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Por um lugar na tela
Disputa pela atenção dos espectadores durante os jogos da Copa e limitação do circuito 3D desafiam cinema em 2010; chefões dos grandes estúdios revelam suas estratégias
Divulgação
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O novo "Fúria de Titãs", refilmagem de longa de 1981
ANA PAULA SOUSA
DA REPORTAGEM LOCAL
Gritos de gol, entre donos de
cinema, nem sempre são comemorados. Quando se tem a seleção brasileira em campo, a festa
em frente à TV costuma significar, também, menos ingressos
vendidos. "Em junho e julho,
não lançaremos nenhum filme", diz o presidente da Warner no Brasil, José Carlos Oliveira. O branco no calendário
da Warner começa e termina
com a Copa do Mundo, que vai
de 11 de junho a 11 de julho.
"Começamos a discutir isso
com a matriz há dois anos", diz
o executivo. Mas, de olho nas
mulheres que dão de ombros
para os jogos, a empresa decidiu lançar "Sex and the City 2"
na última semana de maio.
A diretora-presidente da
Fox, Patrícia Kamitsuji, também teve de desfiar, para os
norte-americanos, seu rosário
de justificativas para mudar algumas datas de estreia. "A gente explica pra eles que a Copa
são 30 dias de Super Bowl", diz,
referindo-se à final da liga de
futebol americano. "Knight
and Day", comédia de ação protagonizada pelos atores Tom
Cruise e Cameron Diaz, por
exemplo, estreia em 2 de julho
nos EUA, mas foi transferido,
no Brasil, para o dia 16.
"Todo mundo se rende aos
números. Hoje, os Estados Unidos respondem por apenas
35% do faturamento de um filme. O resto vem dos outros territórios", diz Oliveira. Ou seja,
os estúdios, hoje, topam mudar
a data em nome do desempenho do filme na América Latina
ou na Europa.
Mas os filmes também dão lá
os seus dribles. "Em 1994, lançamos "O Rei Leão" e "Quatro
Casamentos e um Funeral" na
Copa, e os dois foram muito
bem porque ficaram sozinhos",
lembra Rodrigo Saturnino Braga, diretor-geral da Columbia.
"Claro que não lançamos um
filme de ação nessa época, mas
uma comédia romântica pode
ser ideal." A companhia colocará em cartaz, em 25 de junho,
"Toy Story 3". Mas, desta vez, o
filme distribuído pela Disney
não correrá sozinho pela tela.
"Shrek para Sempre" estreia
em 9 de julho. "Por que não lançar um filme infantil durante a
Copa? Criança não vê jogo",
aposta Jorge Peregrino, vice-presidente da Paramount. "É o
último final de semana. Se o
Brasil estiver na final, faço pré-estreias em horários diferentes
das partidas", calcula.
Boca de urna
Saído da Copa, o mercado terá de enfrentar, ainda, as eleições. Apesar de o voto não concorrer com os filmes, o custo da
publicidade, nesse período,
tende a aumentar. "A mídia fica
mais cara. Mas, ao contrário de
julho, esse é um período em
que, normalmente, há menos
filmes sendo lançados. Então,
não nos preocupa", diz Oliveira. "A única coisa que temos
que fazer é planejar a campanha de TV com mais antecedência", concorda Braga.
Saído de um ótimo ano, com
cerca de 110 milhões de ingressos vendidos e R$ 1 bilhão arrecadados, o mercado de cinema
brasileiro tem como principal
meta, em 2010, não dar passos
para trás. "Podemos repetir o
crescimento de 10%", diz Peregrino. "Acho difícil cair. Se cair,
é pelo efeito Copa."
Congestionamento
Além de futebol, outra pedra
no caminho dos grandes estúdios é a limitação do circuito
3D. Estão apontadas 16 estreias
no formato. São mais filmes do
que meses. E, se no caso dos filmes tradicionais, isso se resolve com a ocupação de várias salas ao mesmo tempo -às custas
da expulsão dos independentes
do circuito-, no caso do 3D não
há solução.
Apenas dois complexos, o Eldorado, em São Paulo, e o Pier
21, em Brasília, têm dois projetores 3D. Nos outros cem cinemas, há apenas uma sala adaptada ao formato. Ou seja, para
entrar um filme, outro tem de
ceder seu lugar na fila.
"O potencial do 3D não vai se
cumprir porque os filmes terão
que sair de cartaz, mesmo que
estejam indo bem", diz Kamitsuji, da Fox, que lançou, em
2009, "A Era do Gelo 3" e "Avatar". "Vai começar um congestionamento", antevê Oliveira.
"O risco é haver uma canibalização, ou seja, que o 3D atrapalhe as salas tradicionais. Talvez tenha gente que prefira esperar esvaziar a sala em 3D do
que ver em 2D", avalia Peregrino. "Avatar" é um indicativo
disso. O 3D responde por 40%
da bilheteria do filme.
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