|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
A volta de Dom Salvador
Pianista e compositor paulista, radicado nos EUA, grava seu primeiro disco no país depois de 35 anos e fará jam no Rio
CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Ele ainda se emociona ao recordar as homenagens que recebeu, três anos atrás, em São
Paulo e no Rio de Janeiro. Em
duas concorridas noites do festival Chivas Jazz, o pianista e
compositor Dom Salvador interrompeu um afastamento de
30 anos dos palcos brasileiros.
"Foi inesquecível. Como estava ausente do país por tanto
tempo, eu não esperava encontrar tanta receptividade", diz o
músico de 68 anos, que se mudou para os Estados Unidos,
em 1973, já reconhecido como
líder de originais trios de samba-jazz e da banda Abolição,
pioneira nas fusões do samba
com o soul e o funk.
A carreira de Salvador decolou em São Paulo, no início dos
anos 60, em boates como a
Baiúca e a Cave. Em 1964, seu
piano já brilhava nas jam sessions do Beco das Garrafas, lendário reduto da bossa nova, no
Rio. Gravações e shows ao lado
de astros da MPB, como Elis
Regina, Jorge Ben e Edu Lobo,
aumentaram seu prestígio.
Hoje, depois de passar as festas de final de ano em Rio Claro, cidade do interior paulista
onde nasceu, Salvador se prepara para quebrar um hiato
ainda maior em sua carreira.
No próximo dia 8, no Rio, o pianista vai começar a gravar seu
primeiro disco no Brasil em 35
anos. O último foi o inovador
"Som, Sangue e Raça" (1971),
seu único álbum com a banda
Abolição.
Nessas novas gravações, Salvador pretende resgatar o projeto do Rio 65 Trio, cultuado
grupo de samba-jazz que formou com o baterista Édison
Machado (morto em 1990) e o
baixista Sérgio Barroso, em
meados dos anos 60. De vida
curta, esse trio só gravou dois
LPs, que chegavam a ser vendidos por centenas de dólares até
2003, quando foram finalmente editados em CD.
Na nova versão do trio, que
volta a incluir o baixo acústico
de Sérgio Barroso, Salvador
contará com a participação de
Duduka da Fonseca, baterista
que também vive nos EUA. "O
Duduka é um seguidor do Édison Machado. Só ele poderia
substituí-lo", justifica o pianista e líder, que planeja gravar
nesse álbum apenas composições próprias.
Jam session no Rio
Antes do início das gravações, Salvador fará uma apresentação no palco da megastore
Modern Sound, no Rio, na próxima sexta-feira. "Deve virar
uma jam session, um negócio
informal. Vou chamar os amigos", avisa ele.
Em Nova York, onde mora,
Salvador toca cinco vezes por
semana no River Café.
"O público é meio conservador, mas eu toco um pouco de
tudo lá", diz, ressaltando que,
após 29 anos como pianista
dessa casa, conseguiu ter liberdade total para misturar música brasileira aos tradicionais
standards de jazz.
"Tenho sentido que as pessoas estão cada vez mais interessadas na música brasileira.
Até porque não está acontecendo nada de novo na música norte-americana", afirma, mencionando o Zinc Bar, outro ponto
de referência dos fãs da música
brasileira em Nova York, no
bairro de Greenwich Village.
Ali se apresenta, há quase uma
década, o pianista gaúcho Cidinho Teixeira, com o qual Salvador lançou em 2006 o álbum
"Ancestors", ainda inédito no
Brasil.
Choro
Outro motivo recente de alegria para Salvador foi saber que
o Choro Ensemble, grupo de
músicos brasileiros que há anos
interpretam nos EUA um repertório centrado no choro, está preparando um álbum só
com choros de sua autoria.
"Misturo muita coisa em minhas composições: samba, maxixe, cateretê, baião", comenta
o pianista, que costuma se referir à sua música como "afro-brazilian jazz" (jazz afro-brasileiro). "Lá [nos Estados Unidos] tudo é marketing. E quando você fala em música brasileira para um norte-americano, a
primeira coisa em que eles pensam é bossa nova ou samba.
Quero que eles entendam que
minha música não é só isso."
Texto Anterior: Horário nobre na TV aberta Próximo Texto: Frases Índice
|