São Paulo, domingo, 03 de janeiro de 2010

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Por um lugar na tela

Disputa pela atenção dos espectadores durante os jogos da Copa e limitação do circuito 3D desafiam cinema em 2010; chefões dos grandes estúdios revelam suas estratégias

Divulgação
O novo "Fúria de Titãs", refilmagem de longa de 1981

ANA PAULA SOUSA
DA REPORTAGEM LOCAL

Gritos de gol, entre donos de cinema, nem sempre são comemorados. Quando se tem a seleção brasileira em campo, a festa em frente à TV costuma significar, também, menos ingressos vendidos. "Em junho e julho, não lançaremos nenhum filme", diz o presidente da Warner no Brasil, José Carlos Oliveira. O branco no calendário da Warner começa e termina com a Copa do Mundo, que vai de 11 de junho a 11 de julho.
"Começamos a discutir isso com a matriz há dois anos", diz o executivo. Mas, de olho nas mulheres que dão de ombros para os jogos, a empresa decidiu lançar "Sex and the City 2" na última semana de maio.
A diretora-presidente da Fox, Patrícia Kamitsuji, também teve de desfiar, para os norte-americanos, seu rosário de justificativas para mudar algumas datas de estreia. "A gente explica pra eles que a Copa são 30 dias de Super Bowl", diz, referindo-se à final da liga de futebol americano. "Knight and Day", comédia de ação protagonizada pelos atores Tom Cruise e Cameron Diaz, por exemplo, estreia em 2 de julho nos EUA, mas foi transferido, no Brasil, para o dia 16.
"Todo mundo se rende aos números. Hoje, os Estados Unidos respondem por apenas 35% do faturamento de um filme. O resto vem dos outros territórios", diz Oliveira. Ou seja, os estúdios, hoje, topam mudar a data em nome do desempenho do filme na América Latina ou na Europa.
Mas os filmes também dão lá os seus dribles. "Em 1994, lançamos "O Rei Leão" e "Quatro Casamentos e um Funeral" na Copa, e os dois foram muito bem porque ficaram sozinhos", lembra Rodrigo Saturnino Braga, diretor-geral da Columbia. "Claro que não lançamos um filme de ação nessa época, mas uma comédia romântica pode ser ideal." A companhia colocará em cartaz, em 25 de junho, "Toy Story 3". Mas, desta vez, o filme distribuído pela Disney não correrá sozinho pela tela.
"Shrek para Sempre" estreia em 9 de julho. "Por que não lançar um filme infantil durante a Copa? Criança não vê jogo", aposta Jorge Peregrino, vice-presidente da Paramount. "É o último final de semana. Se o Brasil estiver na final, faço pré-estreias em horários diferentes das partidas", calcula.

Boca de urna
Saído da Copa, o mercado terá de enfrentar, ainda, as eleições. Apesar de o voto não concorrer com os filmes, o custo da publicidade, nesse período, tende a aumentar. "A mídia fica mais cara. Mas, ao contrário de julho, esse é um período em que, normalmente, há menos filmes sendo lançados. Então, não nos preocupa", diz Oliveira. "A única coisa que temos que fazer é planejar a campanha de TV com mais antecedência", concorda Braga.
Saído de um ótimo ano, com cerca de 110 milhões de ingressos vendidos e R$ 1 bilhão arrecadados, o mercado de cinema brasileiro tem como principal meta, em 2010, não dar passos para trás. "Podemos repetir o crescimento de 10%", diz Peregrino. "Acho difícil cair. Se cair, é pelo efeito Copa."

Congestionamento
Além de futebol, outra pedra no caminho dos grandes estúdios é a limitação do circuito 3D. Estão apontadas 16 estreias no formato. São mais filmes do que meses. E, se no caso dos filmes tradicionais, isso se resolve com a ocupação de várias salas ao mesmo tempo -às custas da expulsão dos independentes do circuito-, no caso do 3D não há solução.
Apenas dois complexos, o Eldorado, em São Paulo, e o Pier 21, em Brasília, têm dois projetores 3D. Nos outros cem cinemas, há apenas uma sala adaptada ao formato. Ou seja, para entrar um filme, outro tem de ceder seu lugar na fila.
"O potencial do 3D não vai se cumprir porque os filmes terão que sair de cartaz, mesmo que estejam indo bem", diz Kamitsuji, da Fox, que lançou, em 2009, "A Era do Gelo 3" e "Avatar". "Vai começar um congestionamento", antevê Oliveira.
"O risco é haver uma canibalização, ou seja, que o 3D atrapalhe as salas tradicionais. Talvez tenha gente que prefira esperar esvaziar a sala em 3D do que ver em 2D", avalia Peregrino. "Avatar" é um indicativo disso. O 3D responde por 40% da bilheteria do filme.


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