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"MEMÓRIAS DE UMA GUEIXA"
O Oriente visto como filme teen estereotipado
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Aos olhos ocidentais,
gueixas são criaturas irreais, quase um alien de sonhos. Encarnam certo espírito
oriental que prevê a submissão
da mulher ao homem: com o
rosto pintado de branco, vivem
como fantasmas em um mundo à parte, nunca dentro nem
em sincronia com a realidade.
É fácil entender por que Steven Spielberg, cineasta sempre
interessado em extraterrestres
e histórias de abandono, se interessou em levar às telas o
best-seller "Memórias de uma
Gueixa" -no filme que entra
em cartaz hoje, ele é produtor.
Surgidas por volta do século
18 no Japão, as gueixas (algo
como "pessoa que vive da arte") são ao mesmo tempo atrizes e palco à disposição de homens da elite. Encarnam o imaginário da mulher perfeita,
uma obra de arte que se movimenta e existe para fazer os homens se sentirem mais importantes. São treinadas durante
anos para cantar, dançar, conversar e outros "ar", mas não
transar, por mais que seu mito
inclua a prostituição.
É, portanto, uma figura que
suscita especulações e fantasias, e é nesse espírito que o diretor Rob Marshall embarca
-ainda que lance explicações
didáticas. Predomina no filme
a visão estrangeira estereotipada sobre o Oriente, aqui sinônimo de povo misterioso, de beleza exótica e cheio de rituais.
Na história de Sayuri (Ziyi
Zhang), menina que é vendida
pelos pais no período entre
guerras e vai a uma casa de
gueixas, Marshall vê o Japão
como cenário para uma espécie
de novela de TV superproduzida, misturada com as cores e os
excessos da Broadway (seu filme anterior é "Chicago").
Claro, tudo é licença poética,
mas "Memórias de uma Gueixa" se constrói mais como um
típico filme teen americano de
escola. Todos os personagens
falam inglês, entre uma e outra
palavra em japonês. Hatsumomo (Gong Li), a gueixa top de
linha, gasta seu tempo azucrinando a pobre Sayuri; é particularmente constrangedora a
cena em que a garota vai pela
primeira vez à escola e se atrasa: no lugar da roupa de líder de
torcida, quimonos.
Muito mais revelador da cultura dos EUA do que da do Japão, no seu olhar estrangeiro
que se pretende multicultural e
condescendente, "Memórias"
embaralha ainda mais a questão racial ao provocar um incidente diplomático e reavivar
traumas históricos. No começo
da semana, o filme foi proibido
na China devido ao fato de atrizes chinesas interpretarem
gueixas -escolha considerada
ofensiva, já que o Japão fez barbáries na China em guerras.
Memórias de uma Gueixa
Memoirs of a Geisha
Produção: EUA, 2005
Direção: Rob Marshall
Com: Ziyi Zhang, Gong Li
Quando: a partir de hoje nos cines Vitrine, Kinoplex Itaim e circuito
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