São Paulo, domingo, 02 de dezembro de 2007 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/"O Bandido da Luz Vermelha" "Faroeste sobre o 3° Mundo" une o popular e o erudito Filme, em cópia restaurada, mistura sinceridade, comédia, violência e anarquia
SÉRGIO RIZZO CRÍTICO DA FOLHA O personagem ao qual se refere é um dos mais antológicos do cinema brasileiro, o protagonista de "O Bandido da Luz Vermelha" (1968), primeiro e exuberante longa-metragem de Rogério Sganzerla (1946-2004), cuja versão restaurada sai agora em DVD com extras que incluem entrevistas - com a atriz Helena Ignez, o fotógrafo Carlos Ebert e o crítico da Folha Inácio Araujo - e o curta de estréia do diretor, "Documentário" (1966). Interpretado por Paulo Villaça (1936-1992), que foi também co-produtor do filme, o fora-da-lei Luz - como os policiais o chamam, enquanto o procuram de forma atabalhoada, mais perseguidos do que perseguidores, por uma São Paulo que ainda parecia romântica, mesmo no crime - simboliza momento de intensa criatividade, batizado de "cinema marginal", na passagem dos anos 60 para os 70. O termo pode suscitar equívocos, ao menos em relação a "O Bandido...". Inspirado na biografia de João Acácio Pereira da Costa e lançado com 40 cópias, tornou-se um grande sucesso de público. O trailer original, incluído entre os extras do DVD, o apresenta como "totalmente rodado no bairro mais perigoso de São Paulo, a Boca do Lixo" (liberdade poética-geográfica, pois diversas seqüências foram filmadas fora dali). Era, continuava o trailer, o filme "mais sensacional da temporada". Combinação rara continua a distingui-lo, quatro décadas depois: é indiscutivelmente popular, compromissado com o entretenimento do público, mas é também inequivocamente erudito, em seu habilidoso manuseio de diversas heranças, traduzido por inquietos procedimentos de câmera e montagem. Filme de cinema Um "filme de cinema", como os créditos iniciais o apresentam, nos vários sentidos da expressão. Ou, ampliando o espectro à moda Orson Welles, o realizador mais admirado por Sganzerla, uma espécie de "radiotelecinejornal", na definição do crítico Jairo Ferreira (1945-2003), que acompanhou a montagem de "Bandido" enquanto trabalhava na finalização de "As Libertinas" na sala ao lado. "Godard e Oswald de Andrade, cultura e "mass media", Chacrinha e Marshall McLuhan, invenção e antropofagia", resume Ferreira em ensaio sobre o diretor publicado em "Cinema de Invenção". No lançamento de "O Bandido...", o próprio Sganzerla, também crítico de cinema, divulgou um manifesto, cuja íntegra está nos extras do DVD. "Meu filme é um far-west sobre o III Mundo", diz. "Isto é, fusão e mixagem de vários gêneros. Do documentário, a sinceridade (Rossellini); do policial, a violência (Fuller); da comédia, o ritmo anárquico (Sennett, Keaton); do western, a simplificação brutal dos conflitos (Mann)." "O Bandido..." é tudo isso, e muito mais. O BANDIDO DA LUZ VERMELHA Distribuidora: Versátil Avaliação: ótimo Texto Anterior: Nas lojas Próximo Texto: Crítica/"Paprika": Animação mistura sonho e culpa com cores berrantes Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |