São Paulo, sexta-feira, 02 de dezembro de 2005

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ÚLTIMA MODA

O jogo de Kuerten & Nakao

O que há em comum entre o estilista Jum Nakao e o tenista Gustavo Kuerten? O tênis, justamente. Eles não chegaram a jogar uma partida juntos, mas o estilista ainda tem esperanças de que isso aconteça. Fora o gosto pelo tênis, eles são muito diferentes em tudo. Nakao tem 39 anos, é baixo, um tanto circunspecto e meditativo. Kuerten, 26, é esguio e tem aquela ligeireza que todos conhecem.
Em 2004, Nakao fez um desfile histórico e polêmico na São Paulo Fashion Week, com roupas muito elaboradas, mas todas elas de papel. No final da apresentação, as modelos rasgaram as peças da coleção inteira, enquanto a platéia aplaudia (e alguns choravam). A apresentacão ficou registrada no belo livro "A Costura do Invisível" (ed. Senac), com imagens do trabalho e reflexões do estilista sobre o vazio, a incerteza e o efêmero. Nakao passava por uma crise financeira, e algo disso se refletiu na coleção, que tentava afrontar a fúria do mercado com a arte superior da costura.
Agora, voltou à cena. Foi o designer escolhido para criar a coleção da grife masculina Guga Kuerten, lançada na quarta-feira em Florianópolis, com a abertura da primeira loja da marca, de 550 m2, um desfile com muitos clones do tenista e uma grande festa.
O lançamento da grife custou R$ 6 milhões e foi arquitetado pelo consultor de produtos de luxo Carlos Ferreirinha, a convite da família Kuerten. O projeto prevê a abertura de lojas em outras capitais e vendas para o exterior. "Por sermos tão diferentes, Jum e eu, nosso trabalho acabou dando certo", disse Kuerten, no evento. "Jum deu um toque de classe a uma roupa despojada, como as que eu gosto de usar."
"Há um elo invisível entre Guga e eu, que é o fato de prezarmos a individualidade. Num mundo de simulacros, esta autenticidade é o mais importante", afirmou Nakao. "Não quero ser conhecido como o criador que fez roupas para rasgar. Fazer a coleção Guga Kuerten me deu a oportunidade de mostrar meu outro lado." O seu contrato com a grife tem duração de dois anos.
Kuerten conta que opinou várias vezes no resultado final, mas deixou o estilista livre para criar. "Tem uma camisa de listras que não é das minhas favoritas. Mas aprendi a pensar nos dois lados: no meu gosto e no dos outros."
Nakao foi transportado para um patamar bastante comercial e estilisticamente mais modesto do que aquele em que costumava transitar. Mesmo assim, sua coleção é um acerto, na maior parte das vezes. Ele conseguiu juntar com desenvoltura o streetwear e o surfwear, bem ao gosto de Kuerten, com certa elaboração sutil e sofisticada, sobretudo na alfaiataria. Jum foi também feliz nos jeans, que dominam a coleção.
Vestido com roupas de sua grife, Kuerten estava vagamente elegante durante o lançamento. "Gosto de estar bem vestido. Só não consegui dar uma forma legal ao meu cabelo", desabafou.

MUSAS DO VERÃO
Kim Basinger (de "8 Mile -Rua das Ilusões") e uma beldade com tempero tropical serão as estrelas da campanha do verão 2006 da Miu Miu, grife jovem da Prada. A loira e a atriz Camilla Belle, filha de mãe brasileira e pai americano, foram clicadas em Paris.

EMBALO
A Triton fez uma parceria com a agência Hypno DJs e vai lançar um CD, só para clientes, com trilha de 28 DJs brasileiros e estrangeiros.

Carlos Miele quer ganhar o mundo

Desde 2002, o estilista Carlos Miele deixou de desfilar suas coleções no Brasil. Estressado com as disputas que vinha travando no país e lhe valeram o epíteto de "bad boy da moda brasileira" (segundo a "Time"), resolveu se dedicar à carreira internacional. Há dois anos, abriu uma loja luxuosa em Nova York, passou a desfilar só nos EUA e conquistou o gosto de celebridades como a atriz Mena Suvari e a cantora Alicia Keys com a grife Carlos Miele. "Minha roupa está fazendo a mulher americana ficar mais sexy", diz, na sua nova loja em São Paulo.
No primeiro semestre de 2006, ele inaugura a sua filial de Paris, no chique Faubourg Saint-Honoré. Também vai levar sua grife para a Saks da Quinta Avenida, em Nova York. A meta é que Miele venda US$ 1 milhão em roupas, somente nessa loja, no ano que vem. No segundo semestre, pretende abrir a filial de Londres. Em 2007, a de Milão. "É o circuito que importa na moda."
No final dos anos 90, foi pioneiro em levar temas brasileiros às passarelas, além de convidar músicos radicais, como Hermeto Pascoal, e artistas de vanguarda para seus desfiles. São águas passadas. "Não quero estar nesta onda de Brasil, que logo vai passar. Quero ser visto como um designer internacional", diz, citando o exemplo do dominicano Oscar de la Renta e da venezuelana Carolina Herrera, que fizeram carreira nos EUA. Com Herrera e De la Renta, ele participa na semana que vem de um desfile no Museum of Fine Arts, em Houston.
Atualmente, Miele dispensa mais atenção à grife que leva seu nome do que à M. Officer, de onde vem o seu principal faturamento. No Brasil, suas roupas ainda fazem alguns torcerem o nariz, por considerá-las espalhafatosas. Mas ele não se importa. "A grife Carlos Miele já se sustenta sozinha", conta. Também quer dedicar mais tempo ao seu trabalho de videoartista e performer- marcado pelo experimentalismo. "Hoje, no Brasil, tenho mais amigos no mundo das artes do que no da moda", diz ele.

Calos nos pés e cabeça nas estrelas

Na jornada rumo ao título de top model, é preciso amadurecer cedo. Que o digam as 16 finalistas do concurso Super Model Brazil, da Ford. "Concentradas" durante uma semana, elas enfrentaram ensaios, fotos, calos nos pés e saudade da família.
A primeira regra é aprender a perder e seguir em frente. Gisele Bündchen, a top mais poderosa de todos os tempos, jamais venceu um concurso. A gaúcha Laiane Levcovich, 16, passou por sua primeira prova de fogo na última terça-feira, quando foi realizada a festa de premiação da competição, em São Paulo. Não ficou entre as seis primeiras, mas segurou as pontas. "Valeu a pena", disse, mesmo sabendo que logo mais espremeria suas longas pernas em um ônibus e encararia 20 horas de viagem até Guaíba. Em meio a lágrimas e estômagos embrulhados, brilhou a estrela da paulista Augusta Lucchini, de Jundiaí, 1,78 m, cabelos castanhos e olhos verdes. De perto, uma menina tímida. Na passarela, uma profissional de apenas 13 anos.


ALCINO LEITE, com Viviane Whiteman - ultima.moda@folha.com.br

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