forma de prosa poética. Nunca o Japão foi tão próximo e, ao mesmo tempo, tão distante.

Retratos Japoneses
    
Autor: Donald Richie
Tradução: Lúcia Nagib
Editora: Escrituras/Edunesp
Quanto: R$ 28 (256 págs.)


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